Novas cultivares de soja da Embrapa apresentam elevado patamar de produtividade

A Embrapa Soja e a Fundação Meridional estão colocando no mercado, na safra 2023/2024, duas novas cultivares de soja (BRS 1056IPRO e BRS 1064IPRO) que se destacam por apresentar ótimo potencial produtivo, sanidade, além das características da tecnologia Intacta RR2PR. Essas cultivares transgênicas possuem tolerância ao herbicida glifosato, o que facilita o controle de plantas daninhas e também agrega resistência a algumas lagartas (um gene Bt cry1Ac).

“Além de altamente produtivos, os lançamentos da Embrapa na safra 2023/24 também marcam o reposicionamento comercial da Empresa, que, com a Fundação Meridional, vem adotando novas estratégias de acesso ao mercado, de posicionamento de produto e escala de produção junto a cooperativas, grandes empresas de sementes e revendas agrícolas”, conta Carina Rufino, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Soja.

A BRS 1056IPRO tem como ponto forte a alta performance produtiva. A cultivar vem superando os rendimentos das melhores cultivares, com ciclos próximos, disponíveis no mercado, nas regiões de indicação de cultivo. Ela ainda apresenta estabilidade de produção, resistência ao acamamento, tipo de crescimento indeterminado e ciclo precoce.

“Essa cultivar tem chamado a atenção por reunir muitos aspectos positivos e relevantes para o planejamento, que almejam altos rendimentos”, diz o pesquisador da Embrapa Carlos Lásaro Melo. “Também agrada o fato de ela possibilitar o plantio antecipado, o que permite a sua inserção no sistema de rotação ou sucessão com outras culturas, nas regiões ou sistemas de produção que demandam essa semeadura antecipada”, ressalta Melo.

Lançamento
A Embrapa Soja e a Fundação Meridional vão lançar as cultivares de soja BRS 1056IPRO e BRS 1064IPRO, na Vitrine de Tecnologias da Embrapa, durante o Show Rural Coopavel, a ser realizado de 05 a 09 de fevereiro de 2024, em Cascavel (PR). O evento abre o calendário de feiras agropecuárias brasileiras. Em 2023, a organização registrou 600 expositores, 384.122 visitantes e movimentou 5 bilhões de reais em volume de negócios.

BRS 1056IPRO apresenta resistência às principais doenças da soja, principalmente à podridão parda da haste e à podridão radicular de Phytophthora – Fotos: Hugo Kern

Resistência às principais doenças da soja

Com relação à sanidade, a BRS 1056IPRO apresenta resistência às principais doenças da soja, principalmente à podridão parda da haste e à podridão radicular de Phytophthora. Ela é indicada para algumas regiões edafoclimáticas (RECs): Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná (RECs 102 e 103) e São Paulo (REC 103). “Conforme resultados de pesquisa da safra 2022/2023, a BRS 1056IPRO apresentou mérito agronômico para indicação no Paraná (REC 201), principalmente para as regiões acima de 600 metros de altitude. Portanto, estará indicada para semeadura também nessa região a partir da safra 2024/2025”, anuncia Melo.

Henrique Menarim, responsável técnico da Menarim Sementes, de Ventania (PR), avalia que a BRS 1056IPRO concorre diretamente com um dos principais materiais mais plantados no Paraná. Comparativamente, ele observa que a cultivar recém-lançada apresenta a vantagem da antecipação do plantio. “Com a BRS 1056IPRO, temos a possibilidade de antecipar a época de semeadura para fim de setembro ou início de outubro, obtendo melhor desempenho comparado com a concorrente, cuja melhor época para plantio é de meados de outubro em diante”, analisa Menarim.

“É um material que tem uma excelente sanidade foliar e o sistema radicular bem agressivo. É possível trabalharmos com uma população um pouco menor, já que é um material que ramifica bem e responde em produtividade para áreas de média e alta fertilidade”, complementa o técnico.

Ganho produtivo de 6,8% acima da média de mercado
Outro lançamento desta safra é a cultivar BRS 1064IPRO, que também possui excelente desempenho produtivo, com alta estabilidade e boa adaptação. “Essa cultivar apresentou ganho produtivo de 6,8% acima da média das principais cultivares padrões de mercado, de amplo cultivo na macrorregião de indicação”, destaca Melo.

BRS 1064IPRO apresenta ampla janela de semeadura e de adaptação, e registra ótimo desempenho também na abertura de plantio, que é um atrativo para produtores interessados no cultivo do milho segunda safra

Ela é indicada para os estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, além de ser recomendada para o centro-norte de Mato Grosso do Sul e sudoeste de Goiás (REC 301). A BRS 1064IPRO apresenta ampla janela de semeadura e de adaptação, e registra ótimo desempenho também na abertura de plantio, que é um atrativo para produtores interessados no cultivo do milho segunda safra. Essa cultivar apresenta ainda resistência ao acamamento e às principais doenças da soja, principalmente à podridão radicular de Phytophthora.

Em avaliações preliminares de campo, em área infestada, a cultivar também apresentou uma boa tolerância à macrophomina e novos estudos serão realizados para confirmar esse comportamento. Outro destaque que torna a BRS 1064IPRO bastante promissora é sua resistência aos nematoides de galha e de cisto (raça 3), problemas bastante recorrentes nas regiões para as quais ela está sendo indicada.

Os produtores que testaram a BRS 1064IPRO registraram experiências positivas. Valcir Siqueira da Mata, de Nova Santa Bárbara (PR), afirma ter ficado surpreso com a produtividade e a sanidade da nova cultivar. “Atualmente, na minha propriedade, eu venho obtendo uma produtividade em torno de 70 sacas por hectare. Eu tive a grata surpresa de colher 80 sacas por hectare com a BRS 1064IPRO. Eu recomendo. A Embrapa está de parabéns! Com certeza é um material que vai despontar nos próximos anos”, relata.

Para Paulo Pinto de Oliveira Filho, diretor-presidente da Fundação Meridional, o lançamento dessas duas cultivares é um marco histórico da parceria com a Embrapa Soja. “Em 2024, completamos 25 anos de nossa instituição e já desenvolvemos 70 cultivares de soja nesse período. No entanto, a BRS 1056IPRO e a BRS 1064IPRO atingiram patamares de rendimento com muitas características agronômicas favoráveis que não tínhamos até o momento”, destaca Oliveira.

Ralf Udo Dengler, gerente executivo da Fundação Meridional, comenta sobre a forte adesão das empresas produtoras de sementes, que se iniciou na safra 2022/2023. “Ainda na fase de pré-lançamento comercial, já tivemos uma produção bem expressiva de sementes. Com uma forte demanda pela BRS 1056IPRO e pela BRS 1064IPRO, nossos colaboradores ampliaram significativamente as áreas na safra 23/24, para garantir o atendimento do mercado”, destaca Dengler.

Manejo de plantas daninhas para retardar o surgimento de resistência
O manejo integrado de plantas daninhas consiste na adoção de um conjunto de medidas para prevenir e controlar o aparecimento e disseminação de plantas daninhas. Para o pesquisador da Embrapa Fernando Adegas, é preciso investir na integração entre práticas de manejo que envolvam o controle químico, como a rotação dos mecanismos de ação dos herbicidas, a rotação de culturas (pelo menos na entressafra da soja), o uso de espécies para produzir uma boa palhada, a limpeza de máquinas e implementos agrícolas, assim como o uso de sementes de qualidade e livres de infestantes. “Em se tratando de controle químico, a principal solução para evitar o aparecimento ou disseminação de plantas daninhas resistentes é planejar a utilização de herbicidas de diferentes mecanismos de ação”, afirma o pesquisador.

Pesquisador da Embrapa, Fernando Adegas: “Em se tratando de controle químico, a principal solução para evitar o aparecimento ou disseminação de plantas daninhas resistentes é planejar a utilização de herbicidas de diferentes mecanismos de ação”

Em relação às culturas geneticamente modificadas, a alta frequência de utilização do glifosato tem provocado uma forte pressão de seleção de indivíduos resistentes. O uso intensivo do glifosato acarretou grande pressão de seleção sobre as plantas daninhas, resultando na seleção de 12 espécies resistentes: azevém (Lolium perene spp multiflorum), três espécies de buva (Conyza bonariensis, C. canadensis, C sumatrensis) capim-amargoso (Digitaria insularis), caruru-palmeri (Amaranthus palmeri), caruru-gigante (Amaranthus hybridus), capim-branco (Chloris elata), capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), leiteiro (Euphorbia heterophylla), capim-arroz (Echinochloa crusgalli) e picão-preto (Bidens subalternans).

Manejo de lagartas e refúgio
As cultivares com a tecnologia Intacta RR2PRO proporcionam controle de quatro insetos-pragas: lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis), falsa medideira (Chrysodeixis includens), lagarta das maçãs (Chloridea virescens) e broca-das-axilas (Crocidosema aporema). Além disso, oferece supressão (controle menos efetivo) à lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e à Helicoverpa armigera. A tecnologia não provoca mortalidade das lagartas do complexo Spodoptera: Spodoptera eridania, S. cosmioides, S. frugiperda e S. albula.

“Por esse motivo, o monitoramento nas lavouras com a tecnologia Intacta deve seguir as premissas do Manejo Integrado de Pragas”, enfatiza o pesquisador Daniel Sosa-Gómez. Isso indica que a aplicação de inseticidas deve ser feita apenas quando for atingido o nível de ação. “O nível de ação recomendado para iniciar o controle é de 20 lagartas grandes (maiores de 1,5 cm) por metro de fileira de soja ou 30% de desfolha no período vegetativo e 15% se a cultura estiver no estágio reprodutivo de desenvolvimento”, explica. Além disso, segundo o pesquisador, o produtor deve dar preferência aos inseticidas seletivos, que controlam a praga, sem afetar a atividade de inimigos naturais e polinizadores, e ao controle biológico.

Sosa-Gómez também reforça a necessidade de utilização de áreas de refúgio para evitar a seleção de populações de lagartas resistentes nas lavouras com a tecnologia Intacta RR2 PRO. Segundo ele, o refúgio consiste na semeadura de sementes Bt em 80% da área total de soja e 20% de sementes não Bt. A manutenção das áreas de refúgio é uma medida preventiva que consiste na coexistência de lavouras com a tecnologia Intacta RR2 PRO ao lado de plantas não dotadas desta tecnologia, a uma distância inferior a 800 metros. “Essa distância possibilita o acasalamento das mariposas e permite a manutenção de populações de lagartas suscetíveis, retardando a seleção de lagartas resistentes”, explica o pesquisador.

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