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Produtores americanos vivem calamidade financeira que dá sinais importantes ao mercado da soja no BR

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O novo boletim semanal de vendas para exportação do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) refletiu uma das maiores preocupações dos produtores norte-americanos neste momento: a demanda ainda sem grandes surpresas frente a recordes de oferta. Principalmente para a soja, onde a ausência da China é sentida de forma mais expressiva, o efeito é também mais agressivo sobre a saúde financeira destes produtores.

No acumulado da temporada 2025/26, os EUA já comprometeram 10,277 milhões de toneladas, consideravelmente menos do que há um ano, quando o total já comprometido chegava a 15,992 milhões de toneladas. “Em mais um relatório notou-se a ausência de compras pela China, que continua comprando na América do Sul. A cobertura da China está boa até o final de 2025 e, parcialmente para janeiro”, explicam os analistas da Agrinvest Commodities. 

E esse movimento vai afastando cada vez mais a necessidade da nação asiática em olhar para a commodity norte-americana. Afinal, o plantio da nova safra do Brasil começou, já deverá haver produto 25/26 disponível em dezembro, o que torna a soja brasileira mais competitiva novamente, fazendo com que a China siga evitando comprar nos EUA, mesma com as negociações entre os dois países ainda em curso. 

Nesta semana, autoridades das duas maiores economias do mundo – inlcuindo o Secretário do Tesouro Americano, Scott Bessent, e o vice-premiê chinês, He Lifeng, – estiveram reunidas em Madri, na Espanha, e foi confirmada uma ligação telefônica para esta sexta-feira (19), entre Donald Trump e Xi Jinping. Todavia, o agronegócio ainda não se mostra como uma prioridade nas pautas e, por mais que o mercado especule, ainda não se vê com clareza quando a China poderia voltar a comprar nos EUA. 

Até aqui, entretanto, o produtor norte-americano vem sentindo ainda o impacto da demanda menor por seus produtos e o impacto direto sobre suas margens de rentabilidade.

“A margem do produtor norte-americano é negativa. Aquela margem financeira, sem falar de margem operacional, assim como em alguns casos aqui no Brasil, é negatival. O cenário agrícola dos EUA não é economicamente viável, mas o produtor rural não tem opção a não ser colocar a semente na terra e colher lá na frente. O que tem salvado o produtor americano são os subsídios”,  afirma o diretor da Pátia Agronegócios, Matheus Pereira.

O especialista complementa dizendo que o presidente norte-americano já distribui algo como US$ 130,00 por acre aos produtores, em média – o que equivaleria a cerca de R$ 1800,00 por hectare – “para dar sustentação à cadeia agrícola por conta da guerra comercial. E a guerra comercial só afasta o produtor de colocar soja no chão. Não deixa de plantar, aglutina somente. A margem é pequena, mas a escala vai vencendo e o que podemos ver é uma concentração de cultura. Rotação é importante, em especial nos EUA, mas como rotacionar em culturas que não dão rendimento como a soja? E assim, pode acontecer que cada vez mais o milho acabe sendo incentivado”. 

Até que isso aconteça, quem mais sofre é o produtor rural dos Estados Unidos. Em manchete, a agência internacional de notícias Reuters afirmou que os agricultores norte-americanos estão vivendo um momento de “calamidade financeira”. E assim, o pleito central da classe é de que o governo Trump lhes garanta uma ajuda extra para passar pelo atual momento. O pleito chega, inclusive, a alguns parlamentares, que levaram a discussão ao Congresso, que corre junto ao USDA.

“Os agricultores estão passando por um dos piores momentos econômicos, creio eu, de toda a minha vida”, disse o presidente republicano do Comitê de Agricultura da Câmara, Glenn Thompson, da Pensilvânia. 

A secretária de Agricultura dos Estados Unidos, Brooke Rollins, afirma que também tem pleiteado pela ajuda, mas ainda sem especificar o volume ou o cronograma da chegada dos recursos, em uma declaração que fez na última segunda-feira (15). Os parlamentares seguem afirmando que o auxílio precisa chegar até o final do ano. 

“O presidente Trump e a secretária Rollins estão sempre em contato com as necessidades de nossos agricultores, que desempenharam um papel crucial na vitória do presidente em novembro”, disse a porta-voz da Casa Branca Anna Kelly, em um email enviado à Reuters. Kelly complementou dizendo ainda que os recentes movimentos do presidente norte-americano para a contenção da inflação também seriam refletidos em uma queda nos preços dos insumos. 

“Os Estados Unidos já perderam, pelo menos, um mês, um mês e meio de exportações, os EUA já perderam demanda”, afirma o diretor da Pátria Agronegócios, Cristiano Palavro, em entrevista ao fechamento de mercado da soja ao Notícias Agrícolas nesta quinta-feira (18). “Quando temos, no começo de 2025, Trump já eleito e anunciando que iria encampar um novo conflito comercial com a China como principal alvo, tínhamos uma percepção de redução de área nos EUA de até três milhões de hectares ou mais. Veio o número do USDA de 1,4 milhão e foi um número que criticamos bastante por conta do cenário do momento de decisão do produtor norte-americano”. 

Palavro explica que nestes meses de decisão do agricultor – de outubro a fevereiro – o milho estava mais competitivo, a relação soja x milho favorecia o milho, rotação de cultura favorecendo o plantio do milho e mais os sinais de Trump sobre uma nova guerra comercial. Com isso, na sequência, o departamento americano de agricultura fez uma nova revisão para baixo na área de soja cultivada nos EUA nesta temporada. 

“Será que o produtor norte-americano não deveria ter tirado um pouquinho mais o pé da soja já sabendo das circunstâncias de um novo governo Trump? Seria muito bom para o nosso mercado que eles tivessem plantado cinco milhões de hectares a menos, mas é claro que é uma situação difícil e que pode levá-los a, no ano que vem, tirarem ainda mais o pé da soja e trazerem alguma melhora para o nosso mercado”, complementa Palavro. 

Veja sua entrevista na íntegra:

Do que o Brasil exportou de soja em grão e janeiro a agosto deste ano, 76,5% foram para a China. “Este é um recorde que ultrapassa o percentual, inclusive, daquele período do governo Trump I, em, 2018. E a tarifa da China é de 23,8% para importar soja dos EUA, contra zero do Brasil, então não faz nem sentido. A China continua se abastecendo no Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, com a predominância no Brasil”, explica Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio. 

Enquanto isso, os preços continuam a ser impactados e limitados na Bolsa de Chicago, para o produtor norte-americano e os efeitos colaterais vão se agravando. A saúde mental dos produtores rurais norte-americanos é um desses efeitos e o número de profissionais que sofrem com problemas semelhantes ao que foram observados entre os agricultores brasileiros nos últimos meses, em decorrência de perdas de produção por intempéries climáticas e o acúmulo inevitável de dívidas.

Um índice da Universidade de Purdue – Purdue University’s Agriculture Economy Barometer Index – que mede as expectativas dos produtores rurais norte-americanos mostrta que, em agosto, houve uma queda pelo terceiro mês consecutivo. Além disso, os números mostram também que o número de falências entre pequenas empresas e grupos agrícolas dos EUA é o maior desde 2020, e a dívida agrícola deve registrar seu pico em 2025, segundo dados levantados pela agência internacional de notícias Bloomberg. 

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Gráfico: Bloomberg

E embora boa parte do atual momento seja atribuída por uma parcela dos agricultores às traifas de Trump, uma outra parcela acredita que são estas mesmas tarifas que serão responsáveis pelo reestabelecimento da economia norte-americana e que o agronegócio dos EUA será favorecido. 

Os gráficos abaixo mostram o recuo das exportações de soja dos EUA, a dívida agrícola norte-americana, as taxas de inadimplência e o desemprego entre funcionários do setor. 

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Gráficos: Bloomberg

“Quando sair um acordo entre China e Estados Unidos, e não precisaria nem incluir produtos agrícolas, bastaria, por exemplo que a China zerasse o imposto de importação, a disputa será via prêmios. Quem tiver os prêmios mais atrativos vai vender para a China. Ou seja, o mercado voltaria a ser o que era antes do Trump assumir”, afirma Cogo. 

Frente a toda esta realidade – que já era como uma calamidade anunciada, segundo afirmam analistas e consultores de mercado – há dois cenários de impactos para os preços da soja, tanto no mercado em Chicago, quanto no Brasil, ainda segundo o diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio. 

“O primeiro cenário é o atual, fica tudo como está. Os preços futuros em Chicago ficam nessa marola, estáveis, de lado, hora sobem, hora caem, mas não saem daquela rota dos US$ 10,80 para os vencimentos do ano que vem, e os prêmios no Brasil ficam positivos até o final deste ano e até o fim do primeiro semestre do ano que vem, sinalizando que este cenário, na visão dos traders, é o cenário que será visto no começo de 2026, China continuando a comprar na América do Sul”, diz. 

O segundo cenário é este em que o mercado, como já explicado pelo especialista, em que um acordo possa fazer com que a China volte a comprar nos EUA e os prêmios definirão quem será a origem mais atrativa. 

“Os prêmios no Brasil cairiam, principalmente os do primeiro semestre do ano que vem, que estão ainda em campo positivo. Então, são dois cenários bastante distintos. O primeiro cenário ainda deixa uma margem positiva no Brasil em todas as regiões e o cenário dois já não deixa mais margens positivas em algumas regiões, como no Cento-Oeste, nas regiões mais distantes dos portos pela questão do prêmio, que sairiam do positivo para o negativo. E isso poderia demorar um ano, seis meses, como pode acontecer na semana que vem, basta acontecer um acerto entre os dois e a China zerar essa tarifa de importação”, conclui Carlos Cogo. 

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