Para o café, o ano de 2024 foi marcado pelo ciclo de baixa bienalidade, onde os efeitos do déficit hídrico prolongado e altas temperaturas nas fases de floração impactaram negativamente a produtividade dos cafezais nas principais áreas produtoras do Brasil. Diante deste cenário, as lavouras de café arábica e conilon vivem cenários distintos para esta safra 2025/26.
“Hoje, as principais avaliações com relação a safra do arábica apontam que ela será menor que a de 2024, mas não tão ruim como imaginávamos. Temos tido e observado uma extensão, um aumento de área plantanda e de irrigação para o arábica no Brasil, o que pode compensar o clima tão adverso que tivemos em 2024 para safra. Mas, é fato que a safra do robusta para essa temporada é boa e a variedade terá uma oferta superior do que a safra passada”, relatou o analista e consultor em Agronegócios, Lúcio Dias.
Segundo estimativas para a safra brasileira de café 2025 da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a produção de arábica é de 34,7 milhões de sacas, registrando uma queda de 12,4% em relação ao ano anterior. Esse desempenho reflete as adversidades climáticas, especialmente em Minas Gerais (maior produtor do país) onde a redução foi de 12,1%. Já para o café conilon, a produção deverá alcançar 17,1 milhões de sacas, um crescimento expressivo de 17,2% impulsionado principalmente pelos bons resultados no Espírito Santo, que responde por 69% da produção nacional dessa espécie.
De acordo com relatório divulgado pela Pine Agronegócios, para essa temporada a produção de conilon, em partes, compensará a menor safra do arábica e pode trazer uma mudança no blend para as torrefações locais, alterando assim o consumo por arábica. A corretora estima uma safra de 23.290M de sacas para o conilon, sendo esse número ainda abaixo do potencial produtivo. O bom pegamento e as condições climáticas até o momento apontam para essa boa produtividade, “pudemos observar que os meses de novembro a janeiro foram muito positivos para as lavouras do conilon, principalmente no Espírito Santo”, destacou ainda o documento. Para o arábica, a expectativa é de 36.462M de sacas, devido ao baixo pegamento em muitas regiões, somado a quantidade de áreas em poda observada pela equipe da Pine.
Região do Espírito Santo assume o protagonismo da produção do conilon 2025/26
De acordo com Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), o Espírito Santo é o maior produtor de café conilon do Brasil, responsável por aproximadamente 70% da produção nacional, e por até 20% da produção do café robusta do mundo. Cerca de 70% das lavouras de café da região são conduzidas com irrigação.
Levantamento realizado pela StoneX Brasil mostra que impulsionadas pelo uso eficiente de irrigação, melhores condições fitossanitárias, e o contínuo aprimoramento de práticas agrícolas pelos produtores, as lavouras da região se destacam pela excelente condição vegetativa, uniformidade e bom desenvolvimento dos frutos, refletindo assim em um avanço de 27,8% de produtividade. “Caso as condições climáticas permaneçam favoráveis em março, a safra de conilon 25/26 do Espírito Santo pode se tornar uma das maiores do Estado”, destaca a consultoria.
Devido essa alta produtividade dos cafezais, juntamente com a estiagem e o aumento da temperatura na segunda quinzena de janeiro que coincidiu com o período de enchimento de grãos, algumas lavouras apresentam vergamento de galhos, expondo os grãos ao sol. Mas, segundo o presidente da Cooabriel (Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel) Luiz Carlos Bastianello, ainda é cedo para avaliar possíveis impactos para a safra, “para a safra 2025 de conilon as expectativas são muito positivas, tanto em termos de produtividade quanto de preços para a variedade. As plantas estão em bom estado vegetativo e a florada foi boa. Com as chuvas acontecendo nos períodos previstos, o pegamento foi excelente e o desenvolvimento dos grãos está bastante satisfatório”, completou o presidente.
A Conab prevê para a região um crescimento de 9% nesta temporada, com 15,1 milhões de sacas, impulsionado pela produção de conilon, estimada em 11,8 milhões de sacas (+20,1%) devido aos bons volumes de chuvas registrados entre julho e agosto de 2024, que viabilizou a emissão das primeiras floradas e pegamento dos frutos.
Além da quebra: clima adverso traz preocupação sobre a qualidade da safra 2025/26
“É muito preocupante, principalmente este ano onde a perspectiva de safra já não é tão boa, que tenhamos outros eventos climáticos que afetem uma safra que já não é tão significativa. Essas altas temperaturas dos últimos dias pode afetar a fisologia da planta do café, causando mais estresse nesta fase final de desenvolvimento dos grãos”, alertou o engenheiro agrônomo e consultor em cafeicultura, Jonas Leme Ferraresso.
Diante deste clima adverso, a sanidade das lavouras (tanto do arábica como do robusta) está sendo afetada com a infestação de doenças e pragas. Jonas relata que alguns cafezais das regiões de Minas Gerais e São Paulo registraram o fenômeno fisiológico chamado “coração negro”, que acontece na fase do enchimento e granação da planta do café, resultando na degradação do lado de dentro do grão (deixando ele escurecido) e ocasionando assim a perda de peso/volume e qualidade daquela fruto na fase final.
“Além do coração negro, da escaldadura da folha, o produtor tem que ficar atento com o aparecimento de duas pragas em seus cafeeiros, que são impulsionadas por este período de forte calor e falta de chuva, que é a infestação do bicho-mineiro e do ácaro vermelho. Então, façam o monitoramento de suas lavouras, façam uso da irrigação. Agora é importante que seja mantida a saniedade da lavoura até a colheita”, destacou ainda o engenheiro.