A persistência das chuvas no mês de outubro e a ocorrência do fungo giberella em algumas lavouras vêm impactando a colheita da safra de trigo deste ano, mas a estimativa de produção permanece em 3,7 milhões de toneladas. A avaliação da safra atual e a situação de comercialização do grão foram temas abordados durante a reunião da Câmara Setorial do Trigo, realizada de forma virtual na segunda-feira (10).
Foto: Jose Fernando Ogura
“A safra vinha muito bem, em condições que repetiam a safra de 2022. A questão é que o mês definidor, outubro, teve muitas chuvas, alterando o peso hectolitro (PH) do trigo e atrasando a colheita. Também houve ocorrência de giberella. Ainda temos a expectativa de uma safra boa, mas com desempenhos variáveis conforme a região do estado”, disse o gestor da área de cultivos anuais da Emater/RS-Ascar, Alencar Rugeri.
A colheita do trigo no Rio Grande do Sul está em 40%, segundo dados da Emater. “Temos praticamente metade da safra ainda na lavoura, e isso é uma fragilidade em termos das principais doenças de final de ciclo”, alertou Alencar.
O assistente de operações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Matias José Führ, disse que a entidade tem a mesma percepção da Emater/RS-Ascar com relação à atual safra de trigo. “Estamos verificando uma variabilidade grande de produtividade nas lavouras, de pouco mais de 2 mil quilos até mais de 4 mil quilos por hectare. Muitas áreas foram implantadas com baixo padrão tecnológico, o que também deve influenciar na expectativa. Então, a estimativa oficial hoje está ainda muito próxima da inicial, de 3,2 mil quilos por hectare, com uma área cultivada de 1,15 milhão de hectares”, enumerou.
Comercialização

O setor avalia como delicado o momento atual do mercado do trigo, com preços muito baixos, o que desestimula o produtor. O Governo Federal anunciou recentemente o apoio ao escoamento e comercialização de até 148 mil toneladas de trigo do Rio Grande do Sul, por meio de leilões públicos do Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro) e do Prêmio de Escoamento da Produção (PEP). “É uma ação importante, mas insignificante frente à produção do estado. Ela traz um balizador irreal para comercialização, deixando quem origina trigo numa saia muito justa. Vemos com muita preocupação a produção de trigo do Rio Grande do Sul”, criticou o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do RS (Fecoagro-RS), Paulo Pires.
O diretor do Moinho Santa Maria, Tino Antoniazzi, lembrou que todas as commodities vêm sofrendo com os preços baixos. “O quadro geral não está bom, mas a venda é garantida. Hoje o produtor felizmente consegue negociar, as exportações estão funcionando. O trigo já chegou ao fundo do poço no preço, então acho que daqui, só para cima. Estamos em pleno momento de oferta, talvez devemos aguardar um pouco para melhorar as condições”, ponderou.
Sob este aspecto, um dos encaminhamentos da Câmara Setorial será solicitar, junto ao Governo Federal, maior aporte de recurso de apoio à comercialização do trigo, com um instrumento que dê mais liquidez ao produtor rural. Também será pedido que o Governo Federal possa estabelecer um volume maior para o Rio Grande do Sul nos leilões PEP e Pepro já agendados, remanejando demandas do Paraná, em função da descapitalização dos produtores gaúchos, que estão em situação crítica para obtenção de crédito rural.
Participaram da reunião representantes das seguintes entidades: Associação dos Produtores de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul), Banrisul, Conab, Cooperativa Tritícola de Espumoso (Cotriel), Emater/RS-Ascar, Embrapa Trigo, Farsul, Fecoagro, IBGE, Moinho Estrela, Moinho Santa Maria, Motasa, Secretaria da Fazenda, Sicredi e Sinditrigo.