Por Ronaldo Fernandes, diretor da Royal Rural
A China anunciou nesta quarta-feira (05) que vai suspender tarifas de até 24% sobre vários produtos agrícolas dos EUA, como milho, trigo, carne e algodão. A medida começa a valer no dia 10 e faz parte da tentativa de aproximação depois do encontro entre Trump e Xi. Só que tem um detalhe importante: a soja ficou de fora. A tarifa continua em 13%, ou seja, pra soja nada mudou.
Se a soja tivesse entrado na lista, aí sim seria um fato altista. Os EUA voltariam a competir direto com o Brasil e poderiam recuperar parte das vendas pra China. Mas como a tarifa segue igual, o fundamento é neutro. A soja americana continua cara, e o Brasil segue mais competitivo.
Mas isso não deveria fazer Chicago cair?
Na teoria sim, mas o mercado reagiu diferente. O anúncio foi lido como um gesto de boa vontade, e os fundos apostaram que a soja pode ser a próxima da lista. Então Chicago subiu, não pelo fato em si, mas pela expectativa. É aquele movimento clássico de “sobe agora, entende depois.”
E tem outro ponto: os robôs que operam Chicago reagem às manchetes, não à notícia completa. Quando aparece “China suspende tarifas sobre produtos agrícolas”, eles compram automaticamente, sem ver o detalhe de que a soja ficou fora. Em segundos, o preço dispara, e só depois o mercado percebe que o fundamento não mudou.
O resultado é esse: Chicago sobe com otimismo, mesmo sem base real. A soja segue taxada, o Brasil continua competitivo, e o mercado se apoia mais no clima do que no fato.