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DATAGRO: Presidente Trump anuncia tarifa de 50% sobre todas as exportações do Brasil aos Estados Unidos

Em 9 de julho de 2025, através de missiva endereçada ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump informou sua decisão de impor tarifa adicional àquelas já vigentes no percentual de 50%, aplicada a todo e qualquer produto brasileiro exportado para os Estados Unidos. A medida entrará em vigor em 1º de agosto. Ao justificar a medida, Trump afirmou que a relação comercial dos EUA com o Brasil é “injusta”. “Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco”, escreveu.

Essa tarifa adicional incidirá sobre todas as exportações de açúcar e etanol do Brasil aos Estados Unidos. Não é conhecido ainda se o governo brasileiro adotará alguma medida em resposta, mas Trump já avisou em sua missiva que qualquer retaliação será compensada por tarifas adicionais equivalentes.

No caso do açúcar, exportado pelo Brasil aos EUA através do regime de cota tarifaria, a tarifa de 50% impõe uma restrição que incidirá diretamente sobre os produtores / exportadores de açúcar da região Norte-Nordeste. Segundo a Lei nº 9.362/96, que visa conceder incentivos regionais, a região Norte-Nordeste é priorizada no acesso a mercados preferenciais para produtos derivados da cana-deaçúcar, e desta forma recebe anualmente uma cota de aproximadamente 146,6 mil toneladas de açúcar em bruto que é exportada aos EUA com alíquota zero. Acima deste volume, o imposto pode chegar a 80%. Esse é um volume extremamente baixo e que não corresponde à participação do Brasil na produção e exportação mundial, respectivamente de 44 milhões de toneladas e 34,5 milhões de toneladas, na safra 24/25.

Até mesmo para a região Norte-Nordeste esse volume é extremamente baixo, tendo em vista a produção e a exportação regional, estimada pela Datagro em 3,8 milhões de toneladas e 2,6 milhões de toneladas em 24/25.

O governo brasileiro tem respondido reiteradamente às iniciativas do governo norte-americano pleiteando a isenção da tarifa aplicada pelo Brasil às importações de etanol de países fora do Mercosul (tarifa extra-cota) de 18%, que estaria disposto a discutir uma redução ou isenção se houver uma redução recíproca da tarifa de importação sobre o açúcar nos EUA, que pode chegar a 80% sobre o valor exportado.

De qualquer maneira, a tarifa adicional de 50% anunciada por Trump em 9 de julho de 2025, implica um custo adicional anual para as exportações de açúcar realizadas através da cota tarifaria norte-americana, de cerca de 27,9 milhões de dólares (150 mil t x US$ 371/t x 50%).

Para as exportações de etanol do Brasil aos EUA, considerando que em 2024 o Brasil exportou 309,72 milhões de litros, ao preço médio de US$ 0,587 por litro, a tarifa adicional de 50% representa um custo adicional anual estimado de 90,9 milhões de dólares (309,72 milhões de litros x US$ 0,587/l x 50%).

Até 31 de agosto de 2017, a alíquota do imposto de importação aplicada pelo Brasil foi de 20%. Entre 01 de setembro de 2017 e 31 de agosto de 2019, o imposto foi alterado para zero para um volume limitado a 150 milhões de litros por trimestre. Para volumes importados acima deste limite, o imposto permaneceu em 20%. O regime de isenção limitado a volumes trimestrais foi encerrado em 1 de setembro de 2019.

Entre 23 de março de 2022 e 31 de janeiro de 2023, o imposto de importação foi zerado para qualquer volume importado pelo Brasil a partir de países fora do Mercosul. Nesse período, o valor das importações de etanol dos EUA pelo Brasil foi de 82,98 milhões de dólares, para um volume de 117,42 milhões de litros (média mensal de 11,7 milhões de litros e 8,3 milhões de dólares).

Entre 1 de fevereiro de 2023 e 31 de dezembro de 2023, o imposto de importação passou a ser de 16%, e a partir de 01 de janeiro de 2024 passou a ser de 18%. Entre fevereiro de 2023 e junho de 2025, foram importados um total 205,14 milhões de litros vindos dos EUA, por um valor de 97,82 milhões de dólares (média mensal de 7,07 milhões de litros e 3,37 milhões de dólares).

Até o momento de edição desse reporte, o governo brasileiro não havia anunciado uma resposta à medida anunciada pelos Estados Unidos.

Enquanto os setores de açúcar e etanol tendem a ser relativamente pouco afetados, a medida de Trump deve impactar de forma mais intensa as exportações brasileiras de aço, alumínio e carnes.

Importância dos EUA para o agronegócio brasileiro

Ao travar uma guerra de tarifas, Donald Trump tem justificado que a relação comercial com o Brasil tem sido injusta, “longe de ser recíproco”. Contudo, os números não corroboram o pretexto adotado pelo presidente norte-americano nesta discussão. Desde 2009 o Brasil tem registrado déficits comerciais (exportação menos importação) consecutivos com os EUA, o que reforça a intepretação de que as atitudes de Trump estejam mais alinhadas a objetivos políticos do que comerciais.

O regime de imposto de importação de etanol aplicado pelo Brasil para importações de países fora do Mercosul (extra-zona)

O governo dos EUA tem alegado que um dos motivos para o desequilíbrio entre os dois países é o imposto de importação de etanol do Brasil aos EUA.

O imposto de importação (II) aplicado pelo Brasil para importações de etanol extra-zona tem variado bastante nos últimos anos.

Por outro lado, os EUA são o terceiro maior destino das exportações do agronegócio do Brasil. Em 2024, o Brasil exportou US$ 164,30 bilhões em produtos agropecuários, sendo a China o principal destino, ao absorver 30,2% desse total, seguido pela União Europeia (14,1%) e pelos EUA (7,4%).

O Brasil embarcou 9,39 milhões de toneladas em produtos agropecuários para os EUA em 2024, aumento de 8,1% em um ano. Em valor, as exportações para o mercado norte-americano cresceram 23,0% para um recorde de US$ 12,08 bilhões, com produtos florestais (30,8%), café (17,2%), carnes (11,7%) e sucos (9,9%) entre os principais itens embarcados pelo Brasil para os EUA. O segmento de açúcar e etanol (6,6%) figurou em quinto lugar no ranking de produtos agropecuários brasileiros exportados para os EUA.

Todos esses setores foram pegos de surpresa com o anúncio da nova tributação sobre os produtos brasileiros. Os impactos relativos à nova tarifa de 50% ainda serão analisados pela indústria, que tendem a ser cumulativos.

Logo após a publicação da carta de Trump nas redes sociais, o presidente Lula se manifestou oficialmente, defendendo as instituições brasileiras, que foram alvo de críticas do presidente norte-americano, a exemplo da Justiça. Lula adotou até o momento uma postura cautelosa ao não prometer revidar de imediato com um aumento recíproco de tarifas sobre os produtos norte-americanos que entram no mercado brasileiro. Resta aguardar por um ambiente de diálogo e de negociação para abrandar a tensão comercial entre os dois países.

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