As preocupações com a nova onda de calor nos EUA, acompanhada de menos chuvas, somadas à continuidade das tensões no Leste Europeu, em torno da guerra entre Rússia e Ucrânia, fizeram os derivados de soja subirem bastante, sustentando os preços dos grãos. Efetivamente, o óleo de soja voltou a bater em 72,56 centavos de dólar por libra-peso no dia 25/07, algo que não era visto desde o final de novembro do ano passado. Já o farelo atingiu a US$ 464,70/tonelada curta no dia 26/07, a mais alta cotação desde meados de abril passado.
Nesta semana as cotações da soja, em Chicago, no primeiro mês cotado, se consolidaram acima dos US$ 15,00/bushel. O fechamento desta quinta-feira (27) ficou em US$ 15,32/bushel, contra US$ 14,95 uma semana antes.
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Soma-se a isso o fato de que as condições das lavouras de soja, nos EUA, na data de 23/07, voltarem a piorar, com 54% ficando agora entre boas a excelentes, contra 59% um ano atrás. Outras 32% estão regulares e 14% se mantiveram entre ruins a muito ruins. Cerca de 35% das lavouras estavam com formação de vagens naquela data, enquanto 70% estavam em floração.
Já nas exportações, na semana encerrada em 20/07 os EUA embarcaram 283.378 toneladas, somando, em todo o atual ano comercial, um total de 50,2 milhões de toneladas embarcadas, ou seja, 5% menos do que em igual período do ano anterior.
Em termos do clima, o mercado começa a especular que os EUA, em continuando a atual realidade, pode não alcançar a produtividade média de 58,8 sacos de soja/hectare, o que diminuiria sua produção final quando da colheita em outubro. Assim, espera-se o novo relatório de oferta e demanda do USDA, previsto para 11/08, para se ter uma ideia mais clara da situação desta produção.
E no Brasil, mesmo com um câmbio se aproximando dos R$ 4,70 por dólar, os preços da soja subiram mais um pouco, puxados por Chicago e pela melhoria nos prêmios, embora estes continuem negativos (-US$ 0,60/bushel para agosto, em Paranaguá, lembrando que um ano antes o mesmo estava, para este mês de agosto, em +US$ 1,50/bushel). Com isso, a média gaúcha fechou a semana em R$ 139,36/saco, enquanto nas demais praças nacionais os preços da oleaginosa giraram entre R$ 111,00 e R$ 132,00/saco. Dito isso, nesse momento do ano a demanda pela soja brasileira estabelece uma competição entre os compradores internos e externos, fato que ajuda a aquecer ainda mais o mercado.
Por sua vez, as exportações via Paranaguá, que é o segundo porto brasileiro em movimentações de carga, somaram 11,1 milhões de toneladas no primeiro semestre, se constituindo no maior volume para um único semestre desde a criação do porto, há 50 anos. Houve um significativo aumento nos embarques de grãos em geral, com destaque para a soja, cujo volume de exportação saltou 22,4% depois que o Brasil colheu sua maior safra de todos os tempos em 2022/2023. A soja representou um total de 6,5 milhões de toneladas do total embarcado no primeiro semestre. Em seguida veio o farelo de soja, com cerca de 24% dos embarques totais, e o milho, que representou cerca de 17%, ou 1,9 milhão de toneladas. O Brasil envia a maior parte de sua soja para a China, mas nesta temporadaa quebra de safra na Argentina provocou vendas de volumes inéditos para o próprio país vizinho, que também é um grande fornecedor global de soja e subprodutos. O ritmo médio dos embarques subiu para cerca de 1.088 toneladas por hora, ante cerca de 817 toneladas/hora no mesmo período do ano passado, informou o porto. (cf. Notícias Agrícolas) Neste contexto, segundo a Anec, o Brasil deverá exportar 9,11 milhões de toneladas de soja em julho, após revisão para cima nas expectativas em relação à semana anterior. A Associação estima os embarques de farelo de soja em 2,53 milhões de toneladas neste mês, enquanto as de milho chegariam a 6,43 milhões.
Pelo lado da produção brasileira de soja, segundo dados levantados pela consultoria Datagro, a respeito das finanças dos sojicultores brasileiros, no primeiro semestre de 2023, “houve um desempenho misto no geral, mas pendendo para o lado negativo, sendo desestimulante ao plantio da nova temporada. Essa tendência negativa está ligada aos preços médios muito inferiores às elevadas médias do mesmo período do ano passado, à obtenção de lucratividades ainda positivas na maior parte dos casos, mas inferiores na comparação com 2022, e à rentabilidade fortemente negativa. Nota se que, em termos de preços recebidos, as médias desses primeiros seis meses do ano estão muito abaixo dos excelentes resultados verificados em igual momento de 2021 e 2022, agora se aproximando das médias históricas. Tomando como base cinco das principais bases de negociação do País, os preços médios deste ano estão de 21 a 22% inferiores ao ano anterior, nas cotações em Reais, e também entre 21 e 22% nas cotações em dólares.”
Isso explica, provavelmente, o atraso na comercialização desta última safra. Até o dia 07/07, apenas 66% da safra brasileira de soja deste ano estava comercializada pelos produtores, diante de 77% em 2022, 91% no recorde de 2020 e 80% na média dos últimos cinco anos.
“A segunda variável mais relevante é a lucratividade bruta, que compara a receita obtida com o custo de produção, que a princípio tende a manter a preferência do produtor brasileiro pela oleaginosa. A despeito do expressivo recuo nos preços e dos maiores custos de produção, o setor mantém lucratividades dominantemente positivas pelo 17º ano consecutivo, embora tenha piorado em relação aos excelentes resultados do ano passado e com expectativa de um pouco mais de declínio até o fechamento do atual ano comercial. Essa situação foi possível devido à obtenção de preços médios, em Reais, ainda acima dos padrões normais e, portanto, remuneradores aos sojicultores, apesar de muito aquém do excelente padrão dos últimos dois anos. Obviamente, grande parte dos produtores gaúchos não estão nesta situação devido a mais uma forte quebra na safra.
O terceiro indicador é a rentabilidade financeira, que considera a soja como uma opção de investimento. O 1º semestre de 2023 apresentou resultados fortemente negativos, muito abaixo do excelente desempenho no mesmo período de 2022, sendo o pior de uma série dos últimos 23 anos. A performance foi muito pior quando comparada com a de outros ativos analisados, em virtude do aumento gradativo da aversão ao risco do mercado. Em outras palavras, guardar a soja para vender mais tarde foi uma péssima opção entre janeiro e junho deste ano. A média de preço da soja no Brasil acumulou perda real (já descontada a inflação) de 29,9%, no acumulado de 2023 até junho. Em igual momento de 2022, a média brasileira estava em +5,71%.
A análise é da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário – CEEMA