Nesta sexta-feira (23), o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) informou uma nova venda de soja de 120 mil toneladas para destinos não revelados. Com este informe, o país fechou a semana reportando vendas todos os dias seguidos, com um volume comprometido da oleaginosa 2024/25 com as exportações chegando a 1,394,492 milhão de toneladas. E foram essas as notícias as determinantes para garantir equilíbrio ao mercado diante de novas perspectivas de uma safra recorde se garantindo nos Estados Unidos.
A China se apresentou, durante toda a semana, como o principal comprador da oleaginosa norte-americana, confirmando não só uma presença mais forte no mercado dos EUA, como a competitividade maior deste produto em detrimento do brasileiro, ao menos por hora.
“Não só a demanda se tornou um suporte, mas o mercado criou um consenso. E quando há este consenso mercadológico há um mercado que já se precifica diante de uma safra cheia nos EUA”, explica o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira.
Ainda nesta semana, a Administração Geral das Alfândegas da China informou os dados das importações de soja do país, com números que triplicaram no mês passado de grãos dos Estados Unidos. As compras chinesas, em julho, foram de 475.392 toneladas dos Estados Unidos no mês passado, em comparação com 142.129 toneladas no ano anterior, de acordo com os números reportados em 20 de agosto.
Apesar disso, a principal origem fornecedora para o maior comprador global de soja continua sendo o Brasil, de onde foram importadas 9,12 milhões de toneladas, do total importado de 9,85 milhões.
Assim, com a oferta já esperada para ser bastante robusta – com uma safra global 2024/25 sendo esperada em 428,7 milhões de toneladas – as atenções se voltam não só para o tamanho da demanda, mas para o comportamento do demandador.
“Ainda tem muita soja na China, na mão das processadoras, soja do Brasil que foi carregada nestes últimos quatro meses e que está chegando lá. Em algum momento, isso vai começar a cair, mas ainda está confortável. E com os compradores de farelo “não convencidos” de que vai faltar produto, não adianta as processadoras comprarem soja se não consegue vender farelo no mesmo ritmo. Este é o ponto. A demanda, pensando em vendas de ração, é 4% menor em relação ao ano passado. Mas, (de soja), não é falta de demanda, mas sim uma percepção de que o consumidor de rações não precisa se adiantar nas compras pensando lá na China”, explica o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest.
O intervalo monitorado agora se dará entre a conclusão da safra 2023/24 do Brasil e a chegada efetiva da soja 2024/25, primeiramente, dos EUA e, na sequência, do Brasil. Agora, chama a atenção, ainda como explica a Agrinvest, que a soja dos EUA mantém um desconto em relação à brasileira para exportação para a China na janela de setembro a novembro.
“Mas, essa diferença diminuiu em relação à semana passada. O mercado segue acompanhando de perto o ritmo das vendas para exportação americano, que ainda está abaixo do necessário para atingir a meta do USDA de 50,3 milhões de toneladas até agosto de 2025. Aqui no Brasil, os prêmios da soja estão em alta, assim como os prêmos do farelo e do óleo”, traz a consultoria.
E os prêmios sustentados por aqui, ainda de acordo com os analistas, é por conta de uma falta de soja que já se registra em alguns estados como Mato Gorsso e Goiás. “Para comprar soja, as processadoras estão tendo que pagar basis cada vez mais altos, o que tem se transmitido aos basis dos derivados”.
Esse quadro tem, inclusive, promovido uma necessidade maior de importação de soja pelo Brasil, já que os estoques nacionais deverão ser alguns dos mais baixos da história. “Falta produto. Temos estoques estimados pela Pátria em 2,26 milhões de toneladas, os menores desde a safra 2004/05”, explica Matheus Pereira, que traz ainda a estimativa de importação pelo Brasil nesta temporada em 1,650 milhão de toneladas.
“Grande parte dos importadores, dos compradores de soja que compram dos nossos vizinhos, são exportadores. Estamos com um volume elevado de washouts, navios que vinham ao Brasil carregar com a nossa soja, mas não tem produto. E pagando washout ou demurrage, temos que originar nos nossos vizinhos, como o caso do Paraguai”, relata o diretor da Pátria. “Estive recentemente no Paraguai e eles me disseram que nunca houve tanta demanda de compradores do Paraná, do Mato Grosso do Sul, tradings buscando soja dentro do Paraguai para levar ao Brasil e honrar os compromissos de exportação, principalmente”.
E neste segundo semestre,a tendência é de que as indústrias paguem um pouco mais pela soja para retê-la no país, como já se observa em regiões como Sul do Mato Grosso, Sudoeste e Sul do Goiás, Triângulo Mineiro, praças que estão pagando prêmios e garantindo a soja em seu poder.