Muitas regiões do Brasil estão enfrentando condições climáticas desfavoráveis para o desenvolvimento da segunda safra de milho e esperando perdas na produtividade decorrentes deste quadro que une poucas chuvas e temperaturas elevadas.
Nessas localidades, como Paraná e Mato Grosso do Sul, por exemplo, os produtores estão encontrando espigas com problemas no desenvolvimento, encurtadas e com falhas nos grãos, como temos acompanhado diariamente no Realidades da Safra aqui no Notícias Agrícolas.
Na visão do Engenheiro Agrônomo e Gerente da Área Técnica da KWS Sementes, Wagner Gusmão, este cenário de estiagem e altas temperaturas afetou o desenvolvimento das plantas em diversas etapas do crescimento, resultando em espigas como essas que temos visto.
“Olhando as espigas e baseando-se na fisiologia da planta, houve um estresse na fase vegetativa do milho (V6 e V7), onde ocorre a definição do número de fileiras da espiga. Outro momento que isso pode ter acontecido foi na fase V12, momento em que há a definição do tamanho da espiga”, aponta Gusmão.
Pesquisadores de Embrapa Milho e Sorgo também destacam o papel do clima adverso nessa situação. “O plantio no Paraná foi mais tardio e toda a espiga foi afetada. A polinização ocorreu normalmente no início da fase de desenvolvimento da espiga e depois veio o impacto climático”.
Além do clima, outros fatores podem ter causado ou potencializado esses sintomas como o ataque de pragas na fase V3 e V4 quando ocorre a definição do potencial produtivo da planta (fase vegetativa).
“Pelo clima quente, o pulgão demonstrou nesse ano uma maior infestação nas lavouras, lembrando que ele é o responsável pela transmissão do “vírus do mosaico comum”. Nesses casos, infelizmente, quando não ocorre o monitoramento e manejo o problema será identificado tardiamente, apenas na fase reprodutiva”, ressalta Gusmão.
Causa por adjuvantes é descartada
A hipótese de que esses problemas com as espigas de milho poderiam ser decorrentes do uso de adjuvantes nas lavouras surgiu nos Estados Unidos, onde a situação começou a ser registrada por volta do ano de 2007. Após isso, alguns estudos indicaram que a utilização de surfactantes não iônicos poderia levar a geração de etileno dentro da espiga, o que causaria este problema nos grãos.
Responsável Químico da Sell Agro, Marcelo Hilário, explica, porém, que na prática essa hipótese seria impossível de ser verdadeira, uma vez que as condições necessárias para que isso acontecesse na lavoura seriam muito específicas e difíceis de serem atingidas.
“Nós postulamos, com base na ciência, que para o surfactante não iônico gerar etileno na espiga ele deveria passar por reações químicas de altíssimas pressões e temperaturas para quebrar a cadeia e liberar o etileno. Então a questão é que se houvesse essa magnitude nas espigas não haveria nem milho em campo. Seriam necessários mais de 200 °C e mais de 5 atm de pressão”, explica Hilário.
O químico ainda ressalta que, uma vez a explicação sendo quimicamente impossível, cabe aos pesquisadores buscarem explicações para o que acontece com as espigas nesses casos do ponto de vista agronômico.