O Brasil tem ainda de 105 a 110 milhões de toneladas de soja da safra 2023/24 que não foram comercializadas, afirma o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. Com muito ainda para ser colhido, esse volume considerável de produto vai, aos poucos, chegando ao mercado e ajudando a pressionar sobre as cotações não só em Chicago, mas também no mercado nacional, pesando sobre prêmios e preços finais internamente, seja no mercado de balcão ou de lotes.
Com a CBOT sem operar nesta segunda-feira, os preços foram apenas nominais no mercado brasileiro, ainda segundo o consultor. No balcão, as referências testaram perto dos R$ 107,00 por saca na região das Missões, enquanto foram a R$ 110,00 nas proximidades do porto de Rio Grande. Do interior de Minas Gerais a Ponta Grossa, no Paraná, indicativos de R$ 95,00 a R$ 107,00. Se no balcão os negócios estavam frios, no mercado de lotes, mais ainda. Além da falta de Chicago e dos prêmios negativos, o dólar abriu a semana em queda frente ao real e o que se via, portanto, para referências nos portos eram apenas preços nominais que, como explicou Brandalizze, estavam lineares, variando entre R$ 118,00 e R$ 120,00 por saca.
Neste cenário, a comercialização segue lenta e novos negócios se mostram cada vez mais escassos diante de margens achatadas para os produtores brasileiros e preços bem pouco atrativos para os vendedores. Ainda na perspectiva de Brandalizze, estes próximos dias – de uma semana mais curta na Bolsa de Chicago por conta do feriado desta segunda-feira (19) nos EUA – deverão ser ainda de um ritmo contido nos negócios, com os produtores focados na finalização da colheita da soja, no plantio da segunda safra de milho e na entrega das operações já efetivadas.
Assim, os produtores vão segurando suas vendas, aguardando por oportunidades que possam garantir resultados melhores para aos sojicultores. Todavia, analistas e consultores de mercado seguem alertando que as vendas de soja daqui em diante já não seguem um mesmo padrão para todo profissional, de toda região e depende de muito mais fatores do que os preços tão somente.
O diretor técnico da Safras & Mercado, Paulo Molinari, em entrevista ao Notícias Agrícolas explicou que o ideal é que o produtor dilua suas vendas durante a temporada, evitando períodos críticos. “É deixar passar o pico da colheita e monitorar o clima americano. Se houver um problema sério na nova safra americana, acertou em segurar. Os prêmios vão melhorar, acompanhando sua sazonalidade, mas precisamos saber se Chicago vai melhorar. E Chicago só vai melhorar se houver um problema sério na safra americana”, detalha.
De 2 de janeiro a 16 de feveiro, os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago perderam quase 8% – ou mais do que isso – e se refletem em uma pressão bastante agressiva na formação dos indicadores no Brasil. O contrato março saiu de US$ 12,73 para US$ 11,72, com perda de 7,93%; o maio de US$ 12,81 para US$ 11,76, caindo 8,2% e o julho de US$ 12,86 para US$ 11,84, recuando também 7,93%.
Enquanto isso, os prêmios seguem bastante negativos, também sentindo o peso da chegada das novas ofertas. Entre os meses de fevereiro e maio, da pedida do vendedor, eles variam entre 35 e 60 cents de dólar negativos, abaixo dos valores praticados na Bolsa de Chicago. Entre os compradores, estes indicativos variam de 45 a 90 centavos negativos. Já para julho, o vendedor pede 20 cents positivos – acima dos valores praticados em Chicago – e o comprador oferece 15 negativos. O levantamento é da Brandalizze Consulting.
E este fator mantém os negócios ainda mais contidos. “Os negócios seguem estagnados, com o mercado ainda uma em queda-de-braço. Negócios estão sendo observados apenas quando há necessidade iminente de venda por parte da base produtiva para levantar caixa, honrar compromissos. Caso contrário, o mercado está sem liquidez”, afirma o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira.
Conhecida a oferta, apesar das perdas na safra brasileira, o mercado quer agora entender como será o comportamento da demanda pela oleaginosa do Brasil. Será este comportamento, inclusive, que irá contribuir para o caminhar das cotações diante de tanta soja ainda a negociar no Brasil. “Se tivermos uma demanda mais apetitosa – mesmo com a paralisação chinesa durante o feriado, tivemos um lineup recorde na semana passada e a atualização desta semana só perde para 2021, sendo 12 milhões de toneladas de soja em fila de embarque aqui no Brasil – segurar soja só vai ser um tiro no pé dependendo da demanda. Só será se não tivermos uma demanda proporcional, e todos os sinais indicam uma demanda aquecida que tende a se manter”, explica Pereira.
Na China, as margens da suinocultura estão positivas, a margem de esmagamento começa a voltar a subir por conta dos preços também subindo do farelo de soja dentro do país, além da queda dos preços da soja no mercado internacional. “Então, temos sinais que mostram que a demanda vai continuar acelerando”, diz. “Apesar de a China dar algumas sinalizações mostrando um receio econômico, o consumidor do nosso produto, que é a base pecuária chinesa, está intacto, sólido, lucrativo, crescendo. E este é o ponto de atenção”.
Dessa forma, com a China voltando do feriado e o Brasil deixando o Carnaval para trás, os olhos estão ainda mais atentos à formação de preços e às oportunidades de negócios, embora raras, ao menos por enquanto. Monitoramento da demanda, dos prêmios e, claro do comportamento dos futuros da soja em Chicago. Os negócios no mercado norte-americano serão retomados às 22h desta segunda-feira (19) na CBOT, depois de fechada durante o dia pelo feriado do Dia do Presidente nos EUA.