O mercado brasileiro da soja está apoiado nos prêmios e no dólar neste momento. Embora a semana esteja sendo de algum fôlego para as cotações na Bolsa de Chicago – com o agosto saindo de US$ 10,78 para US$ 10,97 por bushel, de segunda (15) até quinta-feira (18) – e o novembro de US$ 10,40 para US$ 10,42 no mesmo intervalo, a demanda forte pelo produto brasileiro tem dado um espaço importante para o fortalecimento dos prêmios, formando indicadores ainda importantes para o produtor.
Os prêmios para agosto, por exemplo, testaram 50 centavos de dólar positivos nos portos brasileiros, enquanto o setembro foi a 123 cents sobre os valores praticados na Bolsa de Chicago, registrando um nível recorde para o presente ano comercial. A movimentação é expressiva e reflete, entre outros fatores, a demanda ainda concentrada no mercado nacional. Os prêmios para a soja da atual temporada, afinal, chegou a registrar níveis negativos de mais de 100 cents – ou US$ 1,00 – por bushel em relação às cotações da CBOT.
“Temos um rally de 223 pontos (no setembro, para os prêmios no Brasil) que, somente por prêmios, dá uma base de sustentação de cerca de R$ 25,00 por saca, no mercado spot. Então, os prêmios criando essa sustentação e equilibrando um pouco mais do mercado interno brasiliro”, explica Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios.
Essa movimentação dos preços acompanha a oferta mais ajustada no Brasil neste momento, com o volume de soja comprometida com a exportação crecendo e já apontando para um incremento de 1,8% em relação ao mesmo período do ano passado, com mais de 79 milhões de toneladas comprometidas. Em relação à média dos últimos cinco anos, o aumento é de mais de 20%.
“As importações de soja do Brasil podem perder um pouco de ritmo a partir de agora não por falta de demanda, mas por falta de oferta”, afirma Pereira. “Se colocarmos próximos de 100 milhões de toneladas de soja para fora do país em 2024, não sobra produto nem para fazer óleo vegetal dentro do nosso país. Não temos soja suficiente para abarcar uma demanda que seria equiparável ao ano passado. Então, vamos perder ritmo agora por falta de produto, o que vai incentivar a elevação mais abrupta dos prêmios de exportação”.
Neste ambiente, como explica o analista, o importante será acompanhar o peso das referências de Chicago, na via oposta destes prêmios em ascenção, para a formação dos preços da soja para o produtor brasileiro. “Vamos ter que acompanhar e entender o quanto pode cair Chicago para prejudicar a recuperação dos preços físicos por prêmios de exportação. Está aí a grande chave da questão para o segundo semestre”.
Além das exportações fortalecidas, o mercado está atento também à demanda interna pela soja, porém, o diretor da Pátria chama atenção ainda por um disputa da indústria processadora brasileira que é sazonal e tende a aumentar agora, no segundo semestre. “Começamos a ter agora os prêmios regionais, que que são indústrias locais que começam a pagar mais pelo produto, e isso acontece em regiões mais industrializadas”, diz.
Reveja a entrevista de Matheus Pereira à edição desta quinta-feira do Bom Dia Agronegócio, no Notícias Agrícolas:
Com os prêmios testando os melhores níveis do ano comercial 2023/24 na posição setembro e o dólar voltando a subir forte frente ao real – e testando, mais uma vez, patamares próximos dos R$ 5,60 – os preços da soja também registraram uma quinta-feira melhor no mercado nacional. Nos portos, a oleaginosa da safra atual voltou a superar os R$ 135,00 por saca, chegando a testar, no porto de Paranaguá, R$ 139,50 no outubro.
BOLSA DE CHICAGO
Nesta quinta-feira, os preços da soja testaram os dois lados da tabela na Bolsa de Chicago, mas conseguiram se sustentar em campo positivo, com pequenas altas de 1,25 a 2,50 pontos entre as posições mais negociadas. O mercado mantém o foco em seus fundamentos, mas sem desviar suas atenções do cenário político nos EUA.
“O cenário mais positivo para a demanda da oleaginosa americana, somada com a alta do óleo de soja, acabam trazendo suporte ao ativo. Contudo, os ganhos foram limitados pela queda do milho e pela desvalorização do real, deixando a soja brasileira mais competitiva.
O mercado segue pressionado pelas perspectivas de uma oferta grande nos EUA. A safra 2024/25 se desenvolve bem no país, com um volume superior a 120 milhões de toneladas podendo ser colhida, registrando um salto considerável em relação à temporada anterior, e podendo também promover um aumento dos estoques – inclusive os globais na próxima temporada -, pressionando as cotações, como explica o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira.
A corrida presidencial nos EUA também é mais um ponto de atenção dos traders, com a possibilidade cada vez mais próxima de Donald Trump assumir mais uma vez a Casa Branca e, consequentemente, as elevadas chances de um agravamento da guerra comercial entre chineses e americanos.