Depois de um mês sem o anúncio de novas vendas, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) informou uma nova venda de soja para a China nesta sexta-feira de 297 mil toneladas. O volume é todo da safra 2023/24. E as vendas feitas no mesmo dia, para o mesmo destino e com volume igual ou superior a 100 mil toneladas devem sempre ser informadas ao departamento americano.
Ao ser questionado sobre o atual momento da demanda chinesa, o diretor geral do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa, é direto e taxativo. “Fraca. Eles têm pela frente um longo feriado de ano novo. E devem comprar alguma coisa mais antes desse feriado, mas nada substancial”. Neste ano, um dos feriados mais importantes da nação asiática será comemorado em 10 de fevereiro e durante o período de festividades – que dura mais de uma semana – o mercado fica ainda mais esvaziado de notícias, dados e novas operações com os chineses.
A análise do diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira, é semelhante, porém, reforça que as importações de soja pela China estão asseguradas em patamares ainda bastante elevadas, depois do recorde de 2023 de compras de mais de 100 milhões de toneladas, com a maior parte sendo de produto brasileiro. “Esta época do ano passa esta impressão de que a China está desacelerando. Porém, também sempre nesta época do ano eles criam este planejamento. Primeiro, a cobertura de compras. Eles começam a fazer as aquisições no último ciclo safra para cobrir este início de ano”, diz. E lembra que estas “teorias” de que a demanda chinesa possa ser menor sempre aparecem neste período, porém, os anos têm se findado com aumentos nas compras da oleaginosa.
Outro ponto, porém, que aparece como uma convergência nas análises sobre o consumo da China é a de que ela segue bastante presente, segue crescendo, mas de forma mais contida e escalonada. “Apesar deste momento estratégico da China, é normal desacelerar as compras por agora, principalmente sabendo que o Brasil está em período de aceleração de colheita”, afirma Pereira.
Dados recentes sobre a economia da China trouxeram ao mercado alguns sinais ou pré-sinais de como o consumo deve se comportar neste ano, em especial em um momento de recuperação pós pandemia e três anos de medidas muito restritivas à população, que impactaram o consumo diretamente, inclusive de alimentos. No ano passado, a economia chinesa 5,2% em 2023, um pouco mais do que a meta oficial, mas registrando uma recuperação mais frágil do que muitos analistas e investidores esperavam. O gigante asiático foi marcado por um agravamento da crise imobiliária, riscos deflacionários e demanda fraca, evidenciando as incertezas sobre as perspectivas para este ano.
“A recuperação da Covid – por mais decepcionante que tenha sido – acabou”, de acordo com a última pesquisa do Livro Bege Internacional da China divulgada nesta quarta-feira (16), segundo noticiou a Reuters Internacional. “Qualquer aceleração real exigirá uma grande surpresa global positiva ou uma política governamental mais ativa”, traz o informe.
Assim, nestas perspectivas incertas está também a demanda do país não só pela soja neste ano, mas por grãos de uma forma geral. “A China está presente, a demanda está sempre aí, mas a grande dúvida é se a China consegue acompanhar, em níveis de consumo, o crescimento da oferta, porque a oferta vem subindo nos últimos anos e o aumento do consumo chinês, do consumo global, não sobe no mesmo ritmo. Os números mostram que o consumo está sempre presente, os números mostram isso, mas a dúvida é com relação ao crescimento dele daqui para frente”, explicou Luiz Fernando Gutierrez, analista da Safras & Mercado.
Ainda de acordo com o especialista, com um ritmo mais lento de crescimento do PIB do país, “naturalmente se projeta um ritmo de crescimento menor no consumo de proteínas animais, que reflete em consumo de grãos, em consumo de farelo de soja. Então, é isso que o mercado olha. O mercado sempre olha para frente. Mas, agora, não podemos falar que há um grande problema com relação à demanda chinesa, ela continua aí, está sempre presente, e a China continua comprando bastante”.
De acordo com os dados publicados pela Administração Geral das Alfândegas da China nesta semana, as importações de soja pelo país de janeiro a dezembro de 2023 somaram 99,410 milhões de toneladas, 11% a a mais do que no mesmo período do ano passado. No mesmo período, as compras de milho cresceram 32%; as de trigo 22% e as de cevada 97%.
A última estimativa do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), reportada em 12 de janeiro, foram de importações de soja pela nação asiática em 102 milhões de toneladas.