O IBGE publicou no dia 13 de agosto, dados preliminares de abate do segundo trimestre de 2025 que confirmam uma retomada tímida do crescimento da produção de suínos no Brasil. As três proteínas (frango, boi e suíno) cresceram no 2º trimestre de 2025, tanto na comparação com o 2º trimestre de 2024 quanto com o 1º trimestre de 2025. O abate de suínos somou 14,87 milhões de cabeças no 2° trimestre de 2025, aumento de 1,64% (+240.527 cabeças) em relação ao 2º trimestre de 2024 e de 3,78% na comparação com o 1° trimestre de 2025. As carcaças totalizaram 1,40 milhão de toneladas, alta de 4,72% (+63.134) em relação ao 2º trimestre de 2024 e de 6,10% em comparação ao 1º trimestre de 2025 (tabela 1).

Tabela 1. Abate brasileiro mensal de suínos de janeiro de 2024 a março de 2025 (*), em cabeças, toneladas de carcaças e peso médio das carcaças, comparado com o mesmo período do ano anterior e com o período imediatamente anterior. Destaque para o 1º e 2º trimestres de 2024 e 2025. (*) dados do 2º trimestre de 2025 são preliminares Elaborado por Iuri P. Machado com dados do IBGE
Chama a atenção, na mesma tabela 1, que nos meses de maio e junho/25 o peso médio das carcaças aumentou significativamente, atingindo 95 kg em junho. Este é um indicativo de retenção nas granjas, o que se confirmou com a queda dos preços do suíno vivo no período, se estendendo até julho. Não há como negar que esta queda das cotações teve influência, ainda que parcial, dos problemas enfrentados pelas cadeias de frango e de bovinos. No caso da avicultura, o foco de Gripe aviária no RS, notificado em meados de maio, impactou na redução das exportações de carne de frango (gráfico 1) e consequente grande redução do preço do frango resfriado no mercado doméstico (gráfico2). Estima-se que o Brasil deixou de exportar, entre maio e julho/25, mais de 250 mil toneladas de carne de frango in natura. A maioria dos mercados já reabriu para o frango brasileiro, sendo a China o comprador mais relevante que ainda mantém suspensão completa às nossas exportações desta proteína.

Gráfico 1. Exportação brasileira de carne de frango in naturaentre jan/24 e jul/25, em toneladas. Destaque para junho/25, quando o volume foi o menor do período. Elaborado por Iuri P. Machado, com dados da Secex

Gráfico 2. Cotação média mensal do frango resfriado em São Paulo (SP), em R$/kg de carcaça, nos últimos seis meses. Média de agosto até dia 15/08/2025. Fonte: CEPEA
Por outro lado, o anúncio da sobretaxa de 50% de Trump sobre as importações do Brasil provocou grande apreensão junto a cadeia de bovinocultura de corte no Brasil. Isso por que os EUA chegaram a representar ao redor de 12% dos embarques de carne bovina brasileira, ou 3% da nossa produção. Porém, as compras estadunidenses já vinham diminuindo antes mesmo deste anúncio e, em julho/25, o Brasil bateu recorde de exportação de carne bovina, com quase 280 mil toneladas embarcadas, sendo somente 12,6 mil (4,57% do total) para os EUA (gráfico 3).

Gráfico 3. Exportação brasileira de carne bovina in natura, total e para os EUA, em toneladas, de jan/24 a julho/25. Elaborado por Iuri P. Machado, com dados da Secex
Mesmo com exportações em alta as cotações do boi gordo em julho/25 recuaram ao menor patamar do ano (gráfico 4). Com abate surpreendentemente maior que o do ano passado até o momento, o boi gordo ainda não teve a alta significativa esperada para virada de ciclo.

Gráfico 4. Indicador do BOI GORDO CEPEA/ESALQ (R$/@) no estado de São Paulo. Fonte: CEPEA Média de agosto até dia 15/08/2025.
As exportações de carne suína, em julho, pela primeira vez no ano, recuaram em relação ao mesmo período do ano passado (tabela 2). Mesmo assim, no acumulado do ano, o crescimento das exportações continua bastante expressivo (mais de 14%) e, dados parciais de agosto, apurados até dia 15, com volume diário médio próximo a 6 mil toneladas de carne suína in natura embarcada, indicam retomada de volumes superiores aos de 2024, demonstrando que o recuo dos embarques em julho foi pontual.

Tabela 2. Volumes exportados de carne suína brasileira in natura (em toneladas), mês a mês, em 2021, 2022, 2023, 2024 e de janeiro a julho de 2025. Elaborado por Iuri P. Machado, com dados da Secex.
Todo este contexto de redução das exportações de frango, especulações sobre o impacto das tarifas estadunidenses sobre a carne bovina, recuo pontual das exportações de carne suína e esfriamento da demanda doméstica durante as férias escolares, determinaram recuo significativo das cotações do suíno em julho, tanto no animal vivo, quanto nas carcaças, porém, agosto apresenta uma subida consistente das cotações, com tendência de alta para as próximas semanas (gráficos 5 e 6 e tabela 3), indicando que o ajuste de oferta e procura da carne suína está menos afetado pelas turbulências recentes do frango e do bovino.

Gráfico 5. Indicador SUÍNO VIVO – CEPEA/ESALQ (R$/kg) em MG, PR, RS, SC e SP, diário, nos últimos 12 meses, até dia 18/08/2025. Preços indicados no gráfico referentes ao mês de julho/25. Fonte: CEPEA

Tabela 3. Preço semanal da Bolsa de suínos Belo Horizonte (BSEMG) em 2025 (R$/kg vivo), até a reunião de 14/08/2025. Destaque em azul para movimento de alta e amarelo para movimento de baixa Elaborado por Iuri P. Machado, com dados da BESEMG.

Gráfico 6. Indicador CARCAÇA SUÍNA ESPECIAL – CEPEA/ESALQ (R$/kg) em São Paulo/SP, mensal, nos últimos 12 meses. Média de julho/25 até dia 18/08/2025. Fonte: CEPEA
Conab confirma colheita recorde de milho no Brasil e USDA safra histórica nos Estados Unidos
A CONAB divulgou, no último dia 14, o décimo primeiro levantamento da safra 2024/25, com acréscimo de 5 milhões de toneladas de milho, em relação ao levantamento anterior, sendo que só para a segunda safra (safrinha), a entidade projeta um volume de 109 milhões de toneladas, totalizando mais de 137 milhões de toneladas no somatório das três safras nacionais do período 2024/25.
A safra dos EUA, que será colhida em outubro, e cuja estimativa do USDA girava ao redor de 400 milhões de toneladas, no último boletim do órgão estadunidense, publicado há alguns dias, projetou impressionantes 425 milhões de toneladas, o que deve garantir certa estabilidade nos prelos internacionais nos próximos meses.
Segundo a consultoria Mbagro, aparentemente, o piso de preço do milho no Brasil já ficou para trás, sendo que a demanda interna consistente é guiada pela indústria de etanol de milho e pelo setor pecuário, que seguem firmes nas compras, sustentando preços no Centro-Oeste. Ainda segundo o Mbagro, mercados externo e interno devem seguir trajetórias distintas. Enquanto Chicago reflete a supersafra americana e mostra queda das cotações, no Brasil as vendas devem seguir bom ritmo com os embarques de agosto crescendo após um julho mais fraco, a tendência é de maior demanda pelo grão brasileiro, o que sustenta os preços no curto prazo.
Considerações finais
O presidente da ABCS, Marcelo Lopes, explica que aos poucos as turbulências ocorridas nas cadeias de frango e carne bovina vão ficando para trás e a precificação do suíno deixa de ser “contaminada” pela dinâmica das outras proteínas. “Desta forma, o preço pago ao produtor já apresenta reação consistente em agosto, permitindo um horizonte bastante favorável com custos estáveis, garantidos pela farta segunda safra brasileira de milho, já em final de colheita”.
Ele conta ainda que a expectativa de safra recorde de milho nos EUA e o crescimento das exportações brasileiras deste cereal vai dar o tom das cotações nos próximos meses. “O produtor deve ficar de olho nos embarques de milho, no câmbio e na paridade de preço de exportação deste cereal, além da confirmação da safra dos EUA para antever eventuais alterações no viés de cotação deste insumo no mercado doméstico”, conclui.