À frente de um sistema cooperativo formado por 30 cooperativas singulares associadas, a gaúcha CCGL, uma das maiores do setor no país, com mais de 130 mil produtores integrados, colocou em funcionamento, há aproximadamente três anos, uma rede de monitoramento para prevenir danos ocasionados pela cigarrinha-do-milho. Com cerca de 500 mil hectares do cereal atendidos por sua equipe técnica, a cooperativa começou a mapear populações da praga em 2021, em 35 municípios, número que saltou para quase 80 desde então.
“Em alguns pontos, mantemos o monitoramento nos 365 dias do ano. O modelo traz informações importantes acerca do comportamento e da flutuação populacional da praga”, resume Glauber Renato Stürmer, engenheiro agrônomo, mestre e doutor, responsável pelo setor de entomologia da CCGL, além de experiente profissional da área de proteção de cultivos.
Conforme Stürmer, a rede de monitoramento foi idealizada na CCGL logo após a cigarrinha chegar com mais intensidade ao estado, na safra agrícola 2020/21, em época de milho safra. “Não a detectamos na fase mais suscetível da cultura. Depois, observamos plantas tombando e todo o impacto danoso das doenças decorrentes do inseto, como o enfezamento, na fase reprodutiva do milho”, recorda o pesquisador.
Segundo Stürmer, o plantio de milho no RS leva em conta um calendário que, em tese, favorece o avanço da praga. Regiões mais quentes semeiam o cereal a partir de julho. Já áreas mais frias, a exemplo de Cruz Alta, plantam em setembro, enquanto de Passo Fundo a Vacaria, outros pontos de concentração de lavouras, cultivam do início de setembro a outubro.
“Rio Grande do Sul e Santa Catarina tendem a ‘sofrer’ mais do que outras regiões em relação a desdobramentos da cigarrinha por termos milho no campo 365 dias e pela sobreposição do milho safrinha ao milho safra”, destaca Stürmer.
O entomologista revela já ter constatado, em lavouras gaúchas, perdas da ordem de 95% da produção de milho em virtude da ação da praga. “Além de quantitativas, as perdas do produtor são também qualitativas. Os insetos debilitam plantas, as infectam com bactérias, afetam o aparato fotossintético, favorecem a ocorrência de Fusarium sp. e outras doenças que culminam na podridão da base do colmo, na podridão de base da espiga. Isso leva ao tombamento total da lavoura”, afirma.
Mudanças climáticas verificadas no RS recentemente trouxeram outra variável a desafiar o produtor de milho na safra, conforme Glauber Stürmer. “Nosso inverno está cada vez mais ameno. Em 2023 não tivemos frio.” Esse cenário, ele frisa, foi responsável, há pouco, por um alto pico populacional de cigarrinha, quadro normalmente visto em fevereiro, março, na safrinha. “Na cidade de Santa Rosa, por exemplo, registramos populações absurdas.”
Para o pesquisador, além do ‘modulo rural’ e do clima, entender sobre a tolerância genética do material a ser semeado é de suma importância. “Alguns híbridos apresentam baixa tolerância aos enfezamentos, mas ao mesmo tempo são altamente produtivos e apresentam ciclos mais curtos, facilitando o encaixe de mais um cultivo. Nesses casos, a atenção com a cigarrinha deve ser redobrada,”
Integração de ferramentas e controle de ‘ninfas’
De acordo com o entomologista da CCGL, ainda neste 2023, a rede de monitoramento do sistema cooperativo capturou, pela primeira vez, populações ‘bacterilíferas’ para três das principais patologias ou doenças transmitidas pela cigarrinha-do-milho: fitoplasma, espiroplasma e virose-do-raiado-fino.
Conforme Stürmer, não existe solução única, “mas uma integração de táticas de manejo”, para minimizar perdas da cigarrinha. “Recomendamos aplicação de inseticida mais cedo, uma proteção até V8, V10. Lembremos de que a praga, por se alimentar do cartucho da planta de milho, requer intervalos curtos e aplicações sequenciais. O desenvolvimento de novas folhas no cartucho ocorre rapidamente, o que acarreta em baixo residual dos inseticidas”, diz.
“Ferramentas efetivas, intervalos curtos, entender que deve ser feito o manejo para adultos e também de ninfas, ou formas jovens do inseto, também é importante”, continua Stürmer.
Segundo ele, monitorar eficazmente as lavouras constitui fator chave na execução de um “manejo robusto” frente à cigarrinha. “Ações para quebrar o ciclo da praga são capazes de reduzir sua população, sempre lembrando que temos em torno de trinta dias para proteger melhor a lavoura. E quando você está diante de uma praga com muitas gerações, surge a resistência dela a determinados produtos. Por isso é preciso, ainda, rotacionar os inseticidas, para não perder boas ferramentas de controle”, conclui.
Ao longo da safra de milho do Rio Grande do Sul, com base nas informações dos quase 80 pontos de monitoramento da cooperativa, a CCGL emite alertas a produtores associados no tocante a medidas mais indicadas para conter a praga. Produz também boletins técnicos, webinares e disponibiliza a plataforma digital ‘SmartCoop’, uma ferramenta de última geração, exclusiva dos cooperados.