O mais recente relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgado em junho, trouxe revisões pontuais para os principais grãos, mas reforçou sinais de aperto nos estoques norte-americanos de soja e milho. A publicação foi analisada pela Consultoria Agro do Itaú BBA, que destacou o crescimento da demanda global, principalmente por parte da China, e a manutenção da estabilidade produtiva no Brasil.
Fotos: Divulgação/Arquivo OPR
Para a soja, o USDA elevou levemente a estimativa dos estoques finais globais da safra 2025/26, passando de 124 para 125 milhões de toneladas. A revisão se deu principalmente pela expectativa de aumento das importações chinesas, que devem chegar a 112 milhões de toneladas — quatro milhões a mais que na temporada anterior. No caso dos Estados Unidos, apesar da produtividade média se manter em 3,5 toneladas por hectare (58,8 sacas/ha), os estoques finais foram reduzidos de 9,5 para 8 milhões de toneladas, o que representa um recuo de 15,7% e sugere um balanço interno mais apertado.
No Brasil, a produção de soja foi mantida em 175 milhões de toneladas para a próxima safra, com previsão de exportações em crescimento, podendo atingir 112 milhões de toneladas — alta de 7,2% em relação ao ciclo anterior. Já a Argentina teve uma leve elevação nos volumes exportados e fechou com estoques finais ajustados para 25,4 milhões de toneladas.
No mercado de milho, o USDA também revisou os estoques globais finais da safra 2025/26 para baixo, agora estimados em 275 milhões de toneladas, ante 278 milhões em maio. Embora a produção norte-americana tenha sido mantida em 401,8 milhões de toneladas, os estoques finais foram ajustados para 44,5 milhões, indicando redução frente à previsão anterior. A China deverá importar 10 milhões de toneladas, dois milhões a mais que no ciclo 2024/25.
No caso brasileiro, a produção permanece em 131 milhões de toneladas, com estoques finais estimados em apenas 2,6 milhões, o que reflete o forte consumo interno combinado com o bom ritmo
das exportações. A Ucrânia também teve melhora nas projeções, com produção estimada em 30,5 milhões de toneladas e estoques quase dobrando em relação à safra passada.
Para o trigo, o relatório revisou os estoques finais globais da safra 2025/26 para 263 milhões de toneladas, três milhões a menos que a previsão anterior. A principal alteração veio da China, que aumentou sua estimativa de importação para 6 milhões de toneladas, o dobro do registrado na temporada anterior, em função de adversidades climáticas como seca. Nos Estados Unidos, as exportações foram ajustadas para cima, enquanto a produção teve pequena redução. A produção brasileira de trigo foi mantida em 8 milhões de toneladas, com importações em alta, estimadas em 6,7 milhões.
No algodão, a produção global foi levemente revisada para baixo, passando de 25,6 para 25,5 milhões de toneladas. As exportações brasileiras foram ajustadas para cima, agora projetadas em 3,1 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais recuaram. Nos Estados Unidos, a produção foi reduzida para 3 milhões de toneladas, com estoques em queda. A China, por outro lado, teve a estimativa de importação ajustada para baixo, com consumo mantido.
O relatório de junho reforça o protagonismo do Brasil nas exportações globais de grãos e algodão, ao mesmo tempo em que destaca a crescente dependência chinesa da soja, milho e trigo. Também chama atenção o ambiente de estoques mais apertados nos Estados Unidos, o que pode sustentar preços firmes nos mercados internacionais. A conjuntura mantém o foco nos fundamentos de oferta e demanda, mas também exige atenção aos riscos geopolíticos e climáticos que seguem no radar para o segundo semestre.