O início do ano marca um período de calmaria no mercado de arroz, com os preços permanecendo apenas nominais. “Este cenário é reflexo dos recessos, com muitas empresas ainda em férias coletivas, resultando em uma movimentação limitada no setor”, explica o analista e consultor de SAFRAS & Mercado, Evandro Oliveira.
Neste contexto, os agricultores concentram seus esforços nas lavouras, aguardando condições mais propícias antes de retomar as atividades de comercialização. “Entretanto, a valorização excessiva dos indicativos de preços gera incertezas entre as indústrias, que se preparam para retomar as operações após as pausas estratégicas do final do ano”, pondera o analista.
A decisão de adquirir matéria-prima torna-se crucial diante das cotações elevadas, provocando questionamentos sobre a sustentabilidade do mercado nesse contexto. “A dúvida persiste sobre até quando o mercado será capaz de sustentar esses valores. E a expectativa por uma safra satisfatória adiciona mais um elemento de incerteza ao cenário inicial de 2024 para gestores de indústrias, varejo e outros participantes do mercado”, frisa o consultor.
A tendência de preços firmes para o ano de 2024 já é uma realidade consolidada. Estima-se uma potencial redução nos indicativos apenas durante o pico da colheita da safra nacional, em meados de março e abril, bem como o aumento previsto nos volumes do cereal importado do Mercosul. “Contudo, enfrentaremos desafios significativos no que se refere às exportações do cereal”, destaca Oliveira.
Com projeções de câmbio variando entre R$ 4,80 e R$ 5,00 para 2024, um dos grandes desafios será em relação às exportações do cereal. Em um cenário de supervalorização dos preços domésticos e um dólar pouco favorável às vendas externas, a recuperação de importantes compradores da América Central e Caribe, bem como vizinhos como a Venezuela, será uma tarefa árdua. “Nessa situação, os quebrados podem ressurgir como protagonistas, assegurando volumes significativos de exportação para a África Ocidental e Europa”, acredita o analista.
Adentrando o período de entressafra, a tendência é de preços elevados no segundo semestre de 2024, onde as cotações podem revelar novas surpresas. Iniciando a temporada com os menores estoques em quase duas décadas (em torno de 700 mil toneladas), apesar de um incremento moderado no volume da safra 2023/24 (estimada em 10,66 milhões de toneladas), o panorama não deve ser tão distinto da temporada anterior, onde o aperto de oferta foi constante.
Neste contexto, o pico da entressafra desta nova temporada deverá evidenciar a nova postura dos orizicultores. Com um custo total de produção estimado em cerca de R$ 98,00 por saca de 50 quilos (conforme último levantamento do Irga), encontram-se agora capitalizados após margens satisfatórias. “Eles surgem como formadores de preços e deverão ditar o ritmo do mercado enquanto redirecionam seu foco para as lavouras. Sendo assim, com preços ainda mais atrativos, a cultura está propensa a recuperar áreas que antes eram dedicadas a commodities mais lucrativas, buscando estabelecer um equilíbrio promissor para a temporada comercial futura”, finaliza Oliveira.