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SÃO PAULO, 3 Dez (Reuters) – Após um início de safra de soja 2025/26 no Brasil marcado por chuvas irregulares, as precipitações deverão se regularizar ao longo do verão, com os modelos meteorológicos mostrando ainda menor risco de seca para áreas ao Sul em meio a um fenômeno La Niña fraco, afirmaram nesta quarta-feira meteorologistas da Nottus à Reuters.
“A tendência é de evolução das chuvas, os modelos estão concordando com essa evolução”, afirmou Desirée Brandt, sócia-executiva da Nottus.
Ela lembrou de episódios de replantio de soja em Mato Grosso e Goiás devido ao tempo “crítico” ao final de novembro. Mas disse que esta primeira semana de dezembro já registra chuvas em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
Em São Paulo e Mato Grosso do Sul, as precipitações ainda serão mais pontuais nesta semana. “Mas a tendência é de a chuva se espalhar mais e aumentar o volume, a partir da semana que vem, esta é uma semana de transição”, acrescentou Brandt.
A irregularidade climática inicial trouxe alguma cautela entre especialistas sobre eventuais perdas para a safra cujo plantio caminha para a parte final no país, maior produtor e exportador global.
Nesta semana, a consultoria StoneX fez um ligeiro corte na projeção para a colheita brasileira de soja 2025/26, embora estimando-a em um recorde de 177,2 milhões de toneladas.
“O importante é que não há indício de corte antecipado de chuvas ou de bloqueios atmosféricos tão persistentes que possam trazer algum prejuízo grande”, complementou a meteorologista.
Já Alexandre Nascimento, sócio-diretor da Nottus, disse que os modelos melhoraram as perspectivas em relação a riscos de período sem chuva no verão.
“Uma coisa que nos preocupava: entre dezembro e janeiro havia previsão de uma janela que não era 100% seca, mas que merecia atenção, exatamente na época de enchimento de grãos… mas os modelos melhoraram bastante”, disse ele, citando uma região ao sul de Mato Grosso do Sul.
Ele acrescentou que a lógica também vale para Rio Grande do Sul e até a Argentina.
Em períodos de La Niña, identificado pelo esfriamento das águas do Pacífico equatorial, as chances de tempo seco ao sul do país aumentam.
“Parece estar melhor do que a gente via há um mês”, afirmou.
Nascimento citou, contudo, uma preocupação de chuvas mais volumosas no período de colheita da soja e plantio de milho, algo que pode gerar problemas logísticos, ainda mais em uma safra que teve algum atraso no plantio.
“Quando se tem verão com Pacífico mais frio, a chance de ter invernada em fases de colheita é grande”, disse ele, citando áreas do Sudeste, Centro-Oeste e Rondônia.
Brandt considera que algumas dificuldades “vão aparecer, mas sem grandes extremos a ponto de prejudicar logística e porto”.
MILHO, CAFÉ E CANA
Ainda que o atual La Niña fraco comece a perder força no primeiro trimestre, as condições climáticas deverão estar favoráveis para um prolongamento da estação chuvosa, o que favorece o milho segunda safra, disseram os meteorologistas.
“Quando tem La Niña… a chuva demora um pouco para se instalar de fato…, mas o grande medo do produtor nem é em relação à soja, o medo dele é a segunda safra, ele quer fugir da geada e do corte de chuva”, disse Nascimento, lembrando que muitos agricultores buscam antecipar a soja para plantar logo o milho.
“No entanto, após o atraso, a chuva espicha lá na frente”, acrescentou ele, citando que isso beneficia a cultura de segunda safra.
As chuvas também tendem a favorecer lavouras de café e cana-de-açúcar, após um período de irregularidade climática que atingiu essas culturas.
No final deste ano e início do próximo, essas safras deverão ter uma condição climática mais favorável, disse a meteorologista.
(Por Roberto Samora)