Queimadas, um desafio extra para o manejo de solo de uma safra em atraso

 Logotipo Notícias AgrícolasDe acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o plantio de soja da safra 2024/2025 no Brasil atingiu 9,1% até a primeira quinzena de outubro. No mesmo período da safra anterior, o índice era de 19%. Esse atraso é principalmente atribuído à falta de chuvas, o que gera preocupações sobre o impacto na janela de plantio do milho safrinha. Para enfrentar esses desafios climáticos, as importações de fertilizantes pelo Brasil continuam em ritmo acelerado. Em setembro, foram registradas 4,6 milhões de toneladas de fertilizantes importados, o segundo maior volume já registrado, ficando atrás apenas de agosto, com 4,9 milhões de toneladas.

Com esse ritmo de importações, o Brasil pode alcançar um recorde anual de mais de 42 milhões de toneladas de produtos importados. Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), foram entregues 4,6 milhões de toneladas de fertilizantes em julho, somando 22,9 milhões de toneladas no acumulado do ano, contra 23,1 milhões no ano anterior, o que indica uma aceleração nas entregas. A alta dependência de fertilizantes importados afeta diretamente a rentabilidade do produtor brasileiro, impactando suas decisões e, consequentemente, a produtividade das próximas safras.

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Além dos desafios climáticos, o Brasil também enfrenta problemas como temperaturas elevadas e queimadas em algumas regiões produtoras, o que adiciona dificuldades no manejo de solo pré-plantio. O engenheiro agrônomo Cláudio Lucas Campeche, da Embrapa Solos, compartilhou algumas recomendações para ajudar os produtores a mitigar as perdas causadas pelo fogo.

Notícias Agrícolas: Como deve ser realizado o manejo para a recuperação de solos após uma queimada?

Cláudio Lucas Capeche: Podem ser citadas duas ações:

Recuperar a cobertura do solo, seja com vegetação viva (lavoura, fruticultura, reflorestamento e/ou pastagem), ou morta (aplicação de palhada), pois dessa forma o solo fica protegido da ação das erosões hídrica e eólica e do efeito de aumento da temperatura do solo pela insolação.

Importante dizer que, embora o uso da queimada seja autorizado em algumas condições, sempre com acompanhamento técnico, o ideal é que essa prática seja evitada, pois a queimada destrói a camada superficial de material orgânico vegetal e animal em decomposição, que é fonte de alimento e abrigo para a micro e macro biodiversidade do solo.

A matéria orgânica presente na superfície do solo (justamente aquela que é destruída pela queimada) ainda é responsável pela estruturação dos agregados do solo, principalmente nos primeiros 20cm a partir da superfície, após a sua decomposição. Fazer a análise de fertilidade do solo, para ver seu estoque de nutrientes e saber a disponibilidade imediata de nutrientes ofertada pelo solo para as plantas, bem como a longo prazo.

Normalmente, a queima da vegetação disponibiliza alguns nutrientes de forma imediata por meio das cinzas, como cálcio, magnésio, potássio, micronutrientes, entre outros, para as planta que crescerão na área após a queimada. Entretanto, esses nutrientes ficam sujeitos a serem removidos do local de plantio ao serem levados pelo vento e pela erosão, além de serem lixiviados no interior do solo.

NA: O manejo de fogo, quando utilizado de forma técnica, pode trazer benefícios para a agricultura? Quais prejuízos o fogo causa para os solos e para a produção agrícola?

Capeche: Podem ser citados:

Destrói a cobertura vegetal da superfície do solo, deixando-o sujeito às erosões eólicas e hídricas que causam danos imensos tanto na área rural como nas cidades. Por exemplo, a ocorrência das tempestades de “areia” (solo), onde o vento forte remove o solo, transportando-o em grandes distâncias e causando diversos inconvenientes para a população rural e urbana.

A erosão hídrica, por meio da enxurrada na forma laminar, de sulcos e/ou voçorocas, remove a camada superficial do solo levando-o a se depositar em áreas de baixada e no interior dos corpos hídricos. Isto compromete a qualidade e volume da água e afeta a vida aquática e terrestre que utiliza esses recursos hídricos (córregos, rios, lagos, lagoas, áreas de mangue, reservatórios hidrelétricos). Sem falar no comprometimento da geração de energia elétrica.

Redução da capacidade produtiva do solo, pois a erosão destrói a sua fertilidade natural mineral e orgânica, bem como àquela criada pela aplicação de fertilizantes e, desta forma, pode comprometer a produção agrícola. Pode, ainda, contribuir para a compactação do solo, reduzindo a infiltração da água das chuvas e o crescimento radicular das culturas.

Embora o manejo do fogo seja autorizado em alguns casos, ele deve ser evitado, pois destrói o principal componente responsável pela vida do solo (biodiversidade do solo) e fornecimento de nutrientes, que é a matéria orgânica. O uso da queimada pode ser feito quando se visa reduzir a quantidade de material combustível, passível de ser queimado em uma queimada descontrolada. Neste caso, é possível utilizar a queimada, mas apenas com autorização dos órgãos ambientais e por meio de equipe técnica capacitada e treinada.

NA: Que metodologia os produtores podem utilizar para evitar maiores prejuízos em períodos de seca e de possíveis queimadas?

Capeche: Muito importante é o uso do Planejamento Conservacionista da propriedade rural, de preferência em nível de microbacia hidrográfica onde todos os agricultores planeja o uso sustentável de suas propriedades. Este planejamento visa utilizar as áreas da propriedade conhecendo as suas potencialidades e riscos para a sustentabilidade agrícola e ambiental. É preciso conhecer os solos e suas características de fertilidade, de profundidade, textura, se tem problema de compactação, o teor de matéria orgânica.

Identificar os tipos de relevo do terreno (plano, suave ondulado, ondulado e montanhoso), pois quanto mais inclinado, maior o risco e efeitos da erosão. As áreas sujeitas a riscos de alagamentos e deslizamentos. Aquelas que devem ser destinadas para a preservação permanente (APP). Proteger os caminhos e estradas com uso de ondulações e bacias de retenção de enxurrada.

Utilizar práticas conservacionistas (Terraço, bacia de retenção, rotação, diversificação e consórcio de culturas, adubação verde, cordão vegetado ou de pedra). Empregar Sistemas de Produção que promovam a conservação do solo, da água e da biodiversidade do solo como: o Sistema Plantio Direto, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e Sistemas Agroflorestais.

O uso das tecnologias conservacionistas promove melhores condições de infiltração e armazenamento da água da chuva nos solos, possibilitando uma maior disponibilidade hídrica em caso de secas prolongadas. Também possibilita a perenicidade de nascentes, garantindo a vida de córregos, rios e lagos.

Entretanto, em tempos de mudanças climáticas e extremos de seca e precipitação hídrica, como tem ocorrido recentemente, com previsão de continuidade no futuro próximo, é importante que a agricultura brasileira, além das tecnologias conservacionistas citadas, utilize as tecnologias preditivas para o monitoramento das condições climáticas e assim planejar as atividades com menor risco.

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