O mercado do feijão atravessou a semana em um ambiente dominado por estagnação, especulação e baixa liquidez, observa o analista de Safras & Mercado, Evandro Oliveira. Segundo ele, o feriado prolongado reduziu a atividade tanto na bolsa quanto nas origens e consolidou um cenário de paralisia nas madrugadas, com negociações arrastadas e completamente baseadas em preços nominais.
Oliveira destaca que a assimetria entre expectativas de vendedores e compradores se intensificou, sobretudo nos padrões comerciais entre 7,5 e 8,5, onde o atrito permanece como principal fator de travamento. “Os vendedores sustentaram pedidas entre R$ 210 e R$ 250/sc CIF SP, enquanto os compradores resistiram, questionando valores e, principalmente, a qualidade dos lotes”, afirma.
A semana também registrou avanço da oferta recém-colhida no interior paulista, especialmente lotes nota 8,5, que ganharam espaço nas ofertas, mas sem gerar liquidez. Já os feijões de qualidade superior, cor 9,5 provenientes de Minas Gerais, São Paulo e Goiás, apresentaram melhora no padrão (menor umidade e menor incidência de grão seco), mas ainda com demanda limitada. Entre as poucas vendas mencionadas pelo analista estão R$ 260/sc no extra 9,5 e R$ 235–240/sc nos 8,5.
Nas origens, o comportamento foi semelhante ao da Zona Cerealista de São Paulo: pouca movimentação, preços nominais e dependência da atuação pontual de compradores específicos. As cotações FOB oscilaram, com Goiás registrando forte queda no encerramento da semana (grão extra até R$ 223/sc) e Barreiras apresentando leve reação (até R$ 227/sc). Para Oliveira, as médias semanais, São Paulo +1,3% e Bahia +3,43%, refletem muito mais a escassez de oferta comercial qualificada do que qualquer aumento real de demanda.
Incerteza domina e paralisa negociações no grão preto
No feijão preto, o analista descreve o comportamento como “completamente travado”, com o mercado operando sem liquidez e sob forte pressão decorrente da ausência de compradores. O feriado prolongado piorou o quadro, criando um ambiente em que compradores sequer analisam ofertas, mesmo diante da ampla disponibilidade de produto e da disposição dos vendedores em negociar.
O setor opera em plena incerteza sobre a nova safra, sem direção de consumo e sem definição clara de preços. O avanço da primeira safra reforçou a cautela: no Paraná, o plantio está praticamente concluído (99%, segundo o Deral), confirmando um corte histórico de quase 40% na área cultivada, retração puxada justamente pelo feijão preto. As lavouras mostram boas condições gerais nas fases de floração e frutificação, mas ainda há preocupação sobre a capacidade do mercado em absorver o volume diante da demanda lenta.
No cenário nacional, o plantio da primeira safra 2025/26 atingiu 39,5% da área, ritmo inferior ao do ano passado e abaixo da média histórica. Mesmo com a projeção de menor oferta futura, o mercado atual permanece sem reação. Os preços FOB recuaram com força: interior paulista com máximos de R$ 148/sc e Paraná em torno de R$ 134/sc. As médias estaduais (Rio Grande do Sul -2,44% e Paraná -1,97%) confirmam a tendência baixista.
“A combinação de ampla oferta, falta de demanda, ausência de compradores e chegada da nova safra mantém o feijão preto em inércia, com tendência de continuidade da lateralidade e definição dependente da postura industrial após a normalização dos mercados pós-feriado”, completa Oliveira.