As temperaturas elevadas no sul do Brasil têm criado um ambiente bastante propício para o aumento dos casos confirmados de ferrugem asiática nas lavouras de soja. O Rio Grande do Sul viu os números explodirem nas últimas semanas e, de acordo com dados do Consórcio Antiferrugem, são 86 ocorrências até este momento, com 22 confirmações somente nos últimos 30 dias. Em todo Brasil, o número de casos chega a 263.
O Rio Grande do Sul fica atrás apenas no Paraná, que contabiliza até agora 123 casos. E segundo especialistas, a doença apareceu mais cedo nesta tempoerada 2023/24 e deve tirar bastante do potencial produtivo da soja brasileira até a conclusão da safra.
“Este ano, em todo o Sul do Brasil, temos uma pressão da ferrugem. Essa é uma doença, realmente, muito impactante, porque ela evoluiu muito rapidamente e causa danos muito severos”, explica o professor Elmar Floss, fisiologista e diretor do Incia (Instituto de Ciências Agronômicas) em entrevista ao Notícias Agrícolas. “E depois que ela já entrou, os fungicidas curativos têm baixa eficiência. Contra a ferrugem, a gente ganha o jogo preventivamente”.
Ainda segundo o professor Floss, diante de um ambiente como este, os cuidados com o manejo têm de ser redobrados, principalmente, com os melhores momentos de aplicação e a forma como será feita para que os efeitos sejam eficazes. “A doença está instalada e enquanto tiver condição de umidade dentro da célula, o fungo vai se desenvolvendo. Então, não deixe de cumprir um calendário adequado”, com o produtor atento às temperaturas e precipitações.
“Sempre que há um ano de temperaturas altas e umidade, a pressão do patógeno é maior. Então, nestas condições, tem que encurtar o período. A ferrugem começa sempre no baixeiro. Quando começam a aparecer aqueles ‘carijozinhos’ na folha velha é o sinal evidente de que o fungo da ferrugem já está instalado na sua lavoura. Não deixe ele subir! Vamos aplicar uma combinação de fungicidas, já que não temos hoje um fungicida que, sozinho, controle eficientemente todos esses patógenos, precisando de uma combinação. E também fazer rotação de moléculas, porque com a mesma molécula induzimos a a resistência do fungo a fungicida de forma muito mais acelerada”, complementa o especialista.
Os alertas têm sido feitos também pela Embrapa Soja, em especial pela pesquisadora Cláudia Godoy. “Nas lavouras semeadas mais tardiamente a ferrugem-asiática pode ocorrer mais cedo, em razão do aumento de inóculo do fungo proveniente das lavouras semeadas mais cedo”, explica. Além disso, Cláudia tem avaliado também os vídeos que circulam nas redes sociais mostrando o ataque bastante severo da ferrugem, em especial no Sul do Brasil, e afirma que é possível perceber que houve falhas de controle e que, frente a isso, uma das principais orientações aos produtores é a esolha dos produtos que serão aplicados nos campos.
A maior parte das ocorrências de ferrugem têm se confirmado em lavouras em estágio avançado de desenvolvimento – R5 – como mostra o gráfico abaixo.
Atualmente, os fungicidas mais usados pertencem a três grupos distintos (sítio específicos) que atuam em pontos específicos do fungo P. pachyrhizi, causador da doença: os Inibidores de desmetilação (IDM, “triazóis”), os Inibidores da Quinona externa (IQe, “estrobilurinas”) e os Inibidores da Succinato Desidrogenase (ISDH, “carboxamidas”), ainda de acordo com a Embrapa Soja.
Desta forma, como explica a pesquisadora, “o controle da ferrugem-asiática está cada vez mais difícil pelo fato do fungo apresentar menor sensibilidade a esses três grupos de fungicidas. Além disso, nos últimos anos, foi relatada uma nova mutação no fungo, influenciando a eficiência dos fungicidas que possuem os ingredientes ativos protioconazol e tebuconazol (IDM) na sua composição”. E como orientou o professor Floss, Cláudia também orienta os produtores sobre a rotação de de moléculas a adição de fungicidas multissítios com o objetivo de ampliar e intensificar a eficiência do controle.
Entre as informações que estão circulando nas redes sociais estão as do engenheiro agrônomo, fitopatologista e especialista em fungicidas, Dr. Lucas Navarini, que tem alertado sobre a ferrugem e também fito nas lavouras em que tem visitado no Rio Grande do Sul.
“Esse é um dos piores Temos uma lavoura com fito de triazois, com ferrugem, nas folhas que ainda estão verdes com muita ferrugem, e a soja sofrendo com a falta de água. Então, temos três coisas juntas que não estão relacionadas mas estão prejudicando a soja: a ferrugem pegou forte, a aplicação veio atrasada – deu muita fito – e aliado a esse estresse hídrico prejudicando ainda mais o resultado dessas lavouras. A recomendação que eu faço é para que evitem misturar os curativos. Nestas situações de emergência, o que mais resolve, como extintor de incêndio, é o protetor multissítio”, afirma Dr. Navarini.
Abaixo, veja um de seus vídeos e acompanhe os demais em seu perfil no Instagram:
O presidente da Aprosoja RS, Irineu Orth, afirma que a forte incidência da ferrugem e a falta de chuvas são, agora, duas das maiores preocupações para a safra de soja do Rio Grande do Sul. E por conta de ambos, as projeções que ainda apontam para uma safra no estado de mais de 22 milhões de toneladas não deverão se confirmar, segundo ele. “Não devemos mais alcançar isso. As chuvas podem voltar e recuperar um pouco, mas ainda vamos ter prejuízos. Esse já é um número difícil de atingir.
Assim, a orientação do presidente é de que os produtores mantenham sua programação de aplicação em dia e se adaptando às condições climáticas, mas nunca deixando de fazer a prevenção.
Os novos números da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para a safra brasileira de soja chegam nesta quinta-feira, 8 de fevereiro.
O sul do Brasil ainda deverá continuar registrando elevadas temperaturas com a onda de calor que castiga também a Argentina e é esperado que, pelo menos até o final desta semana, este seja o cenário. Os efeitos do fenômeno chegam ao Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e partes do Mato Grosso do Sul e do Paraguai.
“O modelo GFS (americano), atualizado nesta manhã, indica para os próximos 5 dias clima seco para o Sul do Brasil, em SP, sul do MS, leste da BA e do PI’, informou o Grupo Labhoro em seu reporte diário.