Os preços da soja fecharam mais um pregão em alta na Bolsa de Chicago nesta segunda-feira (9) e parte dos analistas e consultores já atribui parte deste movimento às preocupações com o início da nova safra brasileira. A falta de chuvas vem preocupando os produtores, em especial aqueles que já poderiam estar avançando com seus trabalhos de campo. Assim, somente neste pregão, os ganhos da soja entre os principais contratos, foram de 13 pontos, com o novembro valendo US$ 10,18 e o março – referência para a safra brasileira -, US$ 10,49 por bushel.
“No Brasil, o clima segue quente e seco, prejudicando o início do plantio da nova safra. As precipitações previstas se limitam ao sul do país, com as regiões centrais e norte ainda sem previsões de chuvas”, informou a Agrinvest Commodities. “Além disso, há pouca soja disponível para a exportação na janela outubro-novembro-dezembro, o que mantém os prêmios altos e apoia os preços no curto prazo”.
Entre os destaques do Commodity Weather Group (CWG) está as chuvas que poderiam começar a chegar ao Brasil na segunda quinzena de setembro, porém, mais siginificativas no Sul do país, enquanto o centro-norte brasileiro segue ainda muito quente e seco. Além disso, é destaque também a baixa nos leitos de rios importantes para a logística nacional, o que ajuda a dar ainda mais espaço às preocupações no mercado.
“O mercado cria narrativas para este momento de altas e uma delas é este atraso setembro, clima extremamente quente e seco. Se olharmos qualquer agência internacional focada no agro, o comentário é de que o Brasil está seco demais (…) e o mercado especulativo potencializa estas altas”, afirma Ênio Fernandes, consultor em agronegócios da Terra Agronegócios. “E o mercado deve seguir oscilando neste pequeno intervalo de 20 a 30 cents até o relatório mensal do USDA que é agora, dia 12 de setembro. E do dia 12 em diante, tudo é revisto”.
Segundo explicou o meteorologista e consultor em clima, Francisco de Assis Diniz, essa volta das chuvas prevista para a segunda metade de setembro deverá favorecer, inicialmente, os estados ainda do sul, permitindo o início do plantio em Santa Catarina e no Paraná, enquanto o Sudeste e o Centro-Oeste ainda devem aguardar um pouco mais. Algumas regiões pontuais do Mato Grosso do Sul também poderão receber alguns volumes.
O mapa abaixo mostra a previsão das chuvas para os próximos 10 dias, o que mostra que o centro-norte do país deverá seguir sofrendo com o tempo seco, porém, com chuvas podendo se estabelecer de forma mais significativa a partir da segunda quinzena do mês de outubro. Até lá, as temperaturas deverão seguir elevadas, superando os 40ºC em várias áreas.
Reveja a entrevista completa de Assis:
Neste ambiente, em locais como Campos de Júlio, em Mato Grosso, os produtores ainda estão bastante reticentes em dar início à semeadura 2024/25. “O produtor está bem adiantado, o plantio em Mato Grosso foi liberado agora no dia 8. Acredito que se o clima colaborar, acredito que entre os dias 20 e 25, o produtor já começa a plantar. Mas agora, nestes primeiros momentos, é o produto de algodão que precisa projetar a safra dele para não ter atraso”, explica o produtor local, Tiago Daniel Comiran.
O município ainda não conta com condições adequadas de plantio, acumula cerca de 90 dias sem chuvas, “e o produtor que vai plantar é aquele que precisa adiantar sua lavoura, arriscando um plantio e esperando uma chuva que possa aparecer. Mas, não vemos movimentação no campo nem de quem precisa plantar antecipado, nem daquele que pode esperar mais um pocuo”, afirma Comiran.
Frente a este cenário, apesar das boas altas em Chicago – e de um favorecimento que o dólar, apesar do recuo ainda alto, e dos prêmios – o produtor fica ainda um pouco reticente em avançar com os negócios da nova safra, ainda temendo sobre o futuro de suas safras.
A orientação do consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, no entanto, é de que os sojicultores façam suas contas e absorvam as oportunidades que se apresentam pelos indicativos tanto nos portos, quanto no interior do país. Do mesmo modo, um sinal de alerta são os prêmios da safra nova que já começam a perder força, ainda relfetindo a possibilidade de uma grande safra vinda do Brasil na temporada 2024/25.
“A safra já está começando a atrasar o período do plantio que, normalmente, aconteceria ‘meio geral’ no Brasil e as chuvas não são previstas nem para a semana que vem. Então, isso exige do produtor fazer uma boa estratégia porque vai embolar o plantio e embolar a colheita lá na frente. Muita oferta no final de fevereiro, começo de março, e com isso é importante o produtor se preparar porque na época de pressão da colheita a pressão nos preços é negativa”, afirma Brandalizze. “E estamos em um ano que não dá pra errar nada”.