Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – A área plantada com soja no Brasil na temporada 2024/25 poderá ter um dos aumentos mais baixos da história no maior produtor e exportador global da oleaginosa, diante de preços na bolsa de Chicago nos menores níveis em quase quatro anos, avaliou o presidente da Aprosoja Brasil, Maurício Buffon, nesta segunda-feira.
O presidente da associação brasileira dos produtores citou ainda como fator complicador para o avanço da área plantada os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul, tradicionalmente o terceiro produtor de soja do Brasil. Além de impactar as finanças dos agricultores gaúchos, as inundações destruíram as áreas agricultáveis e infraestruturas, entre o final de abril e maio.
“Acreditamos que a área plantada com soja terá um dos menores crescimentos, o produtor é sempre muito otimista, sempre faz o dever de casa, mas a realidade financeira que está batendo nas portas da grande maioria dos produtores deixa um crescimento bem comprometido”, disse Buffon, em entrevista durante o congresso anual da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).
Os preços da soja na bolsa de Chicago, referência global, estão cotados nos patamares mais baixos desde outubro de 2020, em meio a expectativa de um clima favorável para a safra dos EUA e preocupações com a economia norte-americana.
Nos últimos anos, a área plantada com soja vem tendo forte crescimento no Brasil. Em 2023/24, aumentou cerca de 4,5% ante o ano anterior, enquanto em 2022/23 avançou 6%, segundo números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
De acordo com o presidente da Aprosoja, o plantio nacional deve ficar quase estável na comparação com a temporada anterior.
“Não sei se (o crescimento) chega a 1%, temos de contabilizar a questão do Rio Grande do Sul, que teve algumas áreas devastadas, e não sei se consegue recuperá-las de uma safra para outra”, declarou Buffon.
Uma maior clareza sobre a intenção de plantio, acrescentou ele, deverá acontecer após a chegada das primeiras chuvas, que normalmente permitem o plantio entre meados de setembro e outubro.
“Por mais que algumas regiões cresçam alguma coisa, temos um pouco de área do Rio Grande do Sul que vai deixar de ser cultivada ou com soja ou com alguma outra cultura”, opinou.
Alguns analistas privados têm apontado também um menor aumento de área plantada com soja em relação ao histórico recente do Brasil, com 0,79%, na visão da StoneX, enquanto a Datagro projeta alta de 1,5%, no 18º crescimento anual consecutivo.
O presidente da Aprosoja afirmou ainda que, em momento de preços baixos, os custos estão altos, enquanto do dólar forte frente ao real neste momento não favorece, uma vez que produtores já venderam a maior parte de sua safra.
“Não podemos esquecer que o dólar favorece quando está vendendo. Quem tem produto para vender… Todo mundo vendeu com dólar de 5 reais, 4,80 reais…”, explicou.
Um dólar “caro” no momento da formação de custos também pode elevar despesas com insumos, como fertilizantes e defensivos.
Ele comentou que o produtor está aproveitando para travar preços para nova safra com o dólar nos patamares altos, na medida do possível, porque “olhando para Chicago a coisa não fica tão boa” na fixação de uma cotação.
“Por mais que venha travando os custos de produção, um dólar alto com Chicago mais fraco não traz rentabilidade para o setor… É um ano desafiador e com custos que precisam ser bem trabalhados para fechar a conta.”
(Por Roberto Samora)