O plantio de trigo no Sul do Brasil está muito próximo de ser concluído, após paralisação dos trabalhos por conta das chuvas no início do mês. Ao todo, na região devem ser plantados pouco mais 2,5 milhões de hectares da cultura, com uma produtividade média em torno de 3,1 kg/hectare, o que resulta em uma produção projetada em 8,1 milhões de toneladas.
No Rio Grande do Sul foi registrado o principal atraso, mas neste final de julho foi registrada retomada no ritmo. Segundo o Emater-RS, houve prosseguimento na semeadura e, na metade Oeste do Estado, pôde-se concluir o plantio. A operação foi retomada nas regiões em atraso, especialmente na metade Leste, em função da melhoria das condições climáticas. A área semeada aumentou 9% e alcançou 94% da projetada, que é de e 1.312.488 hectares, com produtividade média prevista de 3,1 kg/hectare.
Como explicou Alencar Rugeri, agrônomo da Emater/RS-Ascar, o Rio Grande do Sul tem como característica uma região noroeste mais quente, que planta antes, e a região nordeste mais fria, com o plantio mais tardio. De forma geral, por mais que o plantio tenha atrasado no estado, segue dentro de uma janela normal.
Ele lembra que a maior produção de trigo da história do Rio Grande do Sul, em 2022, aconteceu com um atraso semelhante ao atual. Por esse motivo, Rugeri afirma ser possível que o atraso seja benéfico, mas neste momento incial de safra é difícil avaliar. “O que tivemos foi um período com persistência da chuva e pouca luminosidade, o que interferiu nos tratos culturais dos produtores e no desenvolvimento das plantas. No último período retomou o tempo seco e com sol, adequado para o trigo, o que fez com que tivesse uma melhora”, explicou o agrônomo.
Agora, as próximas fases serão decisivas para o desenvolvimento do trigo: “é uma corrida de 130 dias, e nesse período você tem que ter a maior parte de dias adequados para não ter dificuldade. No começo é onde temos a maior possibilidade de recuperar aquilo que se espera dessa caminhada. Se a partir do florescimento acontecer algum fenômeno, os danos são mais severos do que no começo, quando pode haver uma recuperação”, disse Rugeri.
Carlos Konig, gerente agrônomo da cooperativa C. Vale, afirmou que a condição das lavouras de forma geral tem caminhado bem. Segundo ele, o maior problema no Rio Grande do Sul foi o excesso de chuva em alguma áreas. Então, em algumas propriedades onde houve dificuldade para aplicação de insumos ou erosão, a produtivdade será afetada.
Para o representante da cooperativa, essas condições estão dentro da expectativa e, assim como complementa Rugeri, a atenção fica agora para os fases mais avançadas de desenvolvimento. “A preocupação maior fica por conta do frio mais tardio nos meses de agosto e setembro e excesso de chuva na época da colheita, que pode impactar na qualidade”. observou Konig.
Três janelas de plantio no Rio Grande do Sul
O produtor Mauro Costa Beber, de Condor-RS, contou que o plantio no Rio Grande do Sul este ano precisou ser executado em três fases. Os trabalhos começaram no início de junho em sua região, mas depois de uma semana tiveram de ser interrompidos por conta de chuvas. Depois disso, apenas em 1º de julho foi possível retomar a semeadura, que foi novamente interrompida por conta da precipitação. Por conta disso, uma parte das áreas do estado ainda estão finalizando seus trabalhos de campo.
No estado, como conta Beber, as duas primeiras áreas plantadas apresentaram muito bom desenvolvimento, porque pegaram bons períodos de chuva e a semente emergiu uniformemente. Os locais que receberam incialmente o trigo já tiveram aplicação de nitrogênio. A leva do início do mês ainda não teve a aplicação, pois agora o tempo está seco, como ele explicou.
“Está com um potencial bom, deu frio depois do primeiro plantio, bom perfilhamento e as outras estão recém-emergidas, mas estão com boa sanidade, poucas pragas e doenças. Assim o trigo está com início muito bom e a expectativa nossa é que venha uma nova chuva em agosto, para o pessoal fazer uso de nitrogênio e fazer manejo de herbicídas e fungicídas”, relata o produtor
Agora, a expectativa é para que as condições climáticas sejam favoráveis daqui para frente. “Se engrenar esse La Niña, a minha expectativa é para uma ótima safra de trigo no Rio Grande do Sul, apesar de uma diminuição da área e de muito problema de erosão nas lavouras e descapitalização dos agricultoros. Acredito que o clima vai ser um fator determinante para uma boa safra para os agricultores”, acrescentou Beber.
Tempo seco prejudicou desenvolvimento das lavouras plantadas mais cedo no Paraná
No Paraná, o plantio do trigo já foi finalizado, como informou o Deparamento de Economia Rural (Deral). Em boletim divulgado na quinta-feira (25), segundo o órgão, a área ocupada com a cultura foi revisada para 1,16 milhão de hectares, o que representa um decréscimo de 18% em relação à área colhida em 2023 (1,42 milhão de hectares).
De acordo com o Deral, o trigo no Praná está 1% em fase de germinação, 46% em desenvolvimento vegetativo, 27% em floração, 24% em frutificação e 2% em maturação. Em relação às condições, 12% das lavouras constam como ruins, 22% médias e 66% boas.
No estado, após o intervalo por conta das chuvas no início de julho, os trabalhos de campo foram retormados, o que permitiu a conclusão da semeadura. Com isso, as lavouras semeadas mais tardiamente tiveram uma melhora significativa, com aumento no perfilhamento, bom como no desenvolvimento vegetativo.
Entretanto, a produtividade projetada incialmente foi reduzida, sobretudo para as lavouras semeadas mais cedo, pois foram prejudicadas com a má formação de perfilhos ou redução do tamanho das espiguetas durante o período sem chuvas.
Segundo o Deral, essa situação limitou a produtividade das lavouras, especialmente no norte do Paraná, fazendo com que as perdas já representem 6% do potencial inicial. Dessa forma, a projeção da produção total no estado caiu de 3,81 para 3,61 milhões de toneladas, número 1% inferior ao colhido em 2023, que foi 3,64 milhões de toneladas.
Entretanto, o departamento ressalta que nesta fase incial é cedo para definir com segurança o volume final que será obtido. “As colhedoras devem entrar a campo no próximo mês, colhendo inicialmente as áreas mais problemáticas, que enfrentaram o maior período de estiagem. A partir dos resultados dessas áreas haverá maior confiabilidade nos números, que deverão vir ajustados no levantamento divulgado no dia 29/08”, informou o órgão.
Santa Catarina apresenta bom desenvolvimento
Em Santa Catarina, segundo boletim agropecuário deste mês da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), as condições de desenvolvimento das lavouras de trigo seguem dentro na normalidade.
As lavouras já semeadas apresentam boa germinação e desenvolvimento vegetativo. Em praticamente todas regiões do estado as condições climáticas, com temperaturas baixas e alternância de dias chuvosos e ensolarados, permitiram um bom desenvovimento da safra.
A estimativa de área plantada foi reduzida em 10,4% no mês de junho. A produtividade média estadual está estimada em 3.493 kg/ha, representando um aumento de 56,1% em relação à safra passada.
Esse incremento na produtividade acontece porque a safra anterior foi marcada pelo excesso de chuvas na época de colheita, fator que prejudicou fortemente a qualidade do produto colhido, comprometendo a produtividade média e a rentabilidade das lavouras.
Portanto, a projeção é de que neste ano a produção de trigo em Santa Catarina chegue a 430 mil toneladas, o que representa um aumento de 39,83% em relação à ultima safra, que foi de 307.634 mil toneladas.
Relação de oferta e demanda do trigo no mercado internacional
Em entrevista nesta sexta-feira ao Bom Dia Agronegócio, Élcio Bento, analista da Safras & Mercado, afirmou que os preços do trigo no mercado internacional estão tendo bastante influências das questões climáticas. Nesta semana, houve uma sustentação por conta da presença de compradores, mas por outro lado tem uma safra muito grande dos Estados Unidos, então essa oferta sazonal limita um avanço das cotações.
Com isso, o preço do trigo segue muito próximo das mínimas que são registradas desde o início da temporada passada. “É momento de ingresso de safra no Hemisfério Norte, então é pouco provável uma reação de preços, mesmo que, em termos fundamentais, a situação de oferta e demanda não seja folgada”, explicou Bento.
Segundo ele, ainda há uma indefiniação sobre produção, pois até agosto segue chegando ao mercado a safra do Hemisfério Norte, e não há certeza a respeito do tamanho dessa oferta. Além disso, há também a incerteza sobre qual será a oferta de importantes países do Hemisfério Sul, como Argentina, Austrália e Brasil. Bento afirmou que existe para o trigo uma demanda que cresce de maneira linear, mas uma oferta que galopa de um lado para outro, o que provoca diferentes movimentos no mercado.
Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, também destacou no programa Tempo & Dinheiro, com João Batista Olivi, que a a produção do Hemisfério Norte está afetando negativamente os preços. Entretanto, ele espera que em dois ou três meses ocorra uma queda dessa oferta.
Ademais, o consultor acredita que entre outubro e novembro, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, irá começar a segurar a oferta de trigo, pois a safra atual não é maior que a de anos anteriores. Por esse movimento ele acredita que, para não exportar muito e inflacionar no mercado interno, a Rússia irá controlar a quantidade de exportação.
Preços dentro do Brasil
Neste momento no Paraná, os preços do trigo vêm registrando momentos importantes, que precisam da atenção do produtor ao testarem níveis como os de R$ 1.700,00 por tonelada, como disse explica Élcio Bento. Com a incerteza da produção em regiões como norte e oeste do estado paranaense, que tiveram problemas com o tempo seco, os moinho estão vendo que a entressafra pode ser alongada, mais um fator de firmeza para as cotações. Por outro lado, os portos do Brasil vêm registrando alguns atrasos em suas operações com o trigo, o que amplia os custos logísticos e, m pelo menos, US$ 10,00 por tonelada, como é o caso de registros que chegam, por exemplo, do porto de Paranaguá.
No Rio Grande do Sul, onde já houve um excedente expressivo quando o estado produziu 6 milhões de toneladas e exportou bem, para esta temporada, o horizonte é outro, uma vez que a produção não terá a mesma dimensão. Ainda assim, como detalha o analista da Safras, deve ser maior do que o consumo gaúcho.
Agora, há pouco trigo de safra velha. No entanto, com a chegada da safra, em algum momento é possível que aconteçam vendas de um estado para o outro no Brasil. O produtor gaúcho irá fazer as contas de para onde vai ser mais interessante enviar seu excedente, se é para o mercado internacional e competir com Rússia e Argentina ou se é para o Paraná.
“Em regra, temos um mercado balizado pela paridade de importação. Os preços internos do Brasil se formam com referência dos preços que vêm de fora, sobretudo o valor que chega o trigo argentino nos moinhos brasileiros. Tem a questão da qualidade, mas em tese é a paridade de importação que forma o preço, não tem como fugir dessa lógica”, completou Bento.