O clima desfavorável à safra verão de milho 2023/24 pode atrasar a semeadura da segunda temporada, que, vale lembrar, atualmente é responsável por 3/4 da oferta nacional do cereal. Quanto aos preços, os patamares deste começo de 2024 estão bem abaixo dos verificados há um ano, contexto que reduz as margens e que, somado às incertezas quanto aos impactos do El Niño sobre a produtividade, diminui o interesse de agricultores pela semeadura de milho – parte dos produtores já sinaliza que não deve aumentar a área. Na B3, os valores futuros apontam patamares maiores no segundo semestre.
Enquanto a perspectiva é de menor produção, o consumo doméstico pode crescer, sobretudo por parte dos setores de proteína animal e da pujante indústria de etanol de milho no Brasil. Um possível equilíbrio entre oferta e demanda deve vir com recuo nas exportações – as vendas externas podem ser limitadas pelo menor excedente doméstico.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima redução de 10,9% da oferta de verão 2023/24 frente à temporada anterior, projetada em 24,38 milhões de toneladas, e também queda de 10,7% na área. Inclusive, esta é a menor área semeada com milho verão de toda a série histórica da Conab, iniciada na safra 1976/77. Até o dia 27 de janeiro, a semeadura no Brasil somava 92,4% da área, contra 97,8% no mesmo período do ano anterior. Já a colheita totalizava 10,4%, ante 7,8%.
Somando a produção do milho verão 2023/24 ao estoque de passagem, estimado pela Companhia em 6,348 milhões de toneladas ao final de janeiro/24, tem-se um suprimento de 30,3 milhões de toneladas para o primeiro semestre. Este volume é equivalente a 36% do consumo doméstico no ano, cenário que já tem gerado certa preocupação entre agentes.
Assim, as atenções se voltam à segunda safra. E a Conab já aponta reduções na área, na produtividade e na produção. Em janeiro, a área para a segunda safra 2023/24 era estimada em 16,41 milhões de hectares em nível nacional, 4,5% menor que a 2022/23. A produtividade e a produção estão estimadas para serem 6,7% e 10,9% menores que as da temporada anterior, em 5.557 t/ha e em 91,23 milhões de toneladas, respectivamente. Para terceira safra, a produção é apontada em 1,98 milhão de toneladas, 10% inferior à de 2022/23.
O Imea (Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária) também estima queda na produção de Mato Grosso na safra 2023/24, de 16,7%, para 43,75 milhões de toneladas. No agregado, considerando-se os estoques iniciais, em fevereiro/24, de 5,94 milhões de toneladas, a produção total de 117,6 milhões de toneladas e as importações de 2,1 milhões de toneladas, a disponibilidade interna será 125,6 milhões de toneladas na temporada 2023/24. Ao subtrair o consumo interno (84,36 milhões de toneladas), o excedente interno é de 41,27 milhões de toneladas, o menor desde 2020/21, quando foi de 34,33 milhões de toneladas – ainda conforme dados da Conab.
Por enquanto, as exportações estão estimadas pela Conab em 35 milhões de toneladas entre fevereiro/24 e janeiro/25, o que, caso se concretize, resultaria em estoques de passagem, em janeiro/25, de 6,27 milhões de toneladas, maior que o da safra anterior.
Já no cenário internacional, importantes países devem apresentar recuperação na produção, o que, por sua vez, pode limitar valorizações externas e reduzir o interesse de agricultores brasileiro sem exportar o grão.
Dados do USDA indicam aumento de 6,9% na produção global da temporada 2023/24, atualmente estimada em 1,23 bilhão de toneladas, com maiores colheitas na Argentina e nos Estados Unidos. Já as reduções mais representativas devem ocorrer no Brasil e na Índia.
O consumo pode crescer 3,8%, para 1,2 bilhão de toneladas. Dos 16principais consumidores, retrações devem ser observadas apenas para Índia e Nigéria. Apesar do aumento mundial na demanda, a elevada produção faz com que a relação estoque/consumo fique em27,1%, acima dos 26% da temporada anterior.
Em termos de transações externas, o USDA espera melhora de11,1%, em torno de 200 milhões de toneladas. Apesar da redução na oferta brasileira, é esperado que o Brasil lidere pelo segundo ano consecutivo as vendas internacionais, se consolidando como o maior fornecedor mundial do cereal. Em 2024, o USDA estima que o Brasil exporte 58 milhões de toneladas, e o segundo principal fornecedor, os Estados Unidos, 54 milhões.
A produção da Argentina deve crescer na temporada 2023/24, o que pode trazer maior concorrência com as exportações brasileiras em2024. Atualmente, o USDA estima aumento de 62% na produção da Argentina, para 55 milhões de toneladas, e as exportações, em 41milhões de tonelada, avanço expressivo de 78%.