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Uso excessivo de agrotóxicos compromete rentabilidade da soja

O Brasil atingiu um patamar inédito na produção de soja e deve colher 168 milhões de toneladas na safra 2024/2025. Mas por trás dos números recordes, um cenário preocupante se revela: o aumento acelerado da dependência de agrotóxicos e fertilizantes, que tem comprometido a rentabilidade do produtor e colocado em xeque a sustentabilidade do atual modelo agrícola.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

Levantamento do Instituto Escolhas mostra que, entre 1993 e 2023, o uso de agrotóxicos na soja cresceu 2.019%. Há três décadas, 1 kg de pesticida era suficiente para produzir 23 sacas do grão. Hoje, a mesma quantidade rende apenas sete sacas. O volume total de defensivos usados saltou de 16 mil toneladas para 349 mil toneladas. Entre os cinco maiores produtores de soja do mundo, o Brasil lidera o uso de pesticidas por hectare.

Esse aumento no uso de insumos não veio acompanhado de ganhos proporcionais em produtividade. No mesmo período, a área plantada com soja quadruplicou, passando de 11 milhões para 44 milhões de hectares — um crescimento de 5% ao ano. Já a produtividade avançou a um ritmo bem mais lento, cerca de 2% ao ano, saindo de 2.120 kg por hectare em 1993 para 3.423 kg em 2023.

A conta para o produtor ficou mais pesada. Em 1993, eram necessárias 11 sacas de soja para cobrir os custos com sementes, e fertilizantes. Em 2023, esse número mais que dobrou: são necessárias 23 sacas. “O produtor usa cada vez mais agrotóxicos e fertilizantes para produzir cada vez menos soja. Isso afeta sua renda, que também é impactada pelo aumento de preço desses insumos”, afirma Jaqueline Ferreira, diretora de Pesquisa do Instituto Escolhas e coordenadora do estudo “Brasil como líder mundial em produção de soja: até quando e a que custo?”.

Diante desse cenário, o governo federal deu um passo importante ao lançar, no fim de junho, o Programa Nacional de Redução do Uso de Agrotóxicos (Pronara). O decreto foi assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 30, durante o anúncio do Plano Safra voltado à agricultura familiar. A iniciativa busca estimular modelos produtivos menos dependentes de insumos químicos e promover práticas mais sustentáveis no campo.

Embora o Pronara tenha sido anunciado no contexto do apoio à agricultura familiar, os dados mostram que a maior parte da produção de culturas com alto consumo de pesticidas, como a soja, está concentrada nas grandes propriedades rurais. Segundo o Censo Agropecuário de 2017, apenas 1,46% dos estabelecimentos com soja — aqueles com áreas entre 2.500 e 10 mil hectares, são responsáveis por 23,46% da produção nacional.

Foto: Wenderson Araujo/Trilux

Outro dado que reforça a insustentabilidade do modelo é o uso crescente de fertilizantes. Em 1993, uma tonelada do insumo gerava 517 sacas de soja. Em 2022, esse número caiu para 333 sacas. Ou seja, além de mais pesticidas, é necessário aplicar mais fertilizantes para manter o nível de produção.

A soja representa 26% do valor financiado pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), de acordo com levantamento da Climate Policy Initiative/PUC-Rio. Ainda que a agricultura familiar cultive uma parte menor da área total, seu papel na transição para práticas mais sustentáveis pode ser estratégico.

Com o lançamento do Pronara, o Brasil sinaliza uma mudança de rumo, ainda que inicial, diante de um modelo produtivo que já apresenta claros sinais de esgotamento. A redução da dependência de insumos químicos pode ser o caminho para equilibrar produtividade, rentabilidade e responsabilidade ambiental no campo.

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