Soja: Grupo Labhoro estima safra do BR entre 145 e 147 mi de t; realidade ainda não chega a Chicago

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A quinta-feira, 4 de janeiro, é mais um dia de baixas para os preços da soja negociados na Bolsa de Chicago. O mercado retomou os negócios nesta sessão caminhando de lado, com o janeiro ainda operando do lado positivo da tabela, porém, passou a recuar e as cotações fecharam o dia perdendo entre 5,50 e 9,25 pontos, levando o mesmo janeiro aos US$ 12,64 e o maio – referência para safra brasileira – a US$ 12,76 por bushel. Somente nestas três primeiras sessões do ano, o primeiro vencimento já acumula uma baixa de quase 1% e o mercado já perdeu a referência dos US$ 13,00 por bushel. 

Nesta primeira semana do novo ano, como explica o analista e diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira, pouco se muda sobre a base fundamental do mercado futuro norte-americano, com os focos mantidos sobre a condição da oferta da América do Sul. 

“Nos mantemos com a percepção de que o mercado não enxerga a realidade do Brasil. Estamos criando mais volume de colheita, embora ainda pontuais – ainda não chegamos a 0,5% da área nacional já colhida – porém, há essa inclinação, no começo de 2024, nestas próximas semanas, recebendo mais relatos do que acontece no campo, na prática, resultados de colheita, começamos a perceber que o mercado pode reagir com mais intensidade, dado que o consenso ainda equivocado é de que o Brasil possa ter uma safra cheia”, diz. 

Reveja sua entrevista ao Bom Dia Agronegócio, do Notícias Agrícolas, nesta quinta-feira:

De acordo com os primeiros reportes de áreas colhidas, a irregularidade entre os índices de rendimento da soja no Brasil são latentes e manterão essa incerteza ainda muito presente nos negócios. 

Na avaliação do Grupo Labhoro, a safra brasileira de soja deverá ficar entre 145 e 147 milhões de toneladas, segundo relata seu diretor geral, Ginaldo Sousa. O Mato Grosso deverá registrar perdas de 10 milhões de toneladas; Mato Grosso do Sul 3 milhões; Goiás 3 milhões e o Matopiba, 4 milhões de toneladas. E como explicou Sousa, um número como este ainda não foi absorvido pelo mercado, porém, o mesmo espera pelas atualizações de safra que chegam na próxima semana pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), em 10 de janeiro, e pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), no dia 12. 

“Os produtores brasileiros estão contidos (em seus negócios), aguardando pelos novos números da semana que vem, mas nem a Conab e nem o USDA trarão um número abaixo de 150 milhões de toneladas que é a realidade do Brasil. No máximo, os números deverão vir para algo entre 152 e 153 milhões”, explica. “E uma safra acima de 150 milhões já foi absorvida pelo mercado, o mercado já compreendeu”. 

Enquanto isso, o mercado segue, ainda de acordo com Sousa, buscando garantir seu suporte em Chicago entre US$ 12,60 e US$ 12,70 por bsuhel, sentindo o peso das chuvas que chegaram ao Brasil. “E as chuvas dos últimos cinco dias foram muito boas realmente, bem distribuídas”, porém, chegam tarde para alguns locais. Só no Sul que começamos a ver os campos começando a sentir um pouco de falta de água, em especial no Paraná e em Santa Catarina. “Além disso, não há nada entre os fundamentos que possam impulsionar os preços”. 

BAIXAS EM CHICAGO, ESTABILIDADE NO BRASIL

A primeira semana do mercado da soja no Brasil tem sido de poucos negócios, com produtores ainda muito reticentes em avançar com sua comercialização diante de tantas inseguranças que se observam no campo. Há regiões onde o replantio teve de ser feito por duas vezes e em algumas delas o clima não ajudou em nenhuma destas vezes. Ainda assim, o país já tem mais de 45% da safra 2023/24 comercializada, índice que fica aquém da média dos últimos anos. 

E os próximos dias, ainda de acordo com os especialistas, deverá manter este pouco ritmo, apesar da estabilidade que se observa entre os preços da oleaginosa no mercado nacional. Se de um lado Chicago começou 2024 com baixas consecutivas e a perda de patamares importantes – como o dos US$ 13,00 nos primeiros contratos – prêmios e dólar têm contribuído para um equilíbrio importante. 

“No físico brasileiro, o que criou suporte para os preços foi o dólar – que subiu neste começo de semana – e os prêmios, que estão próximos a zero. Já temos prêmios positivos, de mais 70 (cents de dólar por bushel sobre Chicago) para janeiro, zerado no fevereiro no Porto de Paranaguá, então o que tem contrabalanceado essa baixa no mercado internacional tem sido os prêmios de exportação no país, que estão em ascensão nos últimos 90 a 120 dias”, explica o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira. 

Segundo ele, nesta temporada será difícil vermos uma pressão mais agressiva para os indicativos dos prêmios como se registrou no ano passado já que a oferta será menor. Além de lembrar que, há um ano, os embarques ficaram bastante comprometidos por problemas climáticos e logísticos. “Neste ano, temos tanto um produtor mais preparado, um produtor que já entra neste ano criando um planejamento comercial para passar pelas vendas no primeiro semestre, então, não existe aquela urgência de vendas. Assim, vemos que os prêmios justificariam até novas altas na medida em que as colheitas vão avançando e os resultados de safra vão mostrando uma contração na produção total de soja no nosso país”, complementa.

A mesma avaliação parte do analista da Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez. “O mercado está bastante lento em termos de negócios, poucos novos negócios sendo reportados. O produtor está ainda retraído, esperançoso por preços melhores que não estão vindo, os preços voltaram a perder força nas últimas sessões em Chicago, onde se reflete a safra não só do Brasil, mas sulamericana”. 

Gutierrez volta a lembrar que, por mais que a perda no Brasil seja uma perda importante – a Safras & Mercado traz sua nova estimativa para a produção nacional nesta sexta-feira (5) -, a retomada da produção argentina tem um peso maior no andamento dos preços no mercado futuro norte-americano nesta temporada. “A safra da argentina está andando muito bem, o clima está bem – apesar de alguns problemas isolados – e não tem como trabalhar neste momento com uma safra argentina que não seja cheia, de 48 a 50 milhões de toneladas”, detalha. 

Contabilizando uma safra cheia na Argentina e mais uma produção de cerca de 150 milhões de toneladas no Brasil, a América do Sul garantiria ao menos 200 milhões de toneladas, pesando sobre os futuros – já que é mais do que se registrou no ano passado, em função da quebra drástica na Argentina – e “impedindo que os preços subam no Brasil durante a colheita”, explica o analista. “A não ser que o panorama climático mude na Argentina, teremos mais soja no mercado sul-americano e é isso que vai impedir que os preços subam tanto via Chicago, quanto via prêmio. E o panorama, é, nos primeiros meses de 2024, de uma forma geral, de preços pressionados no Brasil”. 

Assim, “o produtor está esperando por preços melhores para poder comercializar e não está conseguindo, nem no disponível, nem nos meses a frente. Isso está segurando os negócios e, novamente, os produtores que não venderam terão que fazê-lo em um ambiente mais desfavorável. E claro, o produtor ainda está focado no plantio e desenvolvimento da safra”. 

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