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Em 2022, a Índia, que é o maior exportador mundial de arroz e responde por cerca de 40% do comércio global do produto, proibiu as exportações do grão para tentar controlar a inflação do alimento, devido preocupações com a produção local da cultura. Com essa limitação, os estoques públicos do produto do país atingiram um recorde histórico de 48,2 milhões de toneladas métricas no dia 1º de setembro de 2024, segundo dados governamentais, e este volume representa um aumento superior a 14% em relação ao mesmo período do ano passado, estando assim muito acima da meta estimada pelo governo.
Diante desse cenário de estoques elevados e de uma forte queda dos preços, o governo indiano suspendeu a proibição das exportações em março de 2025, e anunciou recentemente que os comerciantes locais planejam buscar novos acordos de exportação para a atual safra em mercados emergentes.
Informações da Agência Reuters apontam que as abundantes chuvas de monção deste ano provavelmente impulsionarão ainda mais a produção no país asiático, aumentando a capacidade dos armazéns estaduais, já lotados. “A Índia já é um ator importante no comércio global de arroz, e nosso objetivo agora é alcançar compradores em mercados menos atendidos para impulsionar ainda mais as exportações em um momento em que a produção e os estoques estão fortes”, disse Dev Garg, vice-presidente da Federação Indiana de Exportadores de Arroz.
De acordo com o analista da Safras & Mercado, Evandro Oliveira, o retorno dos embarques indianos trouxe mais preocupação ao setor arrozeiro do Brasil, que já enfrenta uma crise estrutural da commodity. “O mercado indiano segue com essa retomada das exportações como uma tentativa também de recuperação dos preços internos, que neste momento estão abaixo de US$ 400 por tonelada, chegando a US$ 345 por tonelada do arroz beneficiado, um dos menores preços talvez das últimas duas décadas. Com isso, veio primeiro a notícia de que o país deve despejar no mercado cerca de 30 milhões de toneladas, o que gerou um susto diante desse volume gigantesco de exportações, um volume excedente. Em seguida, foi liberada uma lista de quase 30 possíveis destinos, e nessa lista constava o Brasil. Só de estar nessa lista gerou pânico no setor brasileiro, e trouxe uma preocupação muito grande. Imagina só, o jeito que vão as coisas aqui no Brasil, em termos de rentabilidade e problemas logísticos, um choque desse seria a pá de cal para o setor do arroz. Mas, por enquanto, são só especulações”, alertou o analista.
Evandro explica ainda que as experiências do Brasil com o arroz vindo da Índia não foram positivas, “muito pelo contrário, foi uma experiência terrível com esse produto, que tem uma qualidade muito inferior à do produto que o consumidor brasileiro está acostumado. Então, as apostas do setor são de que essa medida não deve ir para frente, não deve ter muito sucesso”, completou.
Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estimam que a produção global de arroz deverá atingir um recorde de 556,4 milhões de toneladas em 2025/26. Ainda segundo estimativas da FAO, a Índia colheu um recorde de 146,1 milhões de toneladas na safra que terminou em junho de 2025, superando em muito a demanda local de 120,7 milhões de toneladas.