A China anunciou tarifas adicionais de 10% a 15% sobre diversos produtos agrícolas dos Estados Unidos, em retaliação ao aumento das taxas de importação chinesas pelo governo de Donald Trump, que dobrou a tarifa vigente de 10% para 20%. Diferente da primeira guerra comercial entre os dois países, iniciada em 2018, o Brasil, que na época se beneficiou do aumento da demanda chinesa, agora enfrenta um cenário mais desafiador.
Apesar da produção recorde de soja em 2024/25, estimada em mais de 160 milhões de toneladas, o Brasil não tem capacidade logística para ampliar significativamente as exportações. O país já opera próximo do limite, com picos de 15 milhões de toneladas exportadas por mês, dividindo espaço com carnes, açúcar e milho.
“Atualmente, a previsão para a exportação de soja está entre 103 e 104 milhões de toneladas no ciclo 2024/25. Não há viabilidade logística para elevar esse volume para 108 ou 110 milhões de toneladas, especialmente considerando a necessidade de escoar também cerca de 50 milhões de toneladas de milho”, comenta Ale Delara, diretor da Pine Agronegócios.
O Mato Grosso, por exemplo, enfrenta graves problemas de escoamento, com caminhões parados nos portos devido a limitações técnicas em Miritituba, Santarém e Barcarena. Essa restrição aumentou a pressão sobre os portos do Sudeste e do Sul, fazendo com que o frete para Santos disparasse para quase R$520 por tonelada. Além disso, há escassez de caminhões e espaço logístico, o que impede um avanço significativo no transporte da safra.
Mesmo quando a soja chega aos portos, há um limite na capacidade de embarque, e essa situação tende a se agravar nos próximos meses, com o início das exportações de milho, que sobrecarregam ainda mais o transporte a granel.
“Outro fator crítico é a falta de capacidade dos terminais de contêineres, que são essenciais para diversificação das exportações. O terminal de Paranaguá, por exemplo, só conseguiu expandir suas operações após investimentos da CMPort, mostrando que o gargalo logístico brasileiro só poderá ser solucionado com investimentos contínuos e de longo prazo”, explica Delara.
A expansão da produção agrícola no Brasil esbarra nessas limitações logísticas, e a resolução desse problema exigiria anos de investimentos em infraestrutura portuária e transporte, garantindo maior eficiência no escoamento das commodities. Com essa limitação na capacidade de exportação, o impacto da nova guerra comercial entre China e EUA será mais restrito, o que já se reflete nas quedas nas cotações da soja, do farelo e do milho.
Primeiro conflito comercial foi marcado por preços com alta volatilidade
Na disputa de 2018, Trump impôs uma tarifa de 25% sobre a China, levando a uma queda de 21,5% nos preços da soja na Bolsa de Chicago. Durante o período de guerra comercial, que durou até a assinatura do acordo entre os dois países em janeiro de 2020, os preços da soja no Brasil ficaram cerca de 10,5% mais baixos do que antes do conflito. Já em Chicago, os preços chegaram a US$ 8,50 por bushel.
Os valores voltaram a subir no segundo semestre de 2020, quando a China retomou suas compras, resultando em um forte aumento nas exportações dos EUA e recordes históricos nos preços. Dessa vez, o impacto no mercado deve ser mais moderado, com ajustes nos preços das commodities, mas sem um movimento tão intenso quanto o de 2018.