“A safra é uma dúvida grande, a Conab está no rumo certo – que é a redução da safra, mas por enquanto está com um número ainda bem acima da média que o mercado trabalha e isso está atrapalhando até Chicago”, afirma o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, sobre o número da soja trazido pela Companhia Nacional de Abastecimento de 155,3 milhões de toneladas na estimativa para a colheita brasileira de soja. Há ainda muitas perguntas a serem respondidas sobre a nova safra, em especial sobre as lavouras plantadas mais tarde, já que é sabido que os campos cultivados mais cedo foram os mais que mais sofreram.
Os trabalhos de colheita da soja 2023/24 no Brasil têm se intensificado e já é possível registrar que, além das perdas de potencial produtivo em volume, a diminuição da qualidade do grão colhido passou a ser uma questão também bastante latente entre o setor. Do mesmo modo, há regiões do país que ainda garantem bons índices de rendimento e podem compensar, ao menos em partes, as perdas de áreas que sofreram mais com todas as adversidades climáticas que continuam a ser registradas, em especial as do Centro-Oeste.
As imagens a seguir são da soja colhida no norte de Mato Grosso, por Alexandre Bandeira.
Enquanto as perguntas ainda não podem ser completamente respondidas, o complexo soja – dos produtores ao consumidor final – trabalha com as projeções das consultorias privadas – com muitas atualizações na última semana – e, depois da Conab, aguarda agora pelos novos números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), na sexta (12). E as expectativas já circulam pelo mercado.
De acordo com a especialista em commodities agrícolas da Reuters Internacional, Karen Braun, o departamento americano deverá reduzir sua estimativa sobre a produção brasileira de soja para, na média das projeções, 156,26 milhões de toneladas, em um intervalo de 151 a 161 milhões. Em dezembro, o número veio em em 161 milhões, contra 163 milhões de toneladas no reporte de novembro.
Até lá, o adido do USDA no Brasil já trouxe uma revisão em seus números para 158,5 milhões de toneladas, 3,5 milhões de toneladas a menos do que em sua última estimativa. “O corte se deu pelo clima muito ruim, em função do El Niño, particularmente nos estados do Centro-Oeste”, informou a instituição. Este número, porém, supera a maior parte das projeções particulares que começam a convergir para as 150 milhões de toneladas.
“150 milhões é um número bem avaliado, bem apreciado para este momento”, disse o diretor geral do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa. Ele explica ainda que as chuvas desde o último dia 30 de dezembro foram muito benéficas, porém, que não promoveram o mesmo efeito para todas as regiões produtoras. Nas áreas onde a soja foi plantada mais cedo,as precipitações já chegam tarde e as perdas, irreversíveis.
O vídeo abaixo, de Alexandre Bandeira, mostra a colheita da soja se iniciando no norte de Mato Grosso. “Estamos começando a colheita com a soja já bem avariada, uma soja semeada em 17 de setembro de 2023, com clima muito favorável para o plantio. Porém, no mês de outubro, pegamos somente 10 mm de chuvas e, em janeiro, excesso de chuvas. Essa é a nossa realidade aqui no norte de Mato Grosso, soja produzindo pouco, na média 30 sacas por hectare e, na média, 40% de (grão) ardido”, relata. “Custo alto, ano em que deveríamos colher um pouco mais por conta dos preços que não ajudam, mas essa é a nossa realidade”.
O cenário é semelhante na região de Rio Verde, no Goiás. O vídeo enviado por Alexandre Hercos traz os primeiros resultados de uma safra plantada em 1º de outubro, após 22 dias sem chuvas e com temperaturas na casa dos 35ºC, batendo os 40ºC em alguns períodos, deixando os campos bastante fragilizados. Há um ano, a produtividade média foi de cerca de 78,3 sacas por hectare e, nesta safra, sinalizam algo como 20 a 23 sacas por hectare.
Onde a colheita ainda não se iniciou, as expectativas também são preocupantes. Na região entre Óleo e Bernardino de Campos, em São Paulo, a redução de produtividade é também uma realidade e o que se espera para a colheita não anima os sojicultores. O vídeo a seguir traz as condições de uma lavoura plantada em 16 de outubro, sentindo os efeitos do sol forte e de mais de 30 dias sem chuvas. “A situação aqui na região de Bernardino de Campos é muito complicada”, explica o produtor.
As regiões Sudeste e Sul são agora algumas das que mais preocupam por conta do clima. O sul do Brasil sofre com o tempo seco, as precipitações mal distribuídas e os volumes limitados e lavouras que vinham bem perderam bastante de seu potencial produtivo. Na sequência, veja um vídeo do Norte Pioneiro do Paraná.
Abaixo, o relato de Erica Penaroti, mostrando as lavouras também sofrendo com a seca na região Oeste do Paraná.
Já em Campestre da Serra, no Rio Grande do Sul, o vídeo de Leila Panassol mostra lavouras mais saudáveis, já que foram plantadas mais tarde e pegaram chuvas melhores. Há ainda imagens que mostram as chuvas chegando à região de Tupanciretã, o que também pode garantir resultados satisfatórios para as lavouras.
Nesta quarta-feira, a Conab aumentou sua estimativa para a produção de soja na região Sul de 46,48 milhões para 46,53 milhões de toneladas nesta temporada, com um leve incremento sendo esperado na produção de Santa Catarina. Para o Centro-Oeste, em contrapartida, o volume esperado pela companhia caiu de 74,73 milhões para 70,82 milhões de toneladas de dezembro para janeiro. Neste caso, são esperadas safras menores em Mato Grosso – 40,20 milhões; Mato Grosso do Sul – com 13,57 milhões; e Goiás – 16,73 milhões de toneladas. Para o Nordeste o número saiu de 15,37 para 14,97 milhões de toneladas, enquanto foram mantidas 10,50 milhões no Norte. Para o Sudeste, a Conab estima que sejam colhidas 12,43 milhões de toneladas, contra 13,08 milhões projetadas no mês passado.
>> Clique AQUI e veja a íntegra do boletim de janeiro da Conab
Nos últimos dias – os primeiros de 2024 – as consultorias privadas atualizaram suas projeções para a safra brasileira de soja e, até esta quarta-feira, estes são alguns dos números:
– AgResource: 150,72 milhões de toneladas;
– Safras & Mercado: 151,3 milhões de toneladas;
– StoneX: 152,8 milhões de toneladas;
– Agricomp: 149,53 milhões de toneladas;
– Pine Agronegócios: 149,94 milhões de toneladas
– Cogo Inteligência em Agronegócios: 155,2 milhões de toneladas
“A área de plantio cresceu1,1 milhão de hectares – incremento de 2,6% – ante expansões médias de 2,4 milhões de hectares/ano nas últimas 3 safras. O excesso de chuvas no Sul e a restrição hídrica no MATOPIBA, PA e Centro-Oeste marcaram o plantio da atual safra. Foram contabilizados 650 mil hectares de replantios em áreas no Centro-Oeste, MATOPIBA e MG, além de ocorrências pontuais de abandonos de áreas e preparo para outros cultivos, com o algodão”, informou a Cogo Inteligência em seu reporte trazido no início desta semana.
E o boletim continua sinalizando que a “a previsão é de bons volumes de chuvas entre janeiro/2024 e março/2024, o que deverá favorecer as lavouras do Brasil Central e atenuar a estiagem no MATOPIBA”. E com isso, veio a redução estimada para a safra brasileira para 155,2 milhões de toneladas. “Uma quebra de 5% ante a estimativa inicial de 163,4 milhões de toneladas, destacando que as boas produtividades previstas para as regiões Sul e Sudeste deverão compensar parte das perdas previstas para as regiões Centro-Oeste e do MATOPIBA. Os cortes efetuados até este momento trata de quebras irreversíveis e novas reduções de produtividade deverão ser contabilizadas no relatório que será enviado em fevereiro/2024”.
Apesar de tantas mudanças, na Bolsa de Chicago os preços seguem recuando e reforçando os sinais de que está contabilizando mais fatores do que a quebra de safra que vai se confirmando no Brasil. “Cortes superficiais da safra brasileira pela Conab não afetam o mercado soja. E o relatório do USDA deve vir no mesmo sentido, mantendo a pressão sobre as cotações”, afirma o time da Pátria Agronegócios em seu informe diário. Nesta quarta, depois do março, o contrato maio/24 na CBOT também chegou a testar momentos de operação abaixo dos US$ 12,50 por bushel.