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A soja entre China x EUA: Quando começarão os negócios? Quanto será negociado? Analistas respondem ao Notícias Agrícolas

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O mercado da soja na Bolsa de Chicago entrou em uma nova fase nesta semana, testando ganhos intensos na sessão desta segunda-feira (27) diante das notícias de que China e Estados Unidos firmaram um acordo prévio sobre alguns temas sensíveis para ambas as nações. A oleaginosa não consta do acordo, porém, foi citada nas discussões e, mais do que isso, nas declarações pós negociações, o que animou ainda mais os traders. 

Na primeira sessão desta semana, os futuros da soja terminaram o dia com ganhos de mais de 20 pontos – ou mais de 2% – testando novamente o patamar dos US$ 11,00 por bushel, principalmente nos contratos mais alongados. Assim, as cotações têm suas máximas em vários meses na CBOT, porém, ainda atuando no campo da especulação, esperando por confirmações deste ponto em diante. E mais do que isso, esperando por notícias que sejam específicas sobre o comércio da soja entre as duas maiores economias do mundo.

Veja a análise de Vlamir Brandalizze:

No Brasil, as atenções estão sobre como este momento vai impactar sobre os preços da soja – tanto nos portos, quanto no interior do país, seja da safra velha, seja da safra nova – e também a demanda pelo produto brasileiro. Ainda assim, as expectativas são de que esta deverá ser uma semana de bons negócios, com os vendedores aproveitando os rallies de Chicago com as melhores estratégias. 

O Secretário do Tesouro Americano, Scott Bessent, afirmou que prevê que a China retomará as compras da commodity norte-americana de forma substancial e que deverão se estender por muito anos. “Os produtores de soja dos EUA se sentirão muito bem com o que está acontecendo nesta temporada e nas próximas temporadas por vários anos”, afirmou a autoridade duante o programa da CBS “Face the Nation”.

As expectativas dão conta agora de que tais confirmações deverão vir quando, nesta quinta-feira (30), se encontrarem Donald Trump e Xi Jinping na Coreia do Sul. As discussões são agora sobre a possibilidade de um acordo comercial efetivo entre os dois países, podendo, de fato, mudar o cenário de negócios entre China e Estados Unidos, após meses de guerra tarifária. 
 
Dados reportados nesta segunda pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) apontam que, na semana encerrada em 23 de outubro, os embarques semanais de soja foram de 1,061,375 milhão de toneladas, contra projeções de 1 milhão a 1,5 milhão de toneladas. E deste total, nada foi carregado para a China. “Apesar dos embarques terem vindo dentro das expectativas, este foi o menor volume semanal em 18 anos”, afirma a especialista internacional em commodities agrícolas, Karen Braun. 

Com este volume, o total já embarcado pelo país chega a 6,715,111 milhões de toneladas, 37% menos do que no mesmo período do ano passado. 

O que o mercado está acompanhando agora e o que monitora daqui em diante? O Notícias Agrícolas foi ouvir diversos especialistas para entender de plurais perspectivas o que o produtor brasileiro de soja pode esperar do mercado nos próximos dias e semanas. Entenda!

RONALDO FERNANDES, ROYAL RURAL

“É muito comum vermos os Estados Unidos vindo dizer que tem um acordo robusto, que tem algo preparado e logo depois a gente espera, espera, espera e não vem nada. Nós vimos isso desde quando Trump falou que a China ia comprar quatro vezes mais soja americana, depois falou que ia dar um subsídio para o produtor americano e todas as vezes que alguma fala do lado dos Estados Unidos tem ceticismo. O que veio diferente dessa vez é que o anúncio partiu da China. A China disse que confirmou que já havia um acordo preliminar desenhado, mas focado em política anti-drogas e também nas terras raras. E logo após esse anúncio da China, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, disse que também tem algo já preliminar para compras agrícolas, que a China vai voltar comprar soja dos Estados Unidos. Só que não tem nenhum detalhe a respeito de nada. Esses detalhes devem vir ao longo dessa semana. 

Eu acredito que eles podem segurar isso até a quinta-feira, porque é um assunto político para os dois lados, sobretudo para o Trump. Está tudo precificado? Eu acredito que não. Acredito que tem espaço ainda para mais um pouco de alta se de fato vir esse acordo. O que a gente precisa saber é qual vai ser o modelo desse acordo, porque o primeiro acordo lá atrás teve um nível mínimo de compra da China, mais um adicional na primeira fase, depois um segundo nível mínimo e um outro adicional na segunda fase. Então, não dá para antecipar qual que vai ser esse detalhe do acordo. Mas o que já traz uma esperança não é nem ter um valor mínimo, não é nem ter um adicional de compras, é só o fato da China voltar. Mas, eu acredito que ainda é tudo muito pontual. Essa seria uma pressão que a gente pode ver agora na virada do ano. Ela pode se sustentar talvez até ali janeiro, dezembro, janeiro. Mas isso é uma leitura de curto e médio prazo. A longo prazo, Chicago também vai sentir a entrada da soja brasileira. Neste cenário de chegada da nova safra do Brasil, os prêmios por aqui caem, o preço da soja americana volta a cair no ano que vem sentindo a entrada da soja brasileira, mas agora dá um fôlego para o produtor americano que está sofrendo muito. 

Então, agora as atenções não tem outro assunto. É de fato a possibilidade real de, enfim, vir um acordo China-Estados Unidos e para a soja pode ser anunciado pelo próprio Trump agora dia 30″. 

MATHEUS PEREIRA, PÁTRIA AGRONEGÓCIOS

“Este é um otimismo justificado no mercado. Temos que lembrar primeiro que essa novela comercial entre Donald Trump e Xi Jinping não é de hoje, ela já se arrasta por sete anos, vai completar o oitavo ano daqui seis meses, então não é nada novo. Porém, ela ganha capítulos que vão acrescentando a história que traz esse certo otimismo em relação aos preços internacionais da soja. Vale lembrar que as principais expectativas eram para acordos paliativos, não para acordos definitivos. Donald Trump já ressaltou que a negociação duradoura deve vir realmente após 2026, de janeiro para frente. Ambos os mercados já se adaptaram ao conflito comercial. Ambas as nações já remodelaram a sua matriz de comércio para manter o conflito comercial, as barreiras tarifárias das duas vias. Então, acreditamos que esses acordos vão priorizar, eventualmente, produtos mais importantes para a economia dos dois países. E na soja, no atual momento, não tem essa dependência de nenhum dos lados. 

Os norte-americanos já não são mais grandes exportadoras, hoje já consomem mais do que exportam. A China é um mercado importante sim, só que os norte-americanos conquistaram outros mercados, tirando essa dependência de estar colocando só em direção à gigante asiática, enquanto a China, por sua vez, se aproximou aqui da América do Sul, abriu o mercado na Argentina, tenta abrir mercado no Paraguai, Uruguai. E com o Brasil, vivemos esse ‘romance eterno’. Então são duas vias ali que, apesar desse otimismo, é algo que o mercado se adaptou. Nós acreditamos na Pátria que, se um acordo for surgir, vai ser um acordo que retoma as tarifas em especial na soja a patamares pré-2025, que eram de 25%. Hoje elas estão em 30%, subiram 5% entre idas e vindas nas negociações do Donald Trump com o Xi Jinping, foram a 125%, voltaram para 30%. 

Nós acreditamos que, se voltar a normalidade, é o normal de 2024 a 2018, que é de 25%. Então, o Brasil dificilmente deixará de ser a principal fonte de fornecimento de soja da China. Diria que é impossível isso acontecer no curto prazo. Agora, o otimismo vem não só pelas negociações, mas por conta de clima também no Brasil. Pouca gente falando disso, alguns até negligenciando já os problemas. Mato Grosso já vive aí quase um mês de falta de chuvas em algumas regiões está com muita preocupação e infelizmente são mais 7 a 10 dias de seca para grande parte da região central brasileira. A gente teve o maior pontapé de plantio da história do Brasil esse ano muito acelerado o começo muita soja no chão que soja que enfrenta agora o problema climático. Então é uma faca de dois gumes”.

FERNANDO PIMENTEL, AGROMETRIKA 

“Se voltarmos para 2018, quando teve o primeiro tarifaço, mas algo muito exclusivo para a China, no primeiro governo Trump, a China não estava tão preparada como está agora. E na ocasião tinha uma meta de US$ 30 bilhões de compras de produtos agropecuários americanos que não cumpriu. Então, hoje com a China muito mais preparada, o jogo, por enquanto, está voltado mais para o lado da China com a questão das terras raras. O poder de barganha do Trump agora me parece um pouco menor. Se eu fosse um produtor do Meio-Oeste americano não estaria tão otimista. Pode chegar até ter um acordo, mas por outro caminho também podemos ter um não cumprimento, seria uma possibilidade. E também o fato de que a China está se abastecendo relativamente bem com o Brasil e a Argentina, e logo mais um ano, um ano e meio, nós vamos ter aquela Rota Bioceânica, que vai permitir embarcar  pelo Pacífico, por outras alternativas. Então, isso também vai aumentar muito a competitividade do nosso produto. Ao menos em partes, logisticamente, é uma oportunidade. Só se a Argentina criar alguma dificuldade por conta dessa intervenção positiva do Trump para prejudicar esse caminho da saída. Tem muita bravata mesmo. 

Tem muita conversa a jogar, com palavras no ar. Mas de concreto mesmo, essa negociação entre China e Estados Unidos vai ser muito dura. Veja que já estamos aí falando desde abril desse acordo,  já estamos em final de outubro, entrando em novembro, e até agora não se acertaram. Então, vejo uma dificuldade. Tem vários aspectos na mesa, eu não acho que tem nenhum motivo para esse otimismo”.

VICTOR CAZZO, VENDA NA HORA CERTA

“São dois cenários e uma tomada de decisão. De um lado temos euforia de mercado pelas manchetes de uma história que está sendo contada pelo lado americano. Outro lado que chama a atenção é o do que foram prorrogadas as tarifas por mais 90 dias. Se vai ser assinado um acordo na quinta-feira, por que prorrogaram por mais 90 dias? Vale a atenção nesse ponto também. Então, temos esses dois lados. Há ainda um terceiro, que é que o que vai motivar essa continuação em uma alta nos preços, são os termos desse acordo que também não foram divulgados até agora. Quanto vai comprar, quando vai comprar, como vai comprar. Se olhar para dentro do ano tem pouca soja a ser comprada ainda. No começo do ano, um pouquinho, janeiro. E depois já entra a safra brasileira que é a preferida por sazonalidade. Então você tem tudo isso na ponta do lápis que pode frustrar o mercado.  De outro lado, sendo extremamente otimista, vamos dizer que voltem os dados do USDA, corte a produção, corte a produtividade e o acordo sai com bons números, com a China comprando um monte de soja dos Estados Unidos. Aí, Chicago pode explodir, bate US$ 12, talvez até mais. Você tem esses dois lados. 

O que eu faria hoje, olhando para o produtor que está aí em cima do muro? Eu realizaria lucro, eu colocaria dinheiro no bolso, faria vendas, chegaria a 30% da comercialização, tendo ainda 70% para vender no ano que vem. Quem tem ferramenta, trava o Chicago. Batemos os US$ 11,00, é fechar e esperar por outra chance pra vender mais pra frente”. 

GILBERTO LEAL, GRANEL CORRETORA
 
“Para a safra velha eu não vejo não vejo uma pressão muito forte, até porque nosso desconto em relação à soja americana, principalmente do Golfo, diminuiu bastante, está aproximadamente 18 centavos de dólar por bushel em termos de matriz de competitividade. Isso é só a qualidade da soja brasileira. Em relação à soja americana, esse prêmio que o chinês paga um pouco mais pela soja do Brasil acaba neutralizando essa diferença. Então, eu não vejo uma uma mudança grande nos prêmios na safra velha. Nós vendemos a safra velha semana passada 250 posto China. Agora, para a safra nova é um pouco diferente. Temos um cenário um pouco diferente em relação ao ano passado. Por ser mais ofertado, naturalmente, temos uma pressão um pouco maior, o farmer selling mais atrasado do que em relação ao ano passado, quando tínhamos 33% fixado e China já tendo comprado de 18 a 20 milhões de toneladas. Esse ano, temos 28% e China comprou 14 milhões de toneladas. Além disso, temos que acompanhar as margens na China, que não estão tão favoráveis tanto no esmagamento, quanto poara os suinocultores, o que nos faz monitorar a intensidade da demanda. Então, pela nossa competitividade de origem já na janela de sazonalidade brasileira, incluindo o janeiro, devemos permanecer com essa demanda presente aqui pelas crushers privadas, enquanto a migração de uma demanda das estatais, como o Sinograin, principalmente para a rotação de estoque, nos Estados Unidos. 

O mercado já já vinha comprando essa expectativa do acordo. Nós temos um cenário macro que também favorece essa corrida pelos futuros na Bolsa de Chicago, que é a expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos para essa semana já. Temos um excesso de liquidez financeira no mercado de momento. Com essa provável queda dos juros, as operações de rede também ficam mais baratas e há uma atuação muito forte de fundos, de commodities em Chicago de momento por esse excesso de liquidez. Somado a tudo isso que a gente já vem falando com essas expectativas de acordo comercial. 

Vale salientar que oficialmente nos documentos até agora não foi mencionado compra de soja americana. O que a gente teve foi uma declaração do Bessent falando de compra de soja americana, mas nos documentos, nos relatos oficiais, por parte da China, não teve isso.

O mercado busca busca se posicionar com o rumor, com essa possibilidade de desescalada. Mas vamos ver o que vai acontecer para frente. Mas, no meu entendimento, sim, eu acho que para a safra nova temos um momento de pressão sobre os prêmios por causa de todo esse cenário de ampla oferta e de um farmer selling atrasado, enquanto para a safra velha eu não vejo um distanciamento, porque já tivemos a correção na diferença dos preços em termos de matriz de competitividade entre o Brasil e os Estados Unidos”. 

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