SÃO PAULO (Reuters) – As lavouras de trigo do Rio Grande do Sul e Paraná, Estados que devem responder por mais de 80% da safra brasileira em 2024, registram condições díspares, com as plantações gaúchas encontrando condições para o desenvolvimento adequado, enquanto as paranaenses apresentaram piora após as geadas recentes.
“De maneira geral, as condições de desenvolvimento e crescimento do trigo no Estado (do Rio Grande do Sul) são consideradas adequadas. As plantas estão emitindo maior número de folhas e ocupando melhor os espaços com perfilhamento dentro da normalidade…”, afirmou nesta quinta-feira a Emater, em boletim semanal.
O órgão de assistência técnica ligado ao governo gaúcho afirmou ainda que a “sanidade” das lavouras está “satisfatória”.
“A baixa umidade, combinada às baixas temperaturas, no início do período, desacelerou o progresso de doenças, em particular oídio, que afetava algumas regiões”, acrescentou.
A área cultivada no Rio Grande do Sul, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), está estimada em 1,3 milhão de hectares, queda de 10,6% em relação a 2023, e a produtividade prevista é de 3,1 toneladas/hectare, o que seria um aumento de mais de 60% ante o ano passado, quando o clima afetou a colheita.
Isso resultaria em uma colheita gaúcha 44,5% maior, para 4,19 milhões de toneladas, segundo a Conab.
Relatório sobre as condições da lavoura de trigo do Paraná, elaborado pelo Departamento de Economia Rural (Deral), mostrou piora nas condições da safra.
As lavouras de trigo classificadas de “ruins” passaram de 16% para 19%, já aquelas em condições “médias” representam 25% da área, ante 21% na semana anterior, enquanto outras em situação “boa” agora são 56% do total, versus 63% antes.
Segundo o agrônomo Carlos Hugo Godinho, a maior parte da piora pode ser atribuída às geadas no Sudoeste, no dia 13 de agosto, porém a estiagem também afeta outras regiões.
O Paraná já começou a colher o trigo, enquanto no Rio Grande do Sul a colheita é mais tardia.
Até o início da semana, o Paraná havia colhido 3% da área, com as primeiras cargas apresentando “baixas produtividades em função de a estiagem ter afetado (e continuar afetando) as lavouras plantadas mais precocemente”.
Segundo a Conab, a projeção de safra do Paraná é de 3 milhões de toneladas, queda de 14,5% ante o ano passado.
A safra brasileira ainda poderá ter um aumento de 9,1% na comparação anual, para 8,8 milhões de toneladas, segundo dados da Conab, com impulso da colheita gaúcha.
Em relatório divulgado nesta quinta-feira, a EarthDaily Agro, empresa de sensoriamento remoto com uso de imagens de satélites, afirmou que novas chuvas previstas para a zona do trigo nos próximos dias, principalmente em São Paulo, norte do Paraná e Mato Grosso do Sul, serão positivas para o desenvolvimento das lavouras.
Entretanto, a expectativa é de que a umidade do solo não aumente significativamente, permanecendo abaixo da média em várias regiões, especialmente no Paraná, onde será necessário maior volume para atingir níveis adequados, segundo a análise.
No Rio Grande do Sul, afirmou a EarthDaily Agro, o excesso de umidade previsto em partes do Estado pode facilitar a disseminação de doenças, exigindo atenção redobrada dos produtores.
(Por Roberto Samora)