As recentes altas no preço do milho, componente essencial nas rações de aves e suínos, levantam questões sobre a relação de troca para a compra do cereal. Especialistas consultados pelo Notícias Agrícolas apontaram que, no caso da suinocultura, os incrementos nos preços do animal vivo, principalmente, ainda deixam o cenário de aquisição do milho favorável ao suinocultor. Não é o mesmo caso em relação à avicultura de corte, já que os preços do frango não aumentaram na mesma proporção ou de forma superior ao movimento visto para o milho.
Hyberville Neto, médico veterinário e diretor da HN Agro, explica que, levando em conta a comparação anual, em janeiro de 2025 a relação de troca entre um quilo de suíno versus um quilo de milho era 5,3% melhor do que em janeiro do ano passado. No caso da avicultura, neste mês de janeiro, o quilo de milho em relação ao quilo do frango congelado está 8,3% pior do que em janeiro de 2024.
Colocando em perspectiva o mercado de exportação, Hyberville Neto afirma que o quilo de milho por quilo de carne suína exportada em janeiro de 2025 está 22% maior que no mesmo período do ano passado, cenário mais favorável ao suinocultor. Entretanto, a relação de troca em janeiro/25 piorou em comparação a dezembro/24 para o suinocultor.
Em relação ao frango, conforme explica o especialista, ocorreu algo semelhante, com a relação de troca em janeiro deste ano piorando em relação a dezembro de 2024. Apesar disso, a relação de troca de um quilo de milho para um quilo de frango exportado está 20% mais favorável para o avicultor do que em janeiro de 2024.
Juliana Pila, analista de mercado da Scot Consultoria traz uma análise incluindo a parcial de fevereiro deste ano. Ela pontua que, para a suinocultura, com a recuperação nos preços em fevereiro, devido a uma oferta mais enxuta e uma demanda mais ativa, principalmente na primeira metade do mês, houve melhora no poder de compra do suinocultor, mesmo com os preços do milho firmes.
“A valorização no preço do cevado foi mais intensa que a do grão, na comparação mensal. Na parcial de fevereiro, foi possível adquirir 6,75 quilos de milho com o preço de uma arroba de suíno, melhora de 3,6% em relação à média de janeiro”, explicou.
Já para o mercado de frangos, apesar da recuperação nos preços na granja nos últimos dias, o preço médio na parcial de fevereiro está menor frente a janeiro e, “com a valorização do milho, o avicultor viu seu poder de compra deteriorar em fevereiro na comparação mensal. Na parcial de fevereiro, foi possível adquirir 4,21 quilos de milho com o preço de um quilo de frango, piora de 5,5% em relação à média de janeiro”.
O analista de mercado de suínos e aves do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA Esalq/USP), Luiz Henrique Melo, corrobora as informações de Juliana Pila. De acordo com ele, o milho teve uma recente alta, porém, na comparação, o suíno está subindo em proporção maior. Até dia 17 de fevereiro, a relação de troca é que com a venda de um quilo de suíno o produtor consegue comprar 6,5 quilos de milho, uma melhora de 1,2% em relação a janeiro .
“Acredito que até o final de março, essa margem deve aumentar, porque em MG tem já negócios de suínos com valores de R$ 9,60/kg e R$ 9,70/kg. A demanda aquecida está puxando”, afirmou.
Para o frango, Melo destaca que os preços estão mais estáveis, com leve retração em relação a janeiro. “No início de fevereiro teve certa alta, depois perdeu força na segunda quinzena. Essa variação é levemente negativa para o avicultor devido a estas desvalorizações. Com a venda de um quilo de frango o avicultor compra 4,12 quilos de milho na parcial até 17 de fevereiro. Isso significa uma queda de 7,3% na relação de troca, desfavorável para o avicultor.


O QUE VEM PELA FRENTE
Luiz Henrique Melo aponta que está prevista uma safra recorde de milho, o que deve pressionar os preços do cereal no mercado spot. “O comprador vai fazer o melhor negócio para ele e o vendedor também. O comprador está observando notícias a respeito do milho sobre safra recorde, e acaba esperando um pouco, principalmente quem tem estoque para atender os animais. Essa oferta de milho deve atender à demanda do setor de proteína animal em 2025”, apontou.
Em relação ao milho safrinha, o diretor da HN Agro acredita que o mercado para o cereal não deve ter tanta folga este ano, mas, sem dúvida, a chegada da safrinha ao mercado vai ajudar na relação de troca.
“Acredito que deva haver um espaço de melhoria dessas relações. Paralelamente, a gente tem também um cenário do que está acontecendo com o plantio da safrinha, voltando para dentro da média histórica. Mato Grosso, por exemplo, teve uma boa acelerada no plantio, o que diminui o risco climático, embora ele não desapareça. Estamos falando de La Niña no começo do ano, mas depois deve ter um cenário de normalidade. O La Niña incomoda no Sul, e a safrinha é no Paraná e Mato Grosso do Sul. No Brasil central gera chuvas um pouco acima da média, e deve haver esse benefício”.
A expectativa de Hyberville Neto é que o ano seja bom para as exportações para carne de aves e suínos. O dólar cedeu em comparação ao final do ano passado, mas ainda segue em patamares elevados e interessantes para a exportação das proteínas. Portanto, Neto conclui que será o comércio externo que deve ajudar na precificação.
O consumo interno será observado com mais cautela, de acordo com ele, devendo ser um pouco mais fraco pelo cenário econômico no Brasil. Esta situação econômica mais apertada para o consumidor deve mover parte do consumo de carne bovina para a de frango, mais barata, o que acaba protegendo de certa forma a proteína avícola que tem uma elasticidade um pouco menor. A carne suína tem um consumo menos claro, levando em conta os embutidos, mas em geral, a expectativa é de bons preços, principalmente pelas exportações.
LIDERANÇA DO SETOR PRODUTIVO COM A PALAVRA
Dilvo Grolli, presidente da Coopavel em Cascavel, no Paraná, relembra que 2024 foi um ano bom para as carnes, dando margem positiva para quem tem integração e para aqueles produtores de proteína animal que atuam no mercado livre. Na visão do líder da cooperativa, o ano de 2025 está nesta linha, com bons preços para os produtores de suínos e aves e o valor dos insumos para a alimentação dos animais (milho e farelo de soja) seguindo a tendência de dezembro de 2024.
“A safrinha teve aumento de 25% na área de abrangência da Coopavel, o que deve resultar em uma safra maior. Entretanto, quando se vê o equilíbrio do estado do Paraná em questão de produção e consumo, têm uma margem de pouca sobra de milho. Isso é uma evidência de que o milho deve ficar na casa de preços que está hoje. Sobra 2 a 3 milhões de toneladas que, potencialmente, podem ser adquiridas pelos produtores de Santa Catarina, que são deficitários na produção do milho”.