(Reuters) -As chuvas intensas que têm atingido o Rio Grande do Sul desde o início desta semana já deixaram ao menos 39 mortos e quase 70 desaparecidos, afetando mais da metade dos municípios do Estado, de acordo com balanço da Defesa Civil gaúcha, e as autoridades ainda aguardam a confirmação de mais mortes.
Segundo comunicado da Defesa Civil do Rio Grande do Sul divulgado no fim da tarde desta sexta-feira, o desastre climático no Estado também deixou mais de 24.000 pessoas desalojadas, em um total de mais de 350 mil afetados.
O órgão ainda relatou que as chuvas afetaram mais de metade dos 497 municípios gaúchos — 265 –, alguns com ruas transformadas em verdadeiros rios, com diversas estradas e pontes destruídas.
“Esses números (de vítimas) podem mudar ainda substancialmente ao longo dos dias na medida em que a gente consiga acessar as localidades e consiga ter a identificação de outras vidas perdidas, e a gente lamenta cada uma delas”, disse o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), em entrevista coletiva.
O temporal também provocou deslizamentos de terra e o rompimento de parte da estrutura da barragem da usina de geração de energia 14 de Julho, na bacia do Rio Taquari-Antas, em Cotiporã, na Serra Gaúcha.
As autoridades também alertaram para o risco de rompimento de uma barragem da Represa de São Miguel, na cidade de Bento Gonçalves, e determinaram as saídas de pessoas que moram em áreas que podem ser afetadas.
Na capital Porto Alegre, a Defesa Civil alertou a população para a condição do Rio Guaíba, que recebeu expressivos volumes em razão das fortes chuvas e ultrapassou sua cota de inundação. Todos os acessos ao centro histórico da cidade foram bloqueados devido a alagamentos.
O governo gaúcho decretou estado de calamidade pública, com mais de 300 mil clientes de distribuidoras sem energia elétrica.
Cientistas disseram à Reuters que o Estado virou o exemplo do que as mudanças climáticas podem fazer com eventos já considerados extremos, mas que vêm atingindo proporções cada vez piores em um mundo que não consegue conter o avanço da temperatura global.
Em setembro do ano passado, o Rio Grande do Sul também ficou debaixo d’água, devido à passagem de um ciclone extratropical, em uma inundação que já era considerada histórica, com mais de 50 mortes registradas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou na quinta-feira para visitar locais atingidos e se reunir com o governador para uma reunião emergencial a fim de discutir os esforços para resgates e mitigação de danos causados pelas chuvas.
Em pronunciamento no Palácio do Planalto nesta sexta-feira ao receber o primeiro ministro do Japão, Lula reiterou o compromisso do governo federal em colaborar com os trabalhos de resgate e reconstrução.
“Nós fomos com vários ministros, não só mostrar solidariedade, mas assumir o compromisso público de que o governo federal não deixará faltar nenhum apoio para que a gente possa recuperar os estragos que essa chuva está causando no Estado”, disse Lula.
“A única coisa que a gente não pode recuperar são as vidas que foram perdidas, mas também nós queremos transmitir daqui aos familiares a nossa solidariedade ao povo gaúcho, e voltar a afirmar para o governador do Estado que o governo brasileiro e seus 37 ministros estaremos à disposição para tentar ajudar o Estado do Rio Grande do Sul.”
Diante do isolamento de várias localidades gaúchas, o governo federal decidiu adiar em todo país o Concurso Público Nacional Unificado, que estava marcado para domingo. Não foi definida ainda uma nova data para a prova, e o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, disse em sua conta no X que um novo dia para a realização do chamado “Enem dos concursos” será definido após estudos do Ministério da Gestão.
(Por Fernando Cardoso, em São PauloEdição de Pedro Fonseca)