As primeiras chuvas já começam a chegar no estado de Mato Grosso, maior estado produtor de soja do país, porém, ainda insuficientes para permitir que os produtores possam avançar com seus trabalhos de campo e ficarem com tudo pronto para o início da safra 2025/26. Os vídeos abaixo, enviados pelo head de commodities da Granel Corretora, Gilberto Leal, mostram alguns volumes chegando a Campos de Júlio e Tangará da Serra, regiões importantes de produção no estado.
De acordo com Felippe Reis, analista de safras da EarthDaily Agro, a umidade do solo no Mato Grosso já está abaixo da média, o que poderia fazer com que o produtores aguardem pela volta das chuvas para só então iniciar o plantio.

No entanto, por enquanto, “tanto o modelo climático europeu (ECMWF; à esquerda) e o modelo climático americano (GFS) apontam chuvas acima da média apenas no Sul do país, principalmente no Rio Grande do Sul. Assim, a previsão é de que a umidade do solo continue baixa em Mato Grosso”, afirma Reis.

Ainda segundo o analista, a previsão é de que a umidade do solo no estado permaneça no mais baixo nível dos últimos 10 anos, considerando a primeira quinzena de setembro. ” Esse cenário reforça a possibilidade de um atraso para o início do plantio da soja em Mato Grosso”.

“A previsão é de que a precipitação acumulada seja de 0,74 (ECMWF) A 2,15 mm (GFS) considerando de 1 A 16 de setembro. A média dos últimos 30 anos para o período é de 12,38 mm”, complementa Reis.

O fim do vazio sanitário em Mato Grosso, segundo o MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), termina em 6 de setembro, porém, para que o plantio da soja comece efetivamente seria importante que as chuvas se estabeleçam no estado, chegando não só em bons volumes e com boa abrangência de forma que possa garantir bons níveis de umidade no solo.
“Segundo dados do NOAA, nos próximos quinze dias, o volume de chuvas deverá ser insuficiente para viabilizar a semeadura logo após o término do vazio sanitário, na maior parte de Mato Grosso. Esse quadro é semelhante ao observado no ano passado, quando houve atraso inicial das precipitações, mas a regularização ocorreu ao final do mês”, informa o reporte semanal IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária).

Assim, os especialistas do IMEA destacam também as informações que mostram que “a previsão para o fenômeno El Niño–Oscilação Sul (ENOS) ainda indica neutralidade, condição que tende a favorecer uma melhor distribuição das chuvas no
estado”.
Mais do que isso, o instituto afirma também que caso as chuvas se atrasem mais do que o atualmente previsto poderão ocasionar uma concentração não só do plantio, mas também da colheita, o que acaba deixando a safra mais exposta a riscos, caso eles venham a aparecer.
Para o cenário nacional, os modelos climáticos mostram que os primeiros 10 dias de setembro deverão ser de tempo ainda mais seco, com chuvas mais intensas sendo registradas somente no sul do país. O mapa abaixo, do modelo GFS, traz as chuvas previstas até o dia 12 de setembro.

Neste cenário, há diferentes realidades para o início do plantio, ainda como explica Gilberto Leal. Segundo ele, os produtores de algodão deverão avançar com a semeadura mesmo que seja no pó, para garantirem a janela mais adequada para a pluma. Já para os produtores que têm na soja sua cultura principal, as decisões deverão depender mais da efetivação e confirmação das chuvas, uma vez que os custos estão bastante elevados nesta temporada e “eles não poderão errar no plantio. Estes tendem a esperar ter uma melhora da umidade para então soltar plantio, e estão confiando nos mapas para a segunda quinzena de setembro”.
Já onde os níveis de umidade se mostram mais satisfatórios, “quem conseguir antecipar, vai antecipar, também para garantir a janela do milho. Porque o milho, de certa forma, para as usinas de etanol no 25/26 a R$ 50,00 está favorecendo muito em termos de margem. Então, os produtores tendem a acelerar um pouco mais o plantio também para não perder a janela da safrinha e tentar plantar o milho 100% da área. É isso que temos visto na nossa região nos últimos anos com a chegada das usinas. Havia um histórico de 70% de plantio da safrinha e hoje já plantam 100% da área, avançando um pouco mais e até arriscando um pouco mais no milho safrinha”, relata o especialista.
Para a soja, a expectativa é de que o Mato Grosso cultive 13,01 milhões de hectares, o que se confirmado traria 1,67% de aumento em relação à safra passada. A produção da oleaginosa, porém, é esperada em 48,5 milhões de toneladas, 4,79% menor do que a da safra anterior. Já para o milho, a estimativa do IMEA – a primeira para a safra 2025/26 – é de 7,39 milhões de hectares de área, 1,83% a mais do que a do ciclo anterior.
“De acordo com o Instituto, as regiões Norte, Nordeste e Noroeste, que ainda possuemc maior disponibilidade de áreas passíveis de migração (outras culturas para o milho), devem
concentrar o crescimento. O destaque em área ficou para o Nordeste, que deve crescer 4,31% no comparativo entre safras, reflexo da volta dos produtores para a cultura do milho, uma vez que os preços do gergelim estão menos atrativos até o momento”, traz o reporte semanal do instituto.
Assim, a produção 2025/26 de milho mato-grossense é esperada em 51,72 milhões de toneladas, 6,7% menos do que o recorde registrado na safra anterior.
“Por fim, é importante ressaltar que os fatores climáticos serão determinantes para a consolidação das projeções”.