Soja: Produtor brasileiro tem de estar atento à pressão em Chicago e oportunidades mais escassas de venda

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“Tem bastante gente querendo vender e os compradores estão desaparecendo. Começo a ficar preocupado porque grande parte dos navios programados estão cobertos e para frente os demais serão destinados para milho. E sem pressão de compra de novos exportadores, pode ser uma notícia não muito boa para o produtor no segundo semestre, porque ainda tem bastante soja para negociar”, relata o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. 

Assim, depois de um mês de maio bastante ativo na comercialização, o mercado da soja no Brasil esfriou nesta primeira semana de junho, com o país carregando ainda cerca de 56 milhões de toneladas da safra 2023/24 para serem negociadas, de uma produção, ainda segundo o consultor, de 148 milhões de toneladas. 

Os próximos meses deverão exigir bastante monitoramento por parte dos produtores brasileiros para a identificação de novos momentos de oportunidade, em especial com a nova safra dos Estados Unidos no horizonte, e se mostrando para chegar, pelo menos, regular ao mercado. As condições climáticas no Corn Belt, até o momento, favorecem não só os trabalhos de campo, como o desenvolvimento das lavouras. 

“A princípio, a safra deles (americanos) será normal e eles vão querer exportar isso. E os chineses vão ficar em cima do muro, esperando para comprar mais barato, com prêmio melhor, esperando que consigam sair com os navios pelo Canal do Panamá, com frete mais barato do que o brasileiro. A posição de conforto é do comprador, este é momento”, explica Brandalizze. 

Com este cenário da nova temporada começando a se desenhar e ainda um volume da soja da safra velha para ser negociado, o consultor afirma ainda que o mercado se encontra em uma nova realidade de preços, com um intervalo de R$ 100,00 a R$ 130,00 por saca no interior do país, e de R$ 135,00 a R$ 142,00 nos portos. “Este é o novo normal, o panorama do momento”, diz. E são estes patamares que merecem atenção.

BOLSA DE CHICAGO X DÓLAR

E embora os prêmios da soja ainda estejam positivos para os meses a frente, o dólar tem sido um dos principais pilares de suporte para as cotações no mercado nacional, mantendo-se acima dos R$ 5,00. Somente nesta terça-feira (4), a moeda americana subiu mais de 1%, voltando a flertar com os R$ 5,30. 

“O cenário nacional vem impactando a todo momento as reações no dólar e a cada passo o dólar fica mais próximo da sua resistência de R$ 5,30. Com o PIB maior, apesar de ser positivo ao âmbito econômico ele também é um indicador que os setores de vendas e o mercado de serviço estão mais acelerados, assim também significa um possível avanço na inflação do país”, afirma a equipe da Royal Rural. 

Ao mesmo momento, os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago registraram um novo dia de baixas nesta sessão. Os vencimentos mais negociados perderam entre 5,50 e 7,75 pontos, levando o julho a US$ 11,79; o setembro a US$ 11,54 e o novembro a US$ 11,56 por bushel. O mercado deu sequência às baixas do pregão anterior, quando o mercado perdeu mais de 20 pontos, pressionado pela safra americana. 

Assim, nos últimos 30 dias, os dois primeiros contratos acumulam uma baixa de, respectivamente, 2,96% e 3,83%. Já o novembro, referência para a safra dos EUA, entre 15 de maio e 4 de junho,  perdeu 3,75%. E ainda segundo Vlamir Brandalizze, o contrato poderia perder os US$ 11,50 nas próximas semanas caso a safra siga caminhando adequadamente nos EUA. 

O plantio norte-americano alcançou, até o último domingo (2), 78% da área, número que ficou acima da média plurianual. E a reta final das atividades deverá contar com chuvas bem distribuídas, em bom volume e temperaturas subindo, mas podendo ainda ficar abaixo da média para o período. 

“No momento, não há ameaças climáticas que impulsionem a recuperação dos preços”, afirma o diretor geral do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa. Além disso, o consultor agrícola Dr. Michael Cordonnier ainda trouxe um aumento em sua estimativa de área dedicada à soja nos EUA, estimando uma produção de 121,38 milhões de toneladas. 

Ainda segundo a Labhoro, “o modelo GFS, gerado na manhã desta terça-feira, resumidamente, indica, até o final de semana, volumes totais de até 65 mm para Oklahoma, parte Kansas, Missouri, Mississipi e menores volumes totais no centro de Tennessee. Nos próximos 10 dias, acumulados leves a moderados tendem para Oklahoma, sudeste americano, norte do Delta e menores acumulados no centro e norte do Corn Belt. Já modelo Europeu, gerado de madrugada, difere do GFS ao apontar acumulados leves a moderados em porções da planície sul e clima seco no centro-norte do cinturão”.

Mapas EUA (2)
Mapas: Grupo Labhoro

Neste cenário, os preços vão perdendo força no mercado brasileiro, mas mantendo neste “novo normal”, como explica Vlamir Brandalizze, e encontrando suporte importante, em especial nesta terça, na alta do dólar frente ao real. 

“Estamos um pouco atrás do que seria o normal (de comercialização) e ainda temos muita soja, os armazéns estão cheios (…) Temos que levar em consideração que se o produtor precisar aplicar este dinheiro ou comprar insumos, é possível que grande parte dos insumos subam, em média, mais de 2% ao menos nos próximos 4 a 5 meses. Ao mesmo tempo, nessa condição do mercado brasileiro e sem nenhuma novidade do dólar e o mercado em Chicago ficar neste serrote, chegaremos no segundo semestre com a soja muito parecida com os níveis de agora ou um pouco abaixo”, diz o consultor. 

E mais do que o comportamento dos preços, o produtor tem de estar ainda mais atento ao comportamento de suas margens, considerando o custo de carregar a soja, as possíveis altas dos custos de produção e a volatilidade cambial. 

“Se Chicago não reagir até julho, o mercado começa a liquidar porque já que a safra americana, de julho em diante, não deu problema, vai ser colhida em condições normais. De outro lado da mesa, tem um grande comprador que chama China e eles sabem comprar”, orienta o consultor. 

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