Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – Não bastassem a seca e o tempo quente que devem adiar o início do plantio em muitas áreas do Brasil, até a chegada das chuvas, a queima da palhada nas lavouras é um “agravante” para o início dos trabalhos da safra 2024/25 no maior produtor e exportador global de soja, afirmou o presidente da Aprosoja, associação que representa produtores no país.
A palhada é formada pelos resíduos de colheitas anteriores que se acumulam na terra, formando uma espécie de camada protetora do solo, que ajuda a manter a umidade, entre outros benefícios, no caso daqueles produtores que utilizam o plantio direto, técnica amplamente disseminada no país.
Mas, uma vez queimadas por incêndios classificados de “criminosos”, disse o presidente da Aprosoja Brasil, Maurício Buffon, o produtor precisará de mais chuva para ter um plantio com maior segurança para a germinação da semente.
“Este ano temos um agravante, a queimada nas palhadas, o que traz grande prejuízo para o produtor em termos de umidade. Quando chove 20 a 30 milímetros e tem palhada, ela mantém a umidade, quando não tem, logo fica seco”, afirmou Buffon, à Reuters.
Com o tempo seco e quente, incêndios têm se propagado pelo Brasil, tendo atingido mais de 230 mil hectares de canaviais no Estado de São Paulo, segundo levantamento do setor, além de outras áreas agrícolas.
De acordo com o presidente da Aprosoja, o produtor não tem nenhum interesse de atear fogo nas lavouras, considerando o efeito negativo da queima da palhada.
“Em muitas regiões queimou muita palhada, Mato Grosso, aqui no Tocantins, relatos no Goiás”, afirmou ele, por telefone.
Segundo o dirigente, há suspeita de incêndios “criminosos”, que teriam começado simultaneamente, e também aqueles que começam na beira de estrada, por descuidos de motoristas que jogam bituca de cigarro.
“Este ano está muito acima do normal.”
Algumas áreas do Paraná e Mato Grosso já poderiam estar começando a plantar soja nesta época, mas a falta de chuva deve atrasar os trabalhos em relação à média histórica, na avaliação de Buffon.
No ano passado, houve atraso no plantio acima do normal em várias partes do país, por conta do tempo seco.
A expectativa da meteorologia é de que as chuvas se tornem mais frequentes em outubro, o que limitaria maiores problemas em termos produtivos para a safra de soja, caso as precipitações se confirmem.
O presidente da Aprosoja disse que, em um ano em que as margens estão mais estreitas, por conta da queda dos preços, o produtor não vai arriscar, devendo aguardar a consolidação das chuvas.
“O produtor vai esperar o retorno das chuvas para fazer um plantio com umidade”, disse ele.
Buffon também citou dificuldades com o crédito oficial e também um atraso na chegada dos fertilizantes, uma vez que os produtores demoraram mais tempo para fechar os negócios, como fatores de atenção para o início do plantio.
“As chuvas é que determinam o tamanho da safra, e a questão dos investimentos, isso vai definir o tamanho da safra, e começa com indícios de atraso bem significativo”, afirmou ele.
O presidente da Aprosoja acredita que a área plantada com soja no Brasil em 2024/25 deverá ter uma “estabilidade” em relação ao ano passado, embora boa parte das consultorias veja um pequeno aumento.
“Fala-se em super safra, mas para isso as coisas precisam andar bem. O clima acho que vai se ajeitando em outubro, mas sem investimentos não tem como”, afirmou ele.
No início de agosto, Buffon afirmou durante um evento em São Paulo que acreditava em um pequeno crescimento da área plantada.
Pesquisa da Reuters com analistas estimou um possível aumento de 14% na produção de soja do Brasil na nova safra, para um recorde de 168 milhões de toneladas, justificado principalmente na expectativa de que a produtividade melhore após as intempéries severas registradas no ciclo anterior, uma vez que a área plantada crescerá pouco.
(Por Roberto Samora)