“O produtor brasileiro está passando pelo ciclo de baixa da soja com margens positivas”, afirma o sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócios, Carlos Cogo. Um levantamento feito pela consultoria mostra que para o sojicultor que aproveitou as oportunidades que o mercado veio apesentando e, adquiriu seus insumos em melhores momentos das relações de troca, vem garantindo parte de sua rentabilidade para a safra 2024/25. E Cogo complementa dizendo que embora não sejam as mais altas dos últimos anos, são margens consideráveis dado o atual momento, principalmente, do mercado internacional, que caminha, segundo ele, para atuar em um intervalo de US$ 10,00 a US$ 11,00 por bushel.
A margem bruta – calculada sobre o custo operacional – para a soja do Cerrado, por exemplo, está em 27%, o que garante, em média, cerca de US$ 350,00 por hectare. “É uma margem bem menor do que em tempos de pandemia, mas positiva, razoável. Lembrando que, na pandemia, as margens oscilaram em torno de US$ 1000,00 por hectare. E apesar de custos bem mais altos na época, as margens também eram mais robustas, porque havia custo alto e preços altos das commodities, além de um câmbio equilibrado”, detalha Cogo.
Ainda assim, frente a margens que são positivas – embora mais ajustadas do que em anos anteriores – a comercialização da nova safra brasileira está atrasada. Dados da Cogo Inteligência em Agronegócio, são cerca de 20% da produção estimada já vendida, contra o “normal” para o período de 30% a 35%. Vendas com certo atraso, compra de insumos também. Desta maneira, com algo como 25% a 35% de aquisição de insumos ainda em aberto, o cenário deve reservar preços da soja mais pressionados a frente e insumos mais altos, já que o dólar em alta chegou a estes preços também.
“Então, a relação de troca piorou, o poder de compra piorou, e está se deteriorando. Assim, o quadro de margens para quem não comprou seus insumos não é este, portanto”, explica o consultor.
A opinião de Carlos Cogo é compartilhada com a de Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting. “Há três meses, os insumos estavam cerca de 30% mais baratos, as relações de troca estavam variando de 22 a 25 sacas de soja, quem fez trocas neste intervalo, fez boa troca. Quem está deixando para última hora vai pagar mais caro. É um ano apertado”, diz.
Para o consultor, 2024 tem sido um ano melhor do que o esperado, mas que novamente exige um aprimoramento da gestão do sojicultor brasileiro. Com todos as principais regiões produtoras do país com preços na casa dos R$ 100,00 por saca, para quem já adquiriu seus insumos, as margens são positivas. Já para aqueles que ainda vão fazer suas compras, precisariam encontrar níveis acima dos R$ 110,00 no interior do país.
A orientação para o produtor, ainda como explica Brandalizze, é de que daqui para frente esteja atento aos novos picos que o mercado pode vir a fazer, manter sua atenção sobre o dólar, bem como aos prêmios, que continuam sendo pilares importantes de suporte às cotações. Nos portos, por exemplo, apesar do recuo dos últimos dias, as referências para a soja da safra nova variaram entre R$ 131,00 e R$ 136,00, estando agora orbitando entre R$ 126,00 e R$ 157,00. Patamares que trazem sinais importantes ao mercado brasileiro, em especial sobre a demanda pela soja do Brasil.
Segundo o Acompanhamento dos Custos das Produções Agropecuárias reportado pelo Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) reportado nesta segunda-feira (15), a estimativa do custeio da soja 2024/25 no estado chegou a R$ 3.983,89/ha, registrando uma alta de 0,54% em relação ao mês anterior.
“Esse incremento na despesa está atrelado ao aumento nos preços dos fertilizantes e corretivos no estado, principalmente dos macronutrientes, que apresentaram alta de 1,31% ante a mai/24. Além disso, o Custo Operacional Efetivo (COE) apresentou incremento de 0,44% em relação ao mês anterior, estimado em R$ 5.511,79/ha”, informou o Imea.
Com estes valores, o instituto estima ainda que o produtor de Mato Grosso deverá negociar sua soja com preços de, no mínimo, R$ 95,08 por saca para conseguir cobrir o COE, ou alcançar uma média mínima de produtividade de 52,96 sacas por hectare.
“É importante ressaltar que a estimativa de produtividade da safra 24/25 e o preço médio negociado na comercialização até o momento, estão acima do ponto de equilíbrio para cobrir o COE, no entanto, quando analisado em relação ao COT e CT o cenário é diferente”, complementam os analistas do Imea.
O trabalho para garantir boas médias produtivas, a escolha de insumos de boa performance e boas técnicas de manejo também estiveram nas análises tanto de Cogo, como de Brandalizze.
O CICLO DE BAIXA DA SOJA E O MERCADO NOS EUA
Cogo explica também que o último ciclo de baixa para a soja começou em 2015/16 e terminou em 2019/20, com preços variando entre US$ 9,00 e US$ 9,80 por todo este período, e no final deste período, resultou em uma redução de 5,3 milhões de hectrares cultivados com a oleaginosa no país.
“Um ciclo de baixa é uma coisa longa, uma coisa que demora para ter conserto, e o produtor começa reduzindo área. E como o brasileiro não tem tradição em diminuir área, não vai diminuir área neste ano, a ação (de ajuste), vai começar pelo produtor americano. Sempre começa a acontecer em quem está tendo maior nível de pejuízo, que hoje é o produtor americano, em sua maior parte arrendatário e um dos que tem um dos custos mais elevados”.
Assim, enquanto o produtor brasileiro ainda vai registrando por aqui um lucro de cerca de US$ 350,00 por hectare, “nos EUA, com este mesmo preço de hoje, o produtor já tem um prejuízo de US$ 55,00 por acre. Eles já vinham de um leve prejuízo na safra passada, de cerca de US$ 22,00 (…) E quem vai começar o processo de redução de estoque, até fechar o ciclo de baixa, vai ser os Estados Unidos. Provavelmente, farão um movimento de queda de área ou de soja ou de milho, ou dos dois”, afirma o consultor.