Os preços da soja subiram, mesmo que em proporções distintas, em todas as regiões produtoras e comercializadoras do Brasil nesta semana. Além da necessidade de caixa para a liquidação de compromissos financeiros por parte dos produtores, o estímulo veio, principalmente, do dólar e dos prêmios no mercado nacional.
Na semana, os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago acumularam perdas de cerca de 2% nos contratos mais negociados, apesar das boas altas deste último pregão da semana. O maio/24 saiu de US$ 11,75 – na última sexta-feira (12) – para US$ 11,50 no fechamento desta sexta (19), perdendo 2,04%. O julho caiu 1,77%, recuando de US$ 11,86 para US$ 11,65 por bushel. No mesmo período, o dólar subiu de R$ 5,13 para R$ 5,20, acumulando um ganho de 1,36%.
“Já estamos com os prêmios spot nos melhores patamares para as ofertas da safra 2024 desde que se iniciou a campanha de comercialização da safra 2024. Não são ainda bons prêmios, isso é relativo, mas mostram certa melhora significativa”, explica o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira. “E a cada 10 pontos de prêmios, com o dólar na casa dos R$ 5,00, é o equivalente a algo como R$ 1,10 a R$ 1,15 por saca. Então, se subiu 30 pontos, isso equivale a quase R$ 3,30 de ágio só nos prêmios”.
Este movimento, combinado com o dólar subindo frente ao real, permitiu que os preços da soja nos portos do Brasil tenham acumulado um ganho de mais de R$ 10,00 por saca no período dos últimos 35 a 40 dias. “Nem todo este ganho foi repassado, mas parte desse ganho foi sim repassado para todo o interior do Brasil”, complementa Pereira.
Ainda segundo o diretor da Pátria, boa parte dessa movimentação de alta nos prêmios está ligada ao tamanho real da safra brasileira, reforçando ainda que “o mercado de prêmios é um mercado onde não há distorções”, diz.
“Se tivessemos uma safra do tamanho em que algumas pessoas acreditam, recorde, cheia, não teríamos os prêmios em recuperação como temos por agora. Só lembrarmos do último ciclo safra, quando em maio batemos o fundo do poço para os prêmios brasileiros, de 220 cents de dólar por bushel negativos, por conta do excesso de oferta. É indiscutível que a safra anterior foi uma safra recorde. Mas, no atual momento, com os prêmios já em ascenção, com recuperação contínua – também esperada para as próximas semanas – é um sinal claro de que a atual safra é menor do que o esperado por alguns e também por esta restrição de vendas”, detalha o analista.
Mais do que isso, a oferta embora esteja posta no mercado, pode passar a “não ser comercializável” neste momento, com os produtores mais contidos em seus negócios daqui em diante.
E apesar do avanço desta semana, a comercialização da safra 2023/24 de soja do Brasil segue atrasada, como explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. Em seu levantamento, há cerca de 72 milhões de toneladas já comprometidas, de uma safra estimada pela Brandalizze Consulting de 148 milhões. O “normal”, para este período, seria de um volume superando 85 milhões de toneladas negociadas.
Somente nesta semana, mais de três milhões de toneladas do grão foram negociadas, ainda segundo o consultor, relatando ainda que o produtor reafirma o ritmo de abril que é, tradicional e sazonal, de muitos negócios, focando na garantia dos compromissos. “Os negócios estão acontecendo de forma generalizada, até mesmo no Rio Grande do Sul, onde os negócios vinham muito lentos, com os preços no melhor momento do ano para o balcão gaúcho”, diz.
NOVOS MOMENTOS E OPORTUNIDADES
Vlamir Brandalizze destaca, porém, que a pressão de oferta por parte dos produtores possa, no final deste mês, “atrapalhar um pouco este mercado, caindo até os prêmios. Porque a tendência é vender muito, porque o produtor precisa de caixa, de muita venda até o final do mês. E virando o mês o que podemos ver é uma retração dos vendedores, esperando que o mercado melhore”, afirma.
Dessa maneira, em resumo, o consultor explica que o final de abril possa reservar alguma pressão sobre as cotações da soja no mercado brasileiro em função de uma oferta crescendo por conta de mais negócios ainda necessários por parte do produtor brasileiro, porém, um novo fôlego se apresentando no início de maio com um novo momento de retração por parte do produtor.
BOLSA DE CHICAGO
Nesta sexta-feira, os futuros da soja tomaram um fôlego, recuperaram parte das baixas da sessão anterior e encerraram o dia com ganhos de 14 a 16,25 pontos. Mais uma vez, o mercado do farelo puxou o grão. Os futuros do derivado subiram mais de 1,5% na tarde de hoje, ainda refletindo preocupações com a oferta na Argentina, bem como acompanhava ainda a alta intensa do trigo, que tinha mais de 2% de avanço entre as posições mais negociadas na CBOT, com a primeira posição sendo cotada a US$ 5,64 por bushel.
Além do farelo e do trigo, sobem ainda os preços do óleo de soja – que operavam no negativo no início do dia – e contribuíam ainda mais para as cotações da oleaginosa. Os ganhos eram de pouco mais de 0,3%.
Outros dois fatores que favorecem as altas da soja em Chicago são o dólar em queda – frente ao real perdendo mais de 1% e chegando aos R$ 5,20 – além de uma demanda melhor pela soja dos EUA nesta semana, com uma nova venda sendo anunciada pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) nesta sexta-feira.
Foram 121,5 mil toneladas para destinos não revelados. Do total, 13,5 mil são da safra 2023/24 e 108 mil da 2024/25.
Para a soja, atenções ainda sobre o clima nos Estados Unidos, onde o plantio está no início, bem como à conclusão das safras no Brasil e ns Argentina. E por hora, as condições no Corn Belt estão adequadas para os trabalhos de campo, com o plantio da soja superando ligeiramente os 3% da área prevista.