Por Naveen Thukral e Julie Ingwersen
CINGAPURA/CHICAGO (Reuters) – Após um forte El Niño, o clima global está a caminho de uma transição para La Niña na segunda metade de 2024, um padrão que tipicamente causa mais chuva na Austrália, Sudeste Asiático e Índia e tempo seco nas regiões produtoras de grãos e oleaginosas nas Américas, disseram meteorologistas e analistas agrícolas.
Embora seja cedo demais para prever sua intensidade ou impacto nas colheitas, segundo os meteorologistas, a mudança para um fenômeno médio da La Niña, quando as águas na superfície do oceano esfriam na costa oeste tropical da América do Sul, está se aproximando.
“A grande maioria dos modelos meteorológicos está apontando para uma La Niña fraca na segunda metade do ano ou perto do último trimestre. Um em talvez 25 modelos mostra um La Niña forte”, disse Chris Hyde, meteorologista da Maxar, sediada nos Estado Unidos.
O El Niño do ano passado, após três anos de La Niña, provocou clima quente e seco na Ásia e fortes chuvas em partes das Américas que fortaleceram as projeções de produção agrícola na Argentina e nas planícies sul dos EUA.
A Índia, maior fornecedora de arroz do mundo, restringiu exportações do produto após uma monção fraca, enquanto a produção de trigo da segunda exportadora mundial, a Austrália, acabou sendo afetada. Plantações de óleo de palma e fazendas de arroz no Sudeste Asiático receberam menos chuvas do que o normal.
Uma La Niña pode reverter a situação.
“Hipoteticamente, a La Niña é obviamente muito boa para as colheitas australianas, mas depende muito de quando as chuvas caem ou não caem”, afirmou Ole Home, diretor de serviços de consultoria da corretora agrícola IKON Commodities em Sydney.
“A chuva precisa cair antes da plantação para que haja uma boa umidade no subsolo ou regularmente durante a estação de crescimento”.
Nos países produtores de arroz e óleo de palma no Sudeste Asiático, o clima úmido pode melhorar as colheitas, dizem analistas, e uma temporada normal de monções na Índia reforçaria a produção e os rendimentos agrícolas.
“Talvez para o sul da Índia possa haver um pouco de seca persistente, mas, para a grande maioria do país, — as regiões central e norte especialmente — chuvas um pouco acima do normal”, afirmou Hyde, da Maxar.
Meteorologistas dos EUA projetam a chegada de La Niña no fim do verão ou começo do outono do hemisfério norte.
“Quando chegamos na estação de crescimento, nossa precipitação no Cinturão do Milho é primariamente provocada por trovoadas”, afirmou o climatologista de Iowa, Justin Glisan. “Se La Niña chegar no fim de setembro, começo de outubro, pode ser benéfico”.
O início da La Niña em julho-setembro pode causar um outono seco no Cinturão do Milho, beneficiando agricultores norte-americanos ao acelerar a colheita, embora também possa baixar o nível das águas nos rios do Centro-Oeste, dificultando o movimento das barcas e reduzindo as pastagens.
“As expectativas em alguns casos são opostas ao que você veria com o El Niño”, disse Mark Brusberg, meteorologista chefe do Departamento de Agricultura dos EUA.
O Centro de Previsão do Clima do Serviço Meteorológico Nacional dos EUA emitirá sua previsão meteorológica para o hemisfério norte na quinta-feira. As projeções para El Niño/El Niña do departamento do clima do Japão estão marcadas para sexta-feira.
(Reportagem de Naveen Thukral, em Cingapura, e Julie Ingwersen, em Chicago; reportagem adicional de Peter Hobson, em Sydney, e Seher Dareen, em Bangalore)