Em um dia a soja em grão, no outro o farelo, no outro o óleo. Todo dia o complexo soja garante uma emoção diferente aos mercados e nesta terça-feira (16) não foi diferente. Os futuros do óleo perderam mais de 1% na Bolsa de Chicago, realizando lucros depois das altas fortes das últimas semanas e puxou a soja, que encerra os negócios com perdas de mais de 10 pontos entre as posições mais negociadas. No Brasil, mais uma alta do dólar frente ao real segue motivando negócios – o que também é um fator de pressão para a CBOT – garantindo preços melhores, em reais, para o produtor local.
PERDAS DO ÓLEO
No óleo, as perdas variaram entre 1,1 e 1,2%, com o maio sendo cotado a 44,94 e o julho a 45,48 cents de dólar por libra-peso.
“A queda do óleo de soja está atrelada à continuidade do movimento de queda do petróleo, assim como a desvalorização nos preços do óleo de palma. Nesta segunda, o óleo de palma recuou para seus menores níveis em seis semanas, diante da perspectiva de aumento na produção e procura mais lenta”, explica o time da Agrinvest Commodities.
Além disso, a divulgação dos estoques de óleo de soja nos EUA pela NOPA (Associação Americana de Processadores de Oleaginosas) também pesou, já que indicou um aumento de 9,5% em março na comparação com o mês anteriro. Assim, “todos os fundamentos corroboraram para um cenário de pressão sobre os preços do óleo e da soja”, afirma a consultoria.
PERDAS DO GRÃO
Além desta pressão vinda do mercado do óleo, os futuros do grão ainda sentiram o início “oficial” do plantio norte-americano 2024/25, com a divulgação dos primeiros números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) para os trabalhos de campo da nova temporada.
A área semeada com a oleaginosa chega a 3%, ligeiramente acima do esperado pelo mercado, que era de 2%. O índice é o mesmo de 2023, também neste período, e a média dos últimos cinco anos é de 1%.
Assim, o clima para o Meio-Oeste americano vai, aos poucos, se tornando o principal driver para as cotações e deve garantir bastante volatilidade ao mercados nos próximos meses. Em Illinois, maior estado produtor de soja nos EUA,
“O modelo GFS, gerado nessa tarde, resumidamente indica clima seco para o Kansas, Dakotas, norte de Minnesota, parte do leste do cornbelt, bem como para o sul dos EUA. Chuvas leves previstas para o centro do Corn Belt, bem como para o leste do Nebraska e da S. Dakota, grande parte do Texas. Já o modelo Europeu, gerado na madrugada, indica chuvas nos mesmos estados e regiões dos EUA, divergindo somente ao indicar menores volumes totais e também chuvas no Arkansas e Mississippi”, informa o diretor geral do Grupo Labhoro Ginaldo Sousa.
Ainda pesando sobre os preços da soja está o intenso movimento de alta do dólar frente ao real. A trajetória da moeda americana não se dá somente sobre a brasileira, porém, esta é a relação que, para o mercado da oleaginosa neste momento. A alta somente desta terça é de mais de 1,3%, com a divisa chegando a flertar com os R$ 5,30, mas caminhando para fechar o dia ligeiramente acima dos R$ 5,25, reduzindo ainda mais a competitividade do grão americano.
DÓLAR EM ALTA: SOJA BR x SOJA CHICAGO
Se o dólar em alta pesa sobre o mercado em Chicago, no Brasil, ajuda a, pelo menos, neutralizar as perdas, ajudando a manter níveis melhores no mercado brasileiro. Além disso, alta no dólar, peso também sobre as relações de troca para a próxima safra dado o encarecimento dos insumos importados pelo produtor brasileiro.
“O dólar aqui no Brasil com esta alta forte está trazendo muita pressão de venda. Os produtores estão correndo para vender aproveitando esta alta em reais, porque o produtor tem dívidas, todo mundo tem dívidas no fim do mês. Se chegamos ao final do mês, o dólar dá uma ‘esfriada’ e Chicago continua perto dos US$ 11,50, o produtor perde de R$ 4,00 a R$ 6,00 por saca, então, o produtor corre para fechar e os negócios estão caindo”, explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.
Os dados dos embarques e das vendas norte-americanas que são semanalmente reportados pelo USDA mostram certa fraqueza no programa de exportações dos Estados Unidos, o que justifica uma força da oferta brasileira no mercado internacional. Os números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) também justificam o atual momento, com números recordes nas exportações brasileiras de soja. De janeiro até agora, o Brasil já exportou mais de 28 milhões de toneladas.
“Estamos vendendo mais”, afirma Brandalizze. “No momento, essa alta do dólar é muito boa para o produtor, porque traz uma condição melhor para o produtor neste momento de pagar conta. Mas, mais para frete, o dólar em alta são os insumos em alta. Para quem precisa, essa é uma semana de cavalinho encilhado, já que não há garantia de que ela vá segurar as posições até o final do mês porque teremos muita pressão de oferta”.
E apesar de este ser apenas o começo da semana, as negociações estão avançando e se aproximam de três milhões de toneladas, ainda segundo relata o produtor, o que leva o volume da safra 2023/24 já comercializada a cerca de 72 milhões de toneladas, contra algo entre 85 e 90 milhões da média dos últimos cinco anos.