No mês de agosto de 2025, o preço do saco de arroz ao consumidor recuou em 2,61% e do feijão caiu cerca de 2,30%. De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), a queda no valor dos dois produtos foi um fato que contribuiu para redução no preço total da cesta básica brasileira. Mas, mesmo com valores mais acessíveis, o consumo deste prato típico brasileiro tem diminuído nos últimos anos.
A Embrapa já confirmava esta tendência de longo prazo, mostrando dados de que o consumo per capita de arroz caiu de 40 kg em 1985 para 28,2 kg em 2023, enquanto o de feijão passou de 19 kg para 12,8 kg no mesmo período. Dados da Scanntech mostram que em junho de 2025 houve uma retração de 4,2% no consumo de feijão, apesar de uma redução de 17,5% no preço, e o arroz seguiu a mesma tendência, caindo 4,7% no volume consumido, com preços 14,2% menores.
A urbanização, diminuição do tamanho das famílias e a falta de tempo para cozinhar são algumas das razões apontadas para essa mudança de consumo. “A queda do consumo vem vindo, vem acontecendo, principalmente, devido à mudança nos hábitos dos consumidores também. Nós tivemos a pandemia, onde os deliveries aumentaram, onde as opções de alimentação são muito grandes. Outro ponto é a questão de que o brasileiro começou a comer mais fora de casa, deixando de comer com a família e, já alguns anos, isso tudo vêm fazendo com que as pessoas percam um pouco o hábito do prato principal, o arroz com feijão, que era uma referência na cozinha”, explicou Denis Dias Nunes, presidente da Federarroz (Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul).
Segundo Marcelo Eduardo Lüders, presidente do IBRAFE (Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses), essa queda constante no consumo traz preocupação aos setores, pois a redução da demanda pode impactar a produção e os preços. “O preço sobe para diminuir o consumo, e o preço vai subir para segurar esse consumo. Isso é um problema. Especialmente quando queremos que as pessoas comam mais feijão. No entanto, os produtores não são responsáveis por isso, pois a produção de alimentos é influenciada por fatores naturais, como o clima, e isso pode levar a perdas e aumento de preços. O recado para o setor é claro, se não fizermos marketing, o feijão some do prato. Por isso, chegou a hora de agir”, destacou ainda Lüders.
Com o objetivo de resgatar a cultura e o hábito do consumo de arroz e feijão, reforçando suas qualidades e importância nutricional, entidades ligadas as culturas lançaram recentemente campanhas de conscientização.
Atuando com o slogan “O Arroz é a energia que une o Brasil”, a campanha promovida pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) em parceria com a Secretaria de Comunicação do Estado do RS, pretende reconectar o arroz ao cotidiano da população, reposicionando o grão como um alimento essencial, nutritivo, acessível e cheio de significados afetivos e culturais. “O arroz é um alimento muito pouco processado. É um carboidrato de boa qualidade e é uma comida de verdade”, indagou o presidente da Federarroz.
Já o IBRAFE lançou a ação “Viva Feijão”, com foco em vídeos, redes sociais e engajamento com influenciadores digitais, “o importante é manter o feijão vivo no prato do brasileiro e transformar essa mobilização em força coletiva do setor. Se o consumidor moderno acha complicado preparar pequenas porções de feijão, vamos ocupar espaço com o feijão pronto. Precisamos despertar novamente no consumidor o desejo por essa comida afetiva”, afirmou o presidente do Instituto.
A DEMANDA EM POTENCIAL DO SETOR ARROZEIRO
Nos últimos 5 anos, a média anual de consumo de arroz no Brasil é de 10,5 milhões de toneladas, frente a uma produção de aproximadamente 11 milhões de toneladas, segundo levantamento da Conab. Diante disso, a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), destaca que ainda existe espaço de demanda a ser preenchido pelo setor. “A entidade também trabalha com campanhas de valorização do grão, e no fortalecimento das exportações brasileiras de arroz, por meio do projeto Brazilian Rice, desenvolvido em parceria com a ApexBrasil. Nesse âmbito, a Abiarroz incentiva, junto ao governo federal, a realização de acordos comerciais que facilitem o comércio e ampliem o acesso a novos mercados. Além disso, tem participado de missões e feiras internacionais, buscando identificar oportunidades de parcerias estratégicas”, destacou ainda a nota enviada pela Associação ao portal Notícias Agrícolas.
QUE TAL UM PRATO DE ARROZ E FEIJÃO?
Há um processo chamado de transição nutricional que está acontecendo já algum tempo, em que os hábitos alimentares do brasileiro estão se modificando em detrimento de diversos fatores do cotidiano. Segundo a nutricionista Regina Jordão, a busca por praticidade, embalagens com quantidades menores, produtos já prontos, entram diariamente no cardápio, “isso aumenta o consumo de alimentos industrializados e muitas vezes chamados de ultraprocessados, que incluem alimentos com excesso de aditivos, sódio ou açúcares adicionados. O alimento in natura ou minimamente processado como o arroz e feijão precisam de uma organização pra serem preparados , um tempo de dedicação. Porém, se bem organizados podem ser congelados e utilizados no dia a dia, mas as pessoas acabam não entendendo que essa substituição trará malefícios a sua saúde”, alertou a nutricionista.
Regina explica ainda que a combinação desses alimentos (arroz e feijão) traz um aporte de proteínas adequados, carboidratos e alguns micronutrientes como fibras e ferro de maneira natural, “há maior saciedade quando existe o consumo desses dois alimentos. Isso ajuda no controle glicêmico, no funcionamento do intestino. Que tal um prato de arroz feijão então?”, completou.