O cenário econômico atual, marcado por incertezas e pelo impacto da inflação sobre o poder de compra da população, tem impulsionado a busca por proteínas mais acessíveis, como carne suína, frango e ovos. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, esse movimento, ampliado por exportações crescentes, devem sustentar um novo ciclo de crescimento para a suinocultura em 2025.
Nos últimos 20 anos, a carne suína brasileira consolidou sua posição no mercado global, ampliando sua fatia nas exportações mundiais de 4% para 12%. Contudo, a maior parte da produção ainda é destinada ao consumo doméstico: 76,15% permanece no Brasil, enquanto 23,85% segue para o mercado externo.
Para 2025, a suinocultura brasileira projeta uma produção de até 5,45 milhões de toneladas, um crescimento de 2% em relação a 2024, quando atingiu 5,35 milhões de toneladas. Desse total, cerca de quatro milhões de toneladas deverão atender ao mercado interno, garantindo um consumo per capita estimado em 19 quilos.
Já as exportações podem atingir 1,45 milhão de toneladas, avanço de 7,4% sobre o volume recorde de 2024, que somou 1,352 milhão de toneladas. “No mercado externo há expectativa de retomada no fluxo de embarques para a China, além da habilitação de novas plantas frigoríficas para destinos na América Latina. Esses fatores devem se somar à continuidade da demanda de mercados em pré-listing, como Filipinas e Chile. No Brasil, o consumo de carne suína tende a ser impulsionado pela sua competitividade frente a outras proteínas, além da manutenção dos custos de produção em níveis equilibrados”, estima Santin.
O setor também registrou um marco histórico em 2024, superando pela primeira vez a barreira dos US$ 3 bilhões em receitas com exportações. No total, foram US$ 3.033 bilhões, crescimento de 7,6% em relação ao ano anterior, quando o faturamento atingiu US$ 2.818 bilhões.
As Filipinas se consolidaram como o principal destino da carne suína brasileira em 2024, respondendo por 19% das exportações do setor. Entre janeiro e dezembro, o país importou 254,3 mil toneladas, um salto de 101,8% em relação a 2023.
Tradicionalmente líder no ranking de compradores, a China caiu para a segunda posição, com uma retração de 38% nas aquisições. O volume importado pelo país asiático recuou de 362,1 mil toneladas em 2023 para 241 mil toneladas no ano passado, representando cerca de 18% das exportações brasileiras.
O Chile também ampliou sua participação, elevando as compras em 29,1% e passando a representar 8% dos embarques nacionais. Já o Japão registrou o maior crescimento percentual entre os principais mercados, com um aumento expressivo de 131,6%, saltando de 35,3 mil toneladas em 2023 para 93,4 mil toneladas em 2024.
Apesar dos resultados expressivos, alguns destinos reduziram suas compras, como Hong Kong e Uruguai. Ainda assim, o Brasil manteve uma base diversificada de importadores, com Singapura, Vietnã, México e Estados Unidos entre os dez principais destinos, demonstrando a diversificação dos mercados e o fortalecimento do setor no cenário internacional.
Dinâmicas do mercado mundial de carne suína
O mercado global de carne suína apresenta dinâmicas distintas em termos de produção e exportação. A China, maior produtora mundial, segue com queda contínua, com previsão de redução de mais 2,2% em 2025, diminuindo sua produção para 55,5 milhões de toneladas.
Por outro lado, a União Europeia demonstra uma recuperação tímida, com crescimento de 2% em 2024, chegando a 21,25 milhões de toneladas. No entanto, em 2025, a produção deve recuar 1,6%, totalizando cerca de 20,9 milhões de toneladas.
Nos Estados Unidos (EUA), a produção segue uma trajetória de crescimento consistente, com previsão de avanço de 2% em 2025, podendo alcançar até 12,9 milhões de toneladas. O Brasil também mantém uma tendência de alta, com projeções de crescimento de até 2% para 2025. A Rússia, por sua vez, deve registrar aumento de 3,4% na produção este ano.
No setor de exportação, os EUA lideraram as vendas em 2024, com aumento de 4,8%, e deverão crescer 3,4% em 2025, podendo atingir 3,35 milhões de toneladas. A União Europeia enfrenta desafios, como uma queda de 4% nas exportações no último ano e previsão de novo declínio de 1,7% em 2025.
O Canadá apresentou um avanço de 8,5% em 2024, mas em 2025 o crescimento deverá ser mais modesto, de apenas 0,7%. Já o Brasil se destaca, com previsão de crescimento de 7,4% nas exportações, podendo atingir 1,45 milhão de toneladas embarcadas. “Esses números reforçam a resiliência e a competitividade do Brasil no cenário global, destacando sua importância tanto na produção quanto nas exportações de carne suína”, evidencia Santin.
Desafios e oportunidades em 2025

Presidente da ABPA, Ricardo Santin: “No mercado externo há expectativa de retomada no fluxo de embarques para a China, além da habilitação de novas plantas frigoríficas para destinos na América Latina” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural
Os conflitos no Oriente Médio e na Eurásia continuam a impactar as cadeias globais de suprimentos, com destaque para o aumento dos custos do frete marítimo e a busca por rotas alternativas de exportação. Além disso, o retorno de Donald Trump à Casa Branca pode trazer à tona políticas protecionistas, especialmente contra a China, o que poderá dar maior espaço para o Brasil como parceiro comercial da gigante asiática, especialmente no fornecimento de carne suína e de aves. “A investigação antidumping que a China realiza sobre as importações de carne suína da União Europeia também representa uma oportunidade para o Brasil”, afirma Santin.
Embora o Brasil esteja livre da Peste Suína Africana (PSA) desde a década de 80, o presidente da ABPA expõe que a persistência de casos em países da Europa e do Sudeste Asiático exige vigilância constante para proteger os rebanhos nacionais e garantir a segurança sanitária das exportações.
Eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, têm se tornado cada vez mais frequentes e representam um desafio crescente para a produção de grãos no Brasil e em outras regiões produtoras do mundo. “Como consequência, pode haver aumento nos custos da ração animal, pressionando a rentabilidade do setor”, aponta Santin.
Apesar dos desafios, Santin afirma que o Brasil está bem posicionado para atender à crescente demanda global por alimentos de alta qualidade, especialmente em um contexto de possíveis mudanças nos mercados internacionais.
O acesso é gratuito e a edição Suínos pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui.