O Brasil importou 802,451,5 mil toneladas de soja entre os meses de janeiro e agosto de 2024, volume que é 703,1% superior ao mesmo período de 2023, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). O volume é consideravelmente grande para o país que é o maior produtor e exportador mundial da oleaginosa e reflete o momento de escassez do grão comercializável que se apresenta atualmente. Trata-se da maior campanha de importação de soja da história do Brasil.
Embora a soja ocupe o quinto lugar entre todas os produtos importados no setor agropecuário, no ano passado, tratava-se do décimo lugar. A boa notícia, todavia, é de que o preço FOB do produto importado está 20% menor se comparada aos mesmos oito meses do ano passado.
“Deveremos encerrar 2024 com o maior volume de soja importada dos nossos vizinhos Paraguai e Argentina da história, podendo alcançar até 1,7 milhão de toneladas. Isso acontece porque muitas empresas dentro do nosso país se prepararam, de forma equivocada, para o excesso de produto, sendo que, na verdade, o Brasil passa hoje por uma escassez do grão comercializável”, explica o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira.
A consultoria explica que ainda há cerca de 33 a 35 milhões de toneladas de soja dentro do Brasil, mas com grande parte deste volume já não sendo mais comercializável. “Os volumes de venda da base produtiva já avançaram sobre a média dos últimos cinco anos diante da retração total da oferta, não que o produtor tenha vendido com mais celeridade. De acordo com o que fomos corrigindo na oferta total brasileira, fomos aumentando o percentual já alocado de venda”, detalha Pereira, que destaca o impacto do atual momento também para .
Dos produtores que ainda têm soja nas mãos, a maior parte é aquele produtor que ainda consegue tolerar uma espera pela virada do ano, se planejando para a realização de vendas mais postergadas. “Assim, o volume total hoje de soja restringe a comercialização, forçando algumas compradoras a buscar esse produto nos países vizinhos, em especial o Paraguai”, complementa.
E o gráfico do Mdic, abaixo, deixa este quadro bastante evidente. Do total importado pelo Brasil de soja entre janeiro e agosto, 99,3% se deu com a oleaginosa paraguaia. No ano passado, foram 91% do Paraguai e 8,7% do Uruguai. Segundo relata a diretora sócia da DASAGRO, do Paraguai, Esther Storch, as vendas de soja do país para o Brasil, de janeiro a agosto, somam 781 mil toneladas, contra 88 mil do mesmo período do ano passado.
Além disso, os números apontam ainda que os dois estados que mais importaram soja neste intervalo foram o Paraná e o Rio Grande do Sul, como aconteceu também em 2023.
“O Brasil encerrando 2024 com aproximadamente 145 milhões de toneladas não tem soja para todos que querem”, afirma Matheus Pereira. “O mercado doméstico brasileiro agora sofre com a escassez por dificuldade de planejamento prévio diante da redução de safra observada neste último ciclo 2023/2024”. E este momento se justifica no bom desempenho das exportações e no esmagamento de soja do Brasil neste ano.
Ainda de acordo com dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), do ministério, as vendas externas brasileiras de soja já somam mais de 83,4 milhões de toneladas entre janeiro e agosto, sendo 3,2% superiores ao mesmo período do ano passado. E 73% do volume de toda a oleaginosa brasileira teve a China como destino.
A oferta enxuta do grão comercializável se refletiu em prêmios e, consequentemente, em preços melhores para a soja do Brasil.
“Temos prêmios muito elevados neste final de entressafra, o que é normal de uma safra com quebra, bom volume de exportação, esmagamento maior, demanda maior por derivados, então, os prêmios estão muito altos nos portos”, explica o sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo. Outra consequência deste momento se dá sobre os estoques.
A Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) estima que o esmagamento brasileiro de soja em 2024 seja de 54,5 milhões de toneladas, contra pouco mais de 54,1 milhões do ano passado e bem maior do que o de 2022, de 50,9 milhões.
Na passagem de uma temporada para outra, ainda como explica Cogo, o Brasil deverá registrar alguns dos menores estoques de soja dos últimos anos, “provavelmente ficando em menos de um milhão de toneladas. E se correr como está previsto a exportação até o final de dezembro, podemos entrar em janeiro com os menores estoques em 20 anos. Realmente, um quadro de safra menor, demanda forte tanto externamente, como internamente, e isso é bom. O mercado entra em um novo ano enxuto, sem carregar estoques, e realmente não compensa carregar estoques em anos de pressão de baixa futura, não faz sentido. Então, prêmios positivos – ainda que levemente positivos – no começo do ano e estoques baixos são sim uma boa notícia, permite planejar com um pouco mais de tranquilidade a comercialização da próxima safra”.
Dados da Cogo Inteligência em Agronegócio apontam que a o break-even, ou o ponto de equilíbrio, para o produtor de soja do Cerrado, por exemplo, é de US$ 9,35 por bushel, de US$ 9,22 no Sul, enquanto a média esperada para os preços da commodity em 2025 é de US$ 10,50. Nesta terça-feira (17), os futuros da soja trabalharam com estabilidade durante todo o pregão, testando pequenas baixas de pouco mais de 1 ponto, levando o contrato maio/25, referência para a nova safra do Brasil, a US$ 10,51 por bushel.
Assim, a orientação do analista é de que o sojicultor brasileiro observe as oportunidades que o mercado vem oferecendo, e para quem ainda possui algum volume de soja para vender que não carregue-o para o próximo ano. “Os prêmios começam a cair, provavelmente, a partir de novembro/dezembro, em sua curva natural. Então, o mais inteligente agora é começar a fazer estas vendas porque os preços no Brasil estão com prêmios de quase US$ 2,00 por bushel (acima da CBOT), e vale a pena já pensar em uma estratégia de venda, diluindo seus estoques em dois, três quatro lotes, e vender”.