Na imprensa argentina, a manchete é quase a mesma em todos os veículos: a onda de calor não dá trégua! E não dá mesmo. O final de semana, mais uma vez, foi de temperaturas extremamente elevadas, beirando ou superando os 40ºC, com algumas áreas pontuais recebendo pancadas rápidas de chuvas. Diante deste quadro, o SMN (Sistemana Meteorológico Nacional) renovou seus alertas para o calor intenso e os dias ainda muito secos na Argentina, em especial nas regiões da chamada Zona Núcleo, as principais de produção agrícola do país sul-americano.
Há pelo menos 20 províncias sofrendo com as temperaturas extremas e sob algum alerta neste momento na Argentina, inclusive já registrando perda de potencial em suas safras – em especial soja e milho. Entre elas estão San Juan, Mendoza, norte de Neuquén, Córdoba, San Luis, Salta, Chaco, Formosa, Santa Fe, Entre Ríos, Buenos Aires, Chubut, Río Negro, La Pampa, Corrientes, Misiones, Jujuy e Santiago del Estero.
O vídeo abaixo mostra as condições, em 2 de fevereiro, de lavouras de milho sofrendo com a falta de chuvas na província de Buenos Aires.
Dessa forma, segundo noticia o portal Infocampo, os produtores seguem esperando pela regularidade das chuvas, já que os mais recentes modelos climáticos indicam a chegada de alguns volumes nos próximos dias, mas ainda não de forma bem distribuída.
“Segundo meteorologistas, a Argentina tem sido afetada por uma massa de ar seco e quente e essa situação é atribuída a uma região de alta pressão estacionada no centro-sul da América do Sul, que não apenas mantém o tempo firme, mas também eleva as temperaturas devido à intensificação da incidência solar e fatores de aquecimento por precipitação atmosférica. Destaca-se que o país já registrou mais de dez dias consecutivos com temperaturas acima dos 40°C”, informa o boletim do Grupo Labhoro desta segunda-feira.
De acordo com as últimas análises da Bolsa de Comércio de Rosário, “a soja de primeira estava indo muito bem até a última semana, quando o calor começou e a falta de chuva começou a se manifestar em lotes de qualidade inferior. A perspectiva de uma grande safra começa a desaparecer e o primeiro elo que cede são os solos de baixa qualidade, onde há estresse acentuado e perda de rendimento”.
Os mapas abaixo, da Metsul, mostram que as previsões seguem indicando que o calor intenso tende a continuar nos próximos dias, pelo menos até 10 de fevereiro, no final desta semana, chegando, inclusive, ao Sul do Brasil e ao Mato Grosso do Sul. “Os dados dos modelos indicam que na segunda metade desta semana o centro da bolha de calor deve se deslocar gradualmente do Nordeste da Argentina e do Paraguai para o Rio Grande do Sul, o que fará com que as temperaturas se elevem ainda mais com tardes de calor excessivo”, informa a Metsul.
O instituto meteorológico explica ainda que já há muitos dias uma “bolha de calor” ou uma “cúpula de calor” atua na Argentina, nascendo de uma área de alta pressão “que atuam como cúpulas de calor, e têm ar descendente (subsidência). Isso comprime o ar no solo e através da compressão aquece a coluna de ar”.
Neste cenário, as previsões são de, pelo menos, mais dois dias quentes e secos para a Argentina, com apenas chuvas leves começando a aparecer em Buenos Aires no dia 8 de fevereiro, se espalhando um pouco mais a partir da sexta-feira, dia 9. “Para o período de 10 dias, leves acumulados são indicados para Córdoba, Santa Fé, Entre Rios, leste de
Buenos Aires e norte de San Luis. Acumulados moderados a fortes no oeste de Buenos Aires, nordeste de La Pampa, sul de San Luis e em grande parte de Santiago del Estero”, complementa o Grupo Labhoro.
Tais condições já fizeram com que, na última quinta-feira (1), a Bolsa de Cerais de Buenos Aires revisasse para baixo sua classificação para as lavouras argentinas de soja e milho. O índice de lavouras de soja em boas ou excelentes condições, em uma semana, caiu de 44% para 36%. São ainda 50% dos campos em condições regulares e 14% em situação ruim ou péssima, contra 48% e 8% da semana anterior, respectivamente.
E apesar da falta de chuvas, o relatório da bolsa apontou ainda que 77% das áreas dedicadas à soja no país estão ainda com condições hídricas adequadas e 23% em situação regular ou de seca. Os números, no entanto, também mudaram na semana, como mostra a imagem abaixo.
Já para o milho, a baixa na classificação das condições hídricas também caiu e, em uma semana, perdeu 15,4 pontos percentuais em um momento em que os campos se encontram em um estágio crítico de desenvolvimento.
Um novo boletim será reportado pela Bolsa de Cereais de Buenos Aires nesta quinta-feira, 8 de fevereiro. No mesmo dia chega o boletim mensal de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) que também poderia revisar suas projeções para as safras do país em função das adversidades. Caso venha um corte, porém, o mesmo deverá ainda ser superficial. Ainda assim, todos os alertas estão acesos sobre a nova temporada argentina, principalmente porque o país vinha se recuperando de três anos de perdas no campo em função das adversidades climáticas, com secas históricas se registrando, com perspectivas de colheitas ao menos regulares este ano.