Por Ana Mano e Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) -O cenário para a safra de soja do Rio Grande do Sul, que caminhava para ser o segundo maior Estado produtor do Brasil na temporada 2023/24, está se deteriorando após chuvas torrenciais, com integrantes do setor citando nesta sexta-feira potenciais perdas entre 10% a 15% da colheita esperada.
A cooperativa gaúcha Cotrisal estimou queda na safra de soja para cerca de 19 milhões a 20 milhões de toneladas, uma vez que cerca de um quarto da área plantada ainda não havia sido colhida antes das chuvas, disse à Reuters Leandro da Silva, gerente da unidade de grãos.
Os números da Cotrisal, com sede em Sarandi (noroeste do Estado), ficam abaixo das 21,89 milhões de toneladas previstas pela estatal Conab para a colheita gaúcha antes da tragédia climática. Já a Emater, órgão de assistência técnica do Estado, havia estimado a produção em 22,25 milhões de toneladas.
As notícias do Rio Grande do Sul sustentaram os contratos futuros na bolsa de Chicago, já que as chuvas potencialmente deverão reduzir o volume esperado para a produção do Brasil, o maior produtor e exportador de soja.
Analistas avaliam que o Estado tem cerca de 5 milhões de toneladas de soja “em risco”, diante das enchentes, mas ponderam que as perdas potenciais poderiam ser menores, girando entre 1 milhão e 2 milhões de toneladas. Já o corretor Adelson Gasparin, que está em Passo Fundo, projeta perdas potenciais de 2,8 milhões de toneladas.
“Nas regiões mais atingidas… no centro do Estado para sul do Estado, calculo que pode ter 30% a até 40% da área para ser colhida”, disse o gerente sênior de relacionamento da Hedgepoint, Eduardo Tres, que está em Passo Fundo.
Com base nisso, a empresa de análises estima que o Estado tem cinco milhões de toneladas ainda para colher em áreas de risco, mas as perdas potenciais girariam em até 2 milhões de toneladas, disse Alef Dias, analista de grãos e macroeconomia da Hedgepoint.
Além de problemas para a safra, infraestrutura, distribuição de energia e transporte, as chuvas intensas causaram a morte de pelo menos 31 pessoas, além de deixarem dezenas de desaparecidos, de acordo com dados da Defesa Civil.
QUEDA NA SAFRA DO BRASIL
Ainda que seja complicado estimar por ora exatamente as perdas, até porque muitas áreas estão debaixo d’água, já é consenso entre analistas que a produção brasileira será menor do que o esperado.
A reviravolta vem em um momento em que havia um viés de alta para as estimativas do Brasil. O Rio Grande do Sul ainda tem 24% da área com soja a ser colhida, informou a Emater na quinta-feira.
“É muito cedo para falar em números, mas sim, vamos cortar um parte da produção gaúcha… Dá para falar que de 4 milhões a 5 milhões de toneladas estão em risco”, afirmou o analista Luiz Fernando Roque, da Safras & Mercado, que está em Porto Alegre, ponderando que “é muito difícil” que se perca todo o restante que está nos campos.
“Vai depender do que vai se conseguir salvar das lavouras afetadas, mas tem sim possibilidade de reduzir a safra brasileira por conta dos problemas no Rio Grande do Sul.”
Segundo o analista Fernando Muraro, da AgRural, “o mercado em breve vai descobrir que a safra brasileira se afasta dos 155 milhões de toneladas”, estimadas pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
A AgRural já estimava um número menor, de 148,5 milhões de toneladas, que deverá ser revisto para baixo, enquanto a Safras & Mercado havia elevado sua projeção de março para abril para 151,3 milhões de toneladas, com viés positivo.
“Todo mundo estava elevando a safra brasileira por conta da safra do Rio Grande do Sul, que estimávamos em 22 (milhões de toneladas), e agora estava em 23. Agora vamos ter que rever isso… disse Muraro, da AgRural.
“Agora vamos ter que reduzir novamente, mas quanto reduzir, ainda não dá para saber”, acrescentou ele, explicando que, no momento, é difícil até para falar com as regiões atingidas.
O especialista Carlos Cogo, sócio-diretor da consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, comentou que o efeito das inundações sobre os contratos futuros de Chicago já aconteceu, mas é preciso acompanhar os novos desdobramentos.
“É mais um prêmio de risco que deve ser balanceado após resultados mais claros dos prejuízos, que também afetam a questão da logística em todas essas regiões atingidas.”
(Edição de Pedro Fonseca)