A soja é o principal produto de exportação agrícola brasileiro e, do total exportado, aproximadamente 75% tem como destino a China. Para trazer um panorama dos desafios que perpassam esse mercado, a coordenadora do núcleo de Ásia do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Larissa Wachholz, abordou a centralidade da China na geopolítica da soja frente aos crescentes controles e demanda durante o 7º Seminário Desafios da Liderança Brasileira no Mercado Mundial de Soja, realizado nesta semana em Londrina (PR).
“É preciso avaliar a perspectiva do Brasil em relação à China, seu principal cliente, e também a perspectiva chinesa, que não necessariamente se sente confortável com uma dependência excessiva de um único fornecedor”, avalia. Larissa aponta ainda que os Estados Unidos também desejam aumentar a sua exportação de soja para a China e que os dois países estão negociando um acordo comercial. “Como lidar com essa questão, seja diversificando com novos produtos ou abrindo novos mercados”, reflete. “Precisamos estar atentos às mudanças de cenários geopolíticos e também de política interna da China para nos posicionar de forma estratégica”, relata Larissa.
No que se refere às exigências do mercado internacional para a exportação de soja, Hugo Caruso, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal, do Ministérios da Agricultura afirma que o Brasil vem recebendo notificações da China relacionadas a pragas quarentenárias, principalmente de sementes quarentenárias em cargas de soja, e até relato de soja tratadas com fungicidas. “Tivemos inclusive, esse ano, cinco empresas que foram suspensas para exportação de soja, mas conseguimos reverter a situação nos comprometendo que resolveríamos o problema. Por isso, precisamos ter toda cadeia produtiva ciente das suas responsabilidades para não provocar complicações nas nossas exportações”, alerta Caruso.
Fátima Parizzi, consultora técnica Abiove, apresentou as medidas de monitoramento e de controle que precisam ser intensificadas pela cadeia produtiva com intuito de minimizar as notificações da China. “Há pontos a serem melhorados, desde a produção no campo até a expedição do produto, especialmente com relação à presença de sementes quarentenárias. A recomendação passa pela intensificação das boas práticas agrícolas no campo de produção, assim como as boas práticas de armazenagem nas unidades armazenadoras. Esse processo visa minimizar os riscos de notificações”, orienta Fátima.
Para abordar os aspectos legais e normativos para exportação de soja geneticamente modificada (transgênicos) à China, o Seminário contou com a palestra da Catarina Pires, diretora de Biotecnologia da da CropLife. Segundo ela, a convergência regulatória em biotecnologia pode impactar as exportações de commodities agrícolas, especialmente para a China. “Hoje o Brasil tem um quadro regulatório que leva, em média, um ano e meio para aprovar os produtos transgênicos, mas a China tem levado, em média cinco anos. Esse descompasso gera um impacto econômico, mas o Brasil e a China podem cooperar para que os sistemas regulatórios sejam mais convergentes e harmonizados. “Se superarmos esse desafio, teremos um acréscimo de mais de 1 bilhão de dólares para a cadeia exportadora de produtos agrícolas, por ano”, calcula Catarina.