Por Ana Mano e Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – A empresa familiar brasileira Potencial está pronta para aumentar as vendas em 2024 na esteira do aumento da mistura de biodiesel no diesel, e dá passos para a verticalização, com a construção de uma processadora de soja para abastecer a usina do biocombustível, disse o vice-presidente da companhia Carlos Hammerschmidt em uma entrevista.
A Potencial já opera a maior usina de biodiesel do Brasil, com uma capacidade de 900 milhões de litros por ano.
“Hoje, a diretriz da empresa é ser protagonista na transição energética sustentável,” disse Hammerschmidt, cujo avô fundou a companhia como uma pequena rede de postos de gasolina no sul do Brasil na década de 1950. “A sobrevivência do nosso mercado depende de inovação e temos que estar preparados.”
O executivo também destacou que o pico de consumo de petróleo será em 2030, o que abriria a possibilidade de aumentar as vendas de combustíveis menos poluentes, inclusive para o abastecimento de aviões, com o SAF (do inglês, combustível sustentável de aviação), negócio ainda incipiente no mundo que a Potencial poderia entrar num futuro próximo.
Neste ano, o governo brasileiro aumentou a mistura obrigatória de biocombustível no diesel de 12% para 14% e estabeleceu março de 2025 como o prazo para aumentá-la para 15%.
Com o crescimento da demanda por combustíveis mais limpos, Hammerschmidt prevê que as vendas totais do grupo chegando a 12 bilhões de reais em 2024, acima dos 10 bilhões de reais estimados para 2023.
Atualmente, o biodiesel responde por cerca de 35% das receitas da Potencial, disse ele.
A empresa começou a produzir biodiesel há 12 anos e atualmente está investindo 2 bilhões de reais para construir uma nova esmagadora de soja para produzir farelo de soja e também óleo de soja, que será usado como matéria-prima para produzir mais biodiesel.
A nova instalação está sendo financiada com capital próprio, disse o executivo.
O clima do Brasil e a abundância de culturas para a produção de biocombustíveis, incluindo soja para biodiesel e cana-de-açúcar e milho para etanol, são um chamariz para grandes investidores.
Empresas estrangeiras, como a Cargill e a chinesa Cofco, competem com a Potencial no setor de biodiesel. As multinacionais compraram usinas existentes ou as construíram do zero, como a ADM fez no estado do Mato Grosso anos atrás.
A Potencial, com um balanço forte e pouco alavancado, torna-a uma excelente candidata a uma aquisição.
“Todos os dias bate alguém na porta e falam: querem comprar a sua empresa”, disse Hammerschmidt, que acrescentou que seus resultados são auditados.
Mas a empresa não está à venda. “Não é apenas a questão financeira que nos move. Meu pai construiu isso aqui do zero.”
Também atuante em distribuição de combustível e logística, a companhia está gradualmente adaptando sua própria frota de caminhões para operar com biodiesel.