Com uma nova safra de soja em pleno desenvolvimento nos Estados Unidos, talvez mais do que o clima no Corn Belt, o que preocupa mais os produtores norte-americanos neste momento é o ritmo lento das vendas deste grão da temporada 2025/26. O farmer selling tem estado bastante lento por lá, principalmente, pelo fato que a China segue ausente deste mercado, uma vez que as tarifas ainda vigoram entre as duas nações, inviabilizando as compras chinesas de soja americana.
Junho caminha para entrar em sua terceira semana e “a China ainda não comprou nada dos Estados Unidos”, explica Eduardo Vanin, analista do complexo soja e diretor da Agrinvest Commodities, ao passo em que no ano passado comprou 95 navios de soja norte-americana, sendo um fator importante de suporte para os preços da soja na Bolsa de Chicago. E agora, é fundamental e necessário que os EUA construam seu programa de exportação, haja vistas que suas vendas antecipadas da safra 2025/26 são de apenas pouco mais de um milhão de toneladas, de um total projetado pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) de 49,4 milhões de toneladas a serem exportadas na temporada.
“Se a China não vier comprar dos EUA, vai começar a ficar ‘esquisito’ e o mercado vai descontar também e aí o mercado vai começar a descontar também do programa dos Estados Unidos onde o USDA estima mais de 49 milhões de toneladas. E se o Brasil esmagar menos, vai exportar mais e competir mais com os EUA, eu já trabalho com este cenário”, diz.
O analista explica também que o atual momento das margens de esmagamento no Brasil não é dos melhores, o que poderia trazer o volume de soja esmagada pelo Brasil para algo como 55,5 a 56 milhões de toneladas, com exportações podendo chegar a 110 milhões de toneladas.
“Não sou baixista para o bushel da soja, porque a exportação será menor, mas a produção também vai ser menor e o esmagamento certamente será maior com margens que, provavelmente, vão ser boas. No frigir dos ovos, os EUA ainda precisarão da China, pelo menos 15 milhões de toneladas compradas, só que o tempo está passando e a China não veio para o jogo ainda. São importantíssimos esses próximos dois meses e meio porque vão determinar o tamanho do programa americano. E destes 15 milhões, um terço, pelo menos, precisaria comprar antes de virar setembro, para a safra nova”, afirma Eduardo Vanin.
E o movimento não se dá só para a soja, mas também para o milho e, com isso, a expectativa é de os rallies que possam se registrar na Bolsa de Chicago para ambas as culturas deverão vir acompanhados de vendas.
Os atuais patamares de preços são mais um ponto de atenção. Afinal, uma boa parte dos produtores norte-americanos estão ou empatando as margens ou até mesmo sofrendo com margens negativas não só na soja, mas também no milho.
Daqui em diante, como explica o consultor de mercado Aaron Edwards, do Sistema Manancial, será importante acompanhar a dinâmica do mercado e dos negócios, depois desta recente arrancada dos preços.
“Precisaremos ver se vai continuar esse atraso nos preços ou se vai haver muita coisa vendida nesta semana, mas, para mim, ele limita ganhos, não necessariamente pressiona mercados ainda. Mas, assim que chegar ao ponto em que ele empata, essa pressão de vendas em cima deste mercado pelo produtor norte-americano deve limitar ganhos. No longo prazo, se esta soja precisar trocar de mãos porque a colheita chegou, aí podemos ter uma pressão mais para frente para os preços”, detalha Edwards.
O ritmo das vendas e os níveis de preços que se mostram mais atrativos vai depender de cada produtor, da sua realidade de custos e percentual de comercialização, ainda segundo o consultor. No entanto, “preços acima dos US$ 10,50 têm sido vendidos ao longo dos últimos meses”.
Nesta quarta-feira, na Bolsa de Chicago, os futuros da soja terminaram o dia com pequenas baixas de 0,75 a 1,25 ponto, levando o julho a US$ 10,72 e o setembro a US$ 10,60 por bushel. O mercado, ao longo de todo o dia, testou os dois lados da tabela e tem tido uma semana bastante agitada, em função, principalmente, dos conflitos geopolíticos – em especial o que acontece entre Irã e Israel –